Por questões óbvias, aqueles que fazem uma atividade física ao ar livre, em contato direto com a natureza, sentem um certo desconforto em freqüentar um ambiente fechado, com música alta e grande circulação de pessoas. Isso sem falar naqueles que ainda insistem em dizer que esse tipo de treino só vai prejudicar a corrida, deixando-o mais lento ou pesado.
A professora de Educação Física Ligia Bejar, que também é maratonista, desenvolve há mais de dez anos um trabalho de musculação focado para corredores. Segundo ela, muita coisa mudou nesse tempo todo. "A aceitação do corredor hoje é muito melhor e houve também um grande avanço até por conta disso. O aluno tinha medo da musculação e fazia a associação desse tipo de trabalho com fisiculturismo. A primeira coisa que dizia é que não queria virar nenhum Schwarzenegger", comenta a professora, que é coordenadora da Academia Pão de Açúcar e já preparou uma grande quantidade de corredores para enfrentar maratonas pelo mundo afora. Segundo Lígia, o próprio discurso do professor já mudou. "Na época, tentávamos apenas colocar na cabeça das pessoas que esses exercícios eram importantes para minimizar lesões. Já hoje o próprio corredor sente esses benefícios, principalmente na hora de encarar uma subida ou mesmo imprimir um ritmo forte e constante num final de prova."
Ainda que a melhora no rendimento seja mais do que comprovada, continua pequena a quantidade de corredores que consegue colocar em prática um treino sério, regular e planejado, muitas vezes até por não conseguir ou mesmo não gostar de freqüentar uma academia. No entanto, para muitos corredores isso não parece ser um problema e não é motivo para deixar de lado o trabalho de fortalecimento. A solução? Fazer exercícios em casa mesmo, com ou sem a orientação de um profissional.
O maratonista e investigador de polícia David Siqueira de Almeida, de 45 anos, corre há seis anos e sabe muito bem o quanto um trabalho de força bem direcionado pode melhorar sua corrida. Por falta de tempo e até pela dificuldade de deslocamento, ele deixou a academia de lado e há um ano tenta se virar sozinho com uma solução mais adequada e prática à sua rotina de treino. "Utilizo a academia do prédio onde resido para fazer vários exercícios, mas faço também alguns sem auxílio de aparelhos, em casa mesmo, como flexões, abdominais e agachamentos. Treino pelo menos três vezes na semana. Minhas séries são montadas por um personal da própria assessoria que frequento, o que de certa forma é bom, porque os treinos se encaixam", comenta David, que diz ainda preferir se exercitar sozinho para poder se concentrar melhor nos movimentos.
Outro que tentou por várias vezes freqüentar uma academia e hoje é adepto do treino em casa é o promotor de eventos Isildo Ferreira Cardoso, de Campinas. "Fiz academia inúmeras vezes de forma muito desregrada, mas quando participava com regularidade sempre via resultados", comenta o atleta, que tem 35 anos e hoje procura seguir seu próprio método para conseguir complementar seus treinos regulares de corrida com duas ou três sessões de exercícios ao longo da semana.
DISCIPLINA É FUNDAMENTAL. Mesmo assim, Isildo admite ainda que é muito difícil manter a tal regularidade necessária. "Comprei alguns acessórios para ter em casa, como uma bola, alguns pesinhos e um kit de borracha. Tento a todo custo manter a disciplina, mas confesso que é difícil. Às vezes procuro fazer as coisas logo depois do treino, principalmente abdominais, flexão e alguns exercícios para pernas, como agachamento e avanço." A grande dificuldade apontada por Isildo é ter força de vontade e disciplina. "Já comecei e terminei várias vezes. E sempre que vou retornar é uma tortura, porque é necessária uma nova adaptação à corrida. E aí as dores são sempre chatas, porque vão e voltam. Mas eu tento mesmo assim, porque sei da importância", complementa.
Se você se enquadra nesse tipo de perfil, escolhemos alguns acessórios e, com a ajuda da professora Lígia Bejar, indicamos exercícios que vão ajudá-lo a montar sua própria academia e facilitar de vez a sua vida. Se não quiser gastar absolutamente nada, não há problema. Aqui você terá também alguns movimentos que podem ser feitos com o auxílio de objetos da sua própria casa, como cadeira, banco, escada e até cabo de vassoura. Escolha o quanto quer ou não gastar, quais exercícios prefere fazer e mãos à obra!