Notícias admin 29 de março de 2015 (0) (129)

Anti-inflamatórios: use, mas não abuse

Recorrer a anti-inflamatórios para prevenir e aliviar a dor é algo comum entre os corredores. Muitos usam os medicamentos indiscriminadamente mesmo sem qualquer sinal de dor ou lesão. Mas uma pesquisa publicada recentemente pelo Centro Médico Erasmus, da Holanda, aponta para um maior risco de arritmia cardíaca entre os que recorrem a estes medicamente rotineiramente.
O estudo acompanhou, desde 1990, a saúde cardíaca de 8.423 pessoas com 55 anos ou mais. Os pesquisadores descobriram que a chance de desenvolver fibrilação atrial é de 84% em usuários de anti-inflamatórios e analgésicos.
Em alguns lugares, o uso abusivo dos medicamentos pelos corredores é motivo de preocupação até entre os organizadores de provas. Na Maratona da Disney, este ano, o manual do corredor, que veio no kit, tinha informações importantes sobre o tema. "Excetuando o paracetamol, evite o uso de anti-inflamatórios nas 24 horas anteriores e até 6 horas após provas de meia maratona em diante. Caso precise utilizá-los fora deste intervalo, mantenha-se muito bem hidratado e sempre reponha sódio. No pós-prova, só os utilize após constatar que sua urina esteja clara."
O cardiologista Fabrício Braga correu a prova e alerta para o uso de medicamentos sem orientação médica, principalmente no caso de quem pratica atividades físicas intensas, como os corredores, que expõe o corpo a condições extenuantes. No caso dos anti-inflamatórios, efeitos colaterais como hiponatremia (redução dos níveis de sódio no organismo) e insuficiência renal, podem ganhar proporções perigosas.
"Os anti-inflamatórios não hormonais, classe de medicamentos que inclui desde o paracetamol e dipirona até o ibuprofeno e celecoxibe (celebra), em grande parte vendidos sem receita médica. Ingeridos em condições de estresse físico podem ter seus efeitos colaterais exacerbados. Atividade física prolongada leva a uma perda considerável de água e sódio no corpo. Na presença da maioria desses medicamentos, a perda de sódio é aumentada podendo acarretar sintomas como náuseas, vômitos e confusão mental. Todos esses medicamentos promovem uma alteração temporária no fluxo sanguíneo renal. A desidratação e a liberação de enzimas musculares inerentes a esforços físicos prolongados podem prejudicar o rim, e durante o efeito dos anti-inflamatórios esse efeito é potencializado", explica o médico

CONFUSÃO. De acordo com Fabrício Braga, há uma confusão sobre o que é uma inflamação e até que ponto um anti-inflamatório tem poder de prevenção. O médico explica que a dor é um dos sinais de inflamação, que pode estar sozinha ou junto de seus outros sintomas, que são o calor, o rubor e o tumor (ou edema).
"Alguns anti-inflamatórios, como dipirona e paracetamol, são antitérmicos, outros, como o ibuprofeno, são analgésicos, proporcionando um efeito de melhor tolerância à dor. Por isso que se mantêm esses medicamentos no pós-operatório de várias cirurgias, mesmo que não haja dor imediata, com intuito de preveni-la. Excetuando-se alguns casos de dor de origem neurológica, a dor é em geral um sinal de inflamação. O que varia é a expressão clínica dos outros sinais e sua intensidade. Alguns casos podem ser resolvidos com uma Novalgina e outros precisam de uma droga mais potente. A forma mais segura é sempre consultar um profissional de saúde".
Médica do exercício e do esporte e coordenadora médica de uma das principais academias do Rio, Silvia Lagrotta lembra que os riscos do uso constante de anti-inflamatórios e até mesmo um simples analgésico podem ir desde um desconforto no estômago, nos casos mais leves, até sangramentos e arritmias cardíacas nos mais graves. Segundo a médica, estes medicamentos só atuam quando o quadro inflamatório ou álgico (de dor) já estiver sido instalados.
"Sem dor ou inflamação, como você vai saber qual lugar irá surgir o desconforto e em qual intensidade? Não podemos usar medicamentos para a prevenção. Eles servem para alívio do quadro agudo ou tratamento nos casos crônicos. Além disso, a dor pode ser um quadro isolado ou consequente inflamatório. Geralmente os analgésicos são usados para situações isoladas de dor, sem estarem associados a um quadro inflamatório, ou quando já se está em uso de anti-inflamatório em doses máximas e ainda existe a presença de dor".
Fabrício Braga lembra que o controle da dor, com o advento dos antibióticos, foi um dos maiores avanços da medicina no século 20. Mas quem pratica atividade física prolongada deve estar atento ao abuso no uso de medicamentos de controle da dor. "Ficar sentindo dor é coisa da nossa tataravó! Todavia quem faz atividade física vigorosa e prolongada tem que ter alguns cuidados com o uso de anti-inflamatórios. Seu uso prolongado é uma causa comum de insuficiência renal crônica. Já tivemos medicamentos dessa classe que foram retirados do mercado porque seu uso prolongado foi associado há uma maior ocorrência de eventos cardiovasculares", completa.
A médica Silvia Lagrotta diz que o organismo pode desenvolver resistência a alguns medicamentos, por isso o seu uso deve ser somente quando necessário. "Em longo prazo, o uso abusivo de medicamentos pode causar lesões crônicas em diferentes partes do corpo. Há também chance de o organismo criar resistência aos medicamentos e você precisar de doses cada vez mais altas para lesões menores, aumentando assim as reações adversas e os efeitos colaterais das superdosagens".

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