Notícias admin 11 de julho de 2011 (0) (71)

A nova sensação de Nova York

A manhã do dia 20 de março amanheceu fria em Manhattan para a realização da Meia-Maratona de Nova York, que contou com a participação de 10.195 corredores. Com uma temperatura de 2 graus e sensação térmica abaixo de zero, grandes nomes do atletismo mundial se alinharam no Central Park para a largada da prova, que aconteceu pontualmente às 7h30, prometendo uma disputa acuradíssima. Mesmo com seis atletas com marcas inferiores a 1h01 nos 21 km, como os norte-americanos Ryan Hall e Abdi Abdirahman, o etíope Gebre Gebremariam, os quenianos Peter Kamais e Moses Kigen Kipkosgei e o brasileiro Marilson Gomes dos Santos, quem levou a melhor foi um estreante na distância, o britânico Mo Farah, que venceu a competição com o tempo de 1:00:23. No feminino, recorde da prova para a queniana Caroline Rotich, que fechou o percurso em 1:08:52.   Já Marilson, que se manteve no pelotão dos líderes até o km 15, acabou sentindo o ritmo forte imposto pelos atletas mais rápidos na parte final da prova e finalizou a competição no tempo planejado, com 1:01:23, na 8ª colocação. Embora não tenha ficado satisfeito com a posição, o brasileiro, que se prepara para encarar a Maratona de Londres, dia 17 deste mês, onde tentará baixar sua marca pessoal na distância, ficou satisfeito com o tempo final: "A marca foi dentro do previsto e estou feliz com o momento que estou passando. Agora é dar seqüência aos treinos e tentar melhorar meu tempo na maratona, que é meu maior objetivo em Londres."

 

RECORDE PESSOAL. Apesar de a Meia-Maratona de Nova York ter fama de dura, grande quantidade de brasileiros ao final da prova comemorava o recorde pessoal na distância. É o caso do capixaba Matheus Procópio, de 19 anos, que correu os 21 km em 1h25, dentro do tempo estabelecido como meta. "Fiz cinco meias no Rio de Janeiro e em nenhuma consegui terminar no tempo que queria. Aqui foi perfeito. Deu tudo certo. Apesar da temperatura muito baixa, o frio também favoreceu a melhorar o rendimento", comemorava após a prova. Para o corredor, que teve sua primeira experiência de competição internacional, o evento foi impecável e o que mais chamou atenção ao longo do percurso foi a saída do Central Park e entrada triunfante na Times Square, parte em descida, entre os km 13 e 15. "O público ali era empolgante e nos empurrava para a frente. Eu já estava bem cansado e diminuindo o ritmo e acabei ganhando um fôlego a mais para ir até o final."    Outro brasileiro que ficou feliz com o resultado foi o engenheiro carioca Alexandre Almeida, de 51 anos. Corredor desde a década de 80 e com um incontável número de maratonas no currículo, inclusive oito só em Nova York, Alexandre aprovou o evento e conseguiu correr a prova até abaixo da expectativa. "Esperava algo em torno de 1h32 e acabei fazendo 1h29; achei até que tinha errado o ritmo, mas a coisa começou a fluir e resolvi apostar no que estava fazendo. Apesar das várias subidas no Central Park, o circuito tem uma tendência de descida e é mais fácil do que eu imaginava. Deu para fazer um ritmo progressivo, mesmo porque a primeira parte é mais travada e a final bem rápida." Alexandre considerou o evento, comandado pelo mesmo clube de corredores que faz a maratona da cidade, modesto, mas bem organizado. "Acho que essa prova tem tudo para crescer ainda mais, principalmente se apostarem nos estrangeiros, como acontece com a maratona."  Um grupo bem animado ao final da competição era o de Brasília, com 14 pessoas no total e a maioria muito feliz com o resultado e com a surpreendente organização da prova, definida por muitos como impecável. O médico Jamilson Bandeira, de 41 anos, só tinha pontos positivos para destacar do evento. "Achei excelente o percurso é tudo perfeito. Consegui bater meu recorde aqui, terminando em 1h36. Havia apenas duas subidas maiores no Central Park, mas quando saímos do parque descendo foi só alegria. Deu para terminar forte."  

