Escolhemos correr em Las Vegas porque gostamos da cidade, claro. A data também nos era conveniente e a época do ano garantiria uma temperatura adequada – não haveria risco de sermos surpreendidos por um indesejável calor, como o que ‘derreteu' a Maratona de Chicago, por exemplo. Levamos em conta, ainda, a comodidade de a largada e a chegada ocorrerem no mesmo local, em frente ao hotel Mandalay Bay, onde nos hospedamos.
Largamos com o nascer do sol, precisamente às 6h07, ouvindo "Viva Las Vegas", interpretada por um cover de Elvis, enquanto fogos de artifício coloriam o céu. Os termômetros registravam 7 graus. As primeiras 5 milhas (8 km) são corridas na Las Vegas Boulevard, que todos aqui preferem chamar de Strip, a rua dos hotéis faraônicos, cujas monumentais fachadas podem reproduzir, sem pudor, e quase na mesma escala, a torre Eiffel, o Arco do Triunfo, os canais de Veneza e suas pontes, uma pirâmide etc.
Trata-se do trecho mais animado da prova: público incentivando os corredores e, na terceira milha, apresentação do grupo Blue Man, que esteve recentemente no Brasil, uma das muitas atrações em cartaz na cidade. Outra é o Cirque du Soleil, que ocupa simplesmente cinco teatros com cinco espetáculos distintos: recomendamos o impressionante KA. E não é só. Mais há: Céline Dion, Elton John, os shows Mamma Mia e Fantasma da Ópera, que fizeram sucesso na Broadway, além de outros tantos, incluindo os tradicionais mágicos, que agora preferem ser chamados de ilusionistas.
Metade dos turistas que visita Las Vegas não aposta sequer um centavo de dólar. Quinze mil vieram participar da Meia-Maratona e da Maratona. Las Vegas é a cidade que mais cresce nos Estados Unidos e não seria surpresa se daqui a alguns anos a maratona da cidade dobrasse de tamanho. Dinheiro para tanto não falta. A receita do jogo pode muito bem bancar premiações capazes de atrair a elite profissional e, assim, quiçá, colocar Las Vegas entre as "10 mais" do circuito mundial. Veja-se o exemplo da até então inexpressiva Maratona de Dubai que, em 2008, dará 250 mil dólares a cada um dos vencedores – trata-se do maior prêmio a ser pago a um corredor de maratonas e significa, por exemplo, duas vezes e meia do que levará o ganhador da Maratona de Nova York.
Muito público, nenhum público. As provas de Las Vegas, tanto a Meia quanto a Maratona, são ideais, sobretudo por terem ambas percursos na sua integralidade planos, para quem busca um bom desempenho. Àqueles que gostam de platéia, àqueles que buscam nos gritos de incentivo força para prosseguir, não poderia eu, hoje, recomendar que corram qualquer das provas de Las Vegas, dado que, depois da quinta milha, praticamente não se vê espectadores.
Reitero, todavia, pensar que, dando-se tempo ao tempo, até porque ao tempo que outra coisa se lhe pode dar, como bem disse Millôr Fernandes, a direção da prova irá encontrar os meios para corrigir esse praticamente único, mas para muitos certamente bastante significativo, defeito: falta de público espectador.
Juliana e eu completamos a Meia de Las Vegas, nossa quarta meia-maratona de 2007, em 1:45:40. Ela foi a 16ª colocada em sua categoria. Quanto a mim, fui o melhor na categoria advogado carioca de 38 anos, e de boné azul. Com grande folga, aliás. Daria até para tirar o boné. O importante, sabe-se, é competir, conforme disse certa vez alguém que nunca chegou em primeiro lugar.
No dia seguinte partimos para Nova York, para correr, dia 9, uma prova de 10 km no Central Park, organizada pelo New York Road Runners.