POR NELTON ARAÚJO
A São Silvestre foi realizada pela primeira vez em 31 de dezembro de 1925. A prova foi idealizada pelo jornalista Cásper Líbero, embora tenha encontrado apoio fundamental dos também jornalistas Hermano Arruda e Leopoldo Sant’Anna. O dono do jornal A Gazeta quis realizar no Brasil algo que ele tinha visto no ano anterior, em sua visita a Paris: uma corrida noturna. Não se sabe exatamente que competição foi essa: alguns dizem que era uma na qual seus participantes chegavam com tochas, mas é mais provável que tenha sido a Maratona Olímpica de Paris, cuja prova terminou à noite, à luz de archotes, como informou Caetano Carlos Paiolli, que trabalhou mais de 50 anos na A Gazeta Esportiva.
Essa primeira edição contou com 60 atletas saindo do Parque Trianon às 23h40, percorrendo 8,8 km pelas ruas do centro de São Paulo, tais como a famosa Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, o Largo do Riachuelo, a Avenida São João, e terminando não na Avenida Paulista, mas em frente à Associação Atlética São Paulo, na zona norte da cidade.
Em seus primórdios, era exclusivamente nacional, masculina, seletiva e que não contava com a adesão do público, pelo contrário. O mesmo Caetano Paiolli informa que a sociedade reagiu à realização da corrida com um misto de espanto e repulsa, “porque o evento representava uma ameaça ao tradicional clima emotivo de 1° de janeiro”. É lendária a história de que o vencedor da segunda edição da São Silvestre, Jorge Mancebo, não participou da primeira edição porque a família o proibiu. Mas, apesar de tal desconfiança, ela continuou sendo realizada, e os jornais, com notas tímidas, começavam a elogiá-la, vendo a distribuição de medalhas de bronze àqueles que chegassem até 5 minutos depois do vencedor, uma ação que poderia influir grandemente na prática do atletismo.
Depois de três anos sendo realizada num percurso de 6,2 km, em 1928, a prova começa a crescer na quantidade de inscritos e retorna aos 8,8 km inciais, agora saindo do Monumento Olavo Bilac, na Avenida Paulista, e chegando ora em frente ao Portão do Clube de Regatas Tietê ou mesmo dentro da pista de atletismo do Clube Espéria, tradicionais agremiações paulistanas localizadas às margens do Rio Tietê.
Esse percurso sofreu algumas variações ao longo da fase nacional, sendo o ponto de largada alterado algumas vezes. A única coisa inalterável na São Silvestre da época era o turno em que ocorria: sempre à noite, entre 23h30 e 23h45.
Desde sua criação, em 1925, e durante 20 edições, a Corrida de São Silvestre reuniu apenas atletas nacionais ou radicados no país. A chamada “Fase Nacional”, entretanto, já apresentava a magia e a empolgação que a transformariam na maior corrida de rua da América Latina.
PRIMEIRO CAMPEÃO E MAIORES VENCEDORES DA FASE NACIONAL
A história da São Silvestre é repleta de personagens incríveis e que contribuíram para o fortalecimento da modalidade no país. O primeiro campeão e que eternizou seu nome na enorme galeria de destaques na história da prova foi Alfredo Gomes, que percorreu os 8,8 km do percurso por ruas da cidade com o tempo de 33min21s.
Mas os maiores vencedores da fase nacional foram os tricampeões Nestor Gomes, em 1932, 1933 e 1935, e Joaquim Gonçalves da Silva, que subiu ao topo do pódio nas três últimas edições da fase nacional, 1942, 1943 e 1944.
Na lista de ganhadores ainda figura um “estrangeiro”. O ítalo-brasileiro radicado no país, Heitor Blasi, também brilhou na Corrida de São Silvestre, garantindo as vitórias em 1927 e 1929. Mario de Oliveira, em 1936 e 1937, também se destacou ao conquistar um bicampeonato da competição.
A lista completa de campeões na Fase Nacional é a seguinte:
1925 – Alfredo Gomes (Brasil), 33min21s – 8,8 km
1926 – Jorge Mancebo (Brasil), 22m35s3 – 6,2 km
1927 – Heitor Blasi (Itália), 23min – 6,2 km
1928 – Salim Maluf (Brasil), 29m11s2 – 6,2 km
1929 – Heitor Blasi (Itália), 28min39s2 – 8,8 km
1930 – Murilo de Araújo (Brasil), 25min35s2 – 8,8 km
1931 – José Agnello (Brasil), 26min05s3 – 8,2 km
1932 – Nestor Gomes (Brasil), 25min23s02 – 8,8 km
1933 – Nestor Gomes (Brasil), 23min50s06 – 8,8 km
1934 – Alfredo Carletti (Brasil), 24min10s2 – 7,6 km
1935 – Nestor Gomes (Brasil), 23min51s – 7,6 km
1936 – Mario de Oliveira (Brasil), 23min26s04 – 7,6 km
1937 – Mario de Oliveira (Brasil), 23min50s – 7,6 km
1938 – Lucas Henrique (Brasil), 23m38s4 – 7,6 km
1939 – Luiz Del Greco (Brasil), 24m50s4 – 7 km
1940 – Antônio Alves (Brasil), 22m14s – 7 km
1941 – José T. dos Santos (Brasil), 22min12s – 7 km
1942 – Joaquim G. da Silva (Brasil), 17min02s06 – 5,5 km
1943 – Joaquim G. da Silva (Brasil), 17min31s – 5,5 km
1944 – Joaquim G. da Silva (Brasil), 17min40s02 – 5,5 km
Mestre em História pela UERJ, especialista em história das corridas de rua. Colunista da Contra-relógio desde 2013 e corredor (bem) amador.