O calor é um adversário dos corredores, principalmente em uma maratona. Seja para amadores ou para a elite. O que muda é o ritmo que cada um corre, porém, o sofrimento é o mesmo. Tanto que o desempenho é muito superior no frio, principal fator de atração dos brasileiros para provas como os 42 km de Porto Alegre e os da São Paulo City, mas principalmente para eventos no exterior.
Nos Estados Unidos, o “país das maratonas”, praticamente não há corridas médias e grandes no período do verão. Uma exceção é a Maratona de São Francisco, justamente pelo clima favorável na região mesmo no mês de julho. No entanto, o que muita gente não presta atenção, mas que impacta diretamente na performance, principalmente se aliada ao calor, é a umidade relativa do ar (URA).
Esse foi o tema do mestrado do corredor e professor de Educação Física Matheus Sacchetto, no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Esporte da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais.
O ponto de partida, segundo Sacchetto, foi que em competições de longa duração, como as de corrida de rua, o ambiente tem um papel importante sobre desempenho físico dos atletas. O objetivo foi então avaliar os efeitos da umidade relativa do ar em corridas de 10 km. Os participantes tiveram de correr a distância na maior velocidade possível.
Os exercícios foram realizados sob uma mesma temperatura ambiental (33°C), mas com três diferentes níveis de URA: 39%, 56% e 78%. O tempo total de exercício foi maior na situação de 78% quando comparado às outras, que não foram diferentes entre si. Com a umidade mais alta, a partir do km 6 até o final do exercício, foi observada uma queda na velocidade de corrida em comparação ao km 1 e em comparação às situações de 39% e 56%.
EFEITO NEGATIVO – Durante o exercício físico, um dos fatores que contribui para o desencadeamento da fadiga é o aumento da temperatura corporal interna. Em competições de longa duração, o ambiente tem um papel importante sobre desempenho físico dos atletas, explica Sacchetto ao longo da dissertação.
Segundo ele, “o principal achado do estudo foi que altos índices de URA prejudicam o desempenho físico, sem alterar o desempenho cognitivo em uma corrida de 10 km realizada com intensidade autorregulada. Além disso, os resultados indicam que, mesmo com ajustes na intensidade, ou seja, diminuição na velocidade, houve maior estresse termorregulatório em função do aumento na URA”.
Trazendo para a prática dos leitores, no Brasil (principalmente no caso de meias e maratonas em cidades litorâneas) e até em provas no exterior, como a Maratona de Berlim deste ano (leia cobertura nesta edição), os corredores enfrentam a situação de temperaturas elevadas e alta umidade do ar, próxima ou superior aos 80%. O que fazer?
ESTRATÉGIAS – Sacchetto cita três possibilidades aos corredores, para minimizar esses efeitos negativos do ambiente quente e úmido: 1. aclimatação ao calor; 2. hidratação; 3. estratégias de resfriamento. “Eu acredito muito na aclimatação ao calor”, explica o pesquisador, ou seja, vai fazer uma prova com possibilidade de ser quente, treine em períodos do dia com a temperatura e umidade mais elevadas.
Em relação à hidratação, o ideal seria iniciar a corrida bem hidratado e, ao longo do exercício, beber água de acordo com a sensação de sede, ou seja, sem exageros. E por último, em relação ao resfriamento, essa é uma alternativa que tem tido bons resultados em estudos, porém a aplicabilidade prática ainda é difícil.
SECURA E UMIDADE – De ordem prática, tanto a umidade relativa do ar muito alta como a muito baixa são prejudiciais à performance, em exercícios prolongados. A razão está relacionada à transpiração, que tem o papel de resfriar o corpo, permitindo assim a continuidade da atividade física.
Com a URA elevada, o suor tem dificuldade de sair dos poros da pele, pois encontra situação semelhante no exterior. No caso contrário, a transpiração até acontece, mas rapidamente é anulada pela secura ambiente, não cumprindo, assim, seu papel de resfriar o corpo humano.