 

BRASILEIRAS EM DESTAQUE. Como vem acontecendo em várias provas nos Estados Unidos, em que as mulheres têm tido participação de mais de 50% no total dos inscritos, principalmente nas meias-maratonas, em Nova York não foi diferente; dos 10.195 concluintes, 5.436 eram mulheres. Com uma premiação de categoria que aponta os 10 melhores na faixa etária, três brasileiras conseguiram se destacar. Ana Luiza Garcez, de SP, foi a 5ª na categoria 45/49, com 1h29, Lisis Risi, do Rio, fechou a prova em 2h02 (9ª em sua faixa 60/64) e também na 9ª posição ficou a santista Elete Rosa (65/69), com 2h28.

UM SONHO REALIZADO

 Desde que a primeira edição da Meia de Nova York foi realizada, em 2006, que sonho em participar desta prova. Depois de várias tentativas, a oportunidade surgiu meio por acaso, após um ano tumultuado, em que todas as minhas expectativas de conseguir correr Boston com índice em 2011 foram deixadas para trás por causa de uma lesão na costela e algumas outras complicações no ciático, que me mantiveram por algum tempo longe das corridas. Com isso, a Meia de Nova York caiu como uma luva, embora eu soubesse que tinha muito pouco tempo de treino até a prova.

Depois de três meses quase parada e pelo menos mais dois para correr sem dor, consegui voltar a rotina de treinos no final de janeiro. Como toda volta é difícil e me valendo da minha profissão de jornalista e fotógrafa, confesso que em muitos momentos pensei em trocar a participação na Meia de NY por uma cobertura, situação recorrente em 2010. Mas não! O desejo de correr essa prova era muito mais forte e, mesmo certa de que não conseguiria fazer meu melhor, resolvi encarar o desafio. Na minha cabeça, 1h50 seria um tempo aceitável, embora meu técnico, Wanderlei de Oliveira, acreditasse que eu poderia correr em torno de 1h48.    Cheguei a Nova York na quinta-feira e, depois de pegar minha credencial de imprensa, obter algumas informações sobre a prova e levar um bate-papo com Marilson e seu técnico Adauto, procurei esquecer de tudo e lembrar que eu estava ali para correr. Segui então adiante na minha programação de corredora. A próxima parada seria retirar meu kit de corrida na Expo, uma feira simples, modesta, mas bem organizada. A partir de então, não havia mais nada a fazer a não ser não andar muito pelas ruas de Manhattan e esperar pelo grande dia. 

O dia amanheceu frio no domingo. Ainda que os termômetros registrassem uma temperatura de 2 graus, a sensação térmica era com certeza negativa. Organizada em 15 currais, conforme nível técnico, a largada, dada após o hino nacional americano, foi sem atropelos e muito tranqüila. Larguei no baia 2 e, com menos de 1 minuto de prova, já estava passando pelo tapete do chip de cronometragem, que daria meu tempo real.  Ainda que tivesse muitas informações de que essa meia era difícil, com muitos aclives e declives até a milha 8, quando o percurso deixa o Central Park, as primeiras milhas me mostraram uma situação um pouco diferente do que eu esperava. Era um percurso técnico, com bastante variação, mas com muito mais trechos em declive do que em aclive, exceto entre as milhas 4 e 6, onde há duas subidas um pouco mais pesadas, daquelas que não conseguimos enxergar o fim. Mesmo assim, ouvindo as recomendações de quem já havia corrido a prova, resolvi segurar, mantendo-me num ritmo um pouco mais confortável. 

A prova foi transcorrendo sem maiores problemas e fui curtindo o visual de fim de inverno do parque, muito diferente daquele que temos na maratona, realizada em pleno outono, em que o colorido das folhas dão uma cor especial ao cenário. Tentei por várias vezes puxar lembranças das minhas cinco participações na maratona, mas foi em vão. Era outra prova, completamente diferente e nada vinha a minha memória. Depois de uma volta completa no Central Park, veio enfim a parte mais esperada do percurso, a entrada pela 7ª Avenida e passagem na Times Square, onde o incentivo do público é de arrepiar, com várias bandas alinhadas na avenida.

Empolgada com aquele cenário todo iluminado e também com o trecho em descida, apertei o ritmo involuntariamente. Depois de praticamente 1 milha em descida, o percurso segue pela 42 Street, rua que dá acesso a 12ª Avenida, passando a beirar o famoso Rio Hudson, onde transcorre as 3 milhas (4,8 km) finais da prova. Segui em frente em ritmo mais forte e finalizei os 21 km na Baixa Manhattan, perto do Battery Park, com vista para a Estátua da Liberdade, em 1h48 e a vontade de voltar para Nova York no próximo ano para correr novamente essa meia, que não chega a ser tão contagiante quanto a maratona, mas com certeza tem seu brilho particular. (Fernanda Paradizo)

 

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