Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (96)

A meia-maratona fria e encantadora de Praga

Com 8.500 inscritos a Meia-Maratona de Praga bateu seu recorde na edição de 2010, que se realizou no gelado sábado 27 de março. Ainda é uma prova pequena, mas com crescimento significativo se pensarmos em uma corrida que teve a primeira edição há apenas 11 anos, com menos de mil participantes.

A meta dos organizadores era um outro recorde também: que o vencedor completasse em menos de 1 hora. Para isso, neste ano fizeram pequenas alterações no percurso a fim de torná-lo mais rápido, sem abrir mão da beleza do trajeto. De qualquer forma, os paralelepípedos do caminho também não ajudam muito na velocidade, mas quem consegue implicar com alguma coisa quando se está correndo em Praga, uma das cidades mais lindas do mundo?

O forte vento do dia da corrida (cerca de 20 km/h) também prejudicou e o primeiro lugar fechou em 1:00:09, dois segundos acima do recorde da prova, obtido em 2009. Um dia antes, sob calor e sol forte, o queniano vencedor Joel Kemboi Kimurer mostrava-se preocupado com a reviravolta do clima e o frio de 7ºC previstos (e verificados) para o sábado.

Se havia alguém tranquilo com o frio era Paul Rietzschel, um senhor de 73 anos que faz com que qualquer um se envergonhe de ter preguiça de treinar de vez em quando. Ele, que fechou a meia em 2h15, já chegou a treinar com -15ºC no Canadá, onde mora, em Ste Anne des Plaines. Foi sua primeira corrida na capital da República Tcheca. "Passei um dia rapidamente pela cidade e fiz apenas um city tour. Naquele momento, tive certeza de que precisava voltar para cá. E, já que voltaria para essa linda cidade, seria correndo", conta o respeitável senhor cuja melhor marca em maratonas é 2h57, em Montreal, quando tinha 50 anos, em um desempenho invejável especialmente para a repórter, que com muito menos idade seria deixada facilmente para trás.

Rietzschel, que se intitula fotógrafo da vida selvagem, começou a correr aos 35 anos. Antes disso, era adepto do ciclismo. "Depois de três acidentes resolvi que comprar um tênis e correr era muito mais barato e seguro", conta ele, lembrando-se que antes de ir embora precisava verificar se havia conquistado o troféu na faixa etária. "Eu sempre vou para casa e esqueço que na minha idade são poucos correndo. Depois, o pessoal precisa correr atrás de mim para tentar entregar", diz, rindo, e já emendando que antes de voltar ao Canadá participaria de uma corrida de aventura de três dias em outra cidade da República Tcheca.

PROVA "DOURADA". Com largada épica ao som de uma sinfonia de Smetana (um dos maiores compositores do país) e início ao meio dia – o que já dá um indicativo do frio dessa época do ano, percorremos os 21 km pelas ruas mágicas de Praga. O nome da parte tocada da sinfonia é Vltava, nome do rio que atravessa a cidade e que acompanha os corredores por quase todo o trajeto.

Pelo fato da prova ser realizada ao meio dia, isso faz com que a cidade sinta-se envolvida e possa ter um bom público incentivador em quase toda o caminho. Como também há a prova de revezamento, a cada 5 km há bastante concentração de pessoas nos pontos de troca e sempre gente nova entrando com gás próximo a você, o que ajuda a criar um incentivo extra para imprimir um ritmo mais forte às passadas nos momentos de cansaço, assim como as muitas bandas e músicos distribuídos pela corrida, com direito até a uma batucada brasileira logo após as primeiras passadas.

A largada e a chegada são no Rudolfinum, prédio neo renascentista de 1885, casa da orquestra filarmônica de Praga, com o fim particularmente muito emocionante, quando o corredor alcança o pórtico final da prova por meio de uma bela ponte. E a surpresa, quando recebe a foto da chegada dos sites especializados, é o Castelo de Praga ao fundo.

Em novembro passado, a meia da "Cidade Dourada" conquistou o Golden Label da IAAF, a Associação Internacional de Atletismo. E, de fato, a organização da prova é bastante primorosa. Neste ano houve inclusive uma modificação que facilitou a vida dos corredores. Diferentemente dos outros anos, não era preciso pagar um depósito para receber o chip e receber o valor na devolução. Ele já vinha acoplado atrás do número de peito e era simplesmente devolvido ao fim da prova. "No chip, no time", repetiam os estafes.

Os pontos de hidratação estavam no km 5, 10 e 16, dos dois lados da rua, o que evitava maiores atropelos. Ao fim da prova, tempo recebido no celular e gravação imediata nas medalhas, apesar de alguns corredores terem tido dificuldade com isso (a organização garantiu que o problema se restringiu a 2% dos concluintes).

O kit era composto por mochila e uma camiseta de boa qualidade, entregues na modesta feira da prova, em que também era possível realizar inscrições até a véspera.

PARTES DO TODO. Perucas coloridas, turbantes indianos, carrinhos de bebês e fantasias. Como em toda boa prova, havia de tudo. Bhagwant Singh Sandhu correu de turbante. O indiano mora em Praga há muitos anos e estava feliz por ter completado a prova tendo apenas 40 dias de treino.

Com suas perucas coloridas, pai e filho italianos voltavam a pé da corrida para o hotel. Enzo, 58, e Luca Concoreggi, 31, eram só sorrisos. Luca já havia participado da prova antes e dessa vez trouxe o pai para correr. "Sempre quis correr aqui, é uma cidade belíssima", bradava o simpático milanês. "Pode nos esperar no próximo ano novamente", completava o filho. E mostravam as medalhas, tiravam fotos e seguiam felizes.

No departamento verde-amarelo, eram 21 brasileiros na corrida, sendo 10 homens e 11 mulheres. A melhor colocada brasileira foi Fabiana Garpelli, 37 anos, em 1h48, que quase não consegue participar da corrida.

Antes de Praga, ela estava com a família na Itália e teve os passaportes roubados junto com a bolsa em Bergamo, dias antes da prova. "Parecia que o sonho de correr a meia maratona tinha acabado ali no aeroporto em meio a muita tristeza de todos", contou o irmão, que correu também.

Fabiana retornou a Milão para procurar o consulado brasileiro e conseguiu obter o passaporte em tempo.

Ela, que é enfermeira-chefe da UTI de ortopedia do Hospital das Clínicas em São Paulo, estava com o irmão, o advogado Sérgio, 45 anos, assinante de Laranjal Paulista. Ele estava pela terceira vez na cidade especialmente para a corrida e para comemorar um ano de casado.

"Estive em Praga pela primeira vez em 2007 e me apaixonei pela cidade, uma das mais belas cidades da Europa, com sua arquitetura medieval com castelos, igrejas, cemitérios, pontes, ruas e casas históricas intactas até hoje. Havia me programado para participar da meia do ano passado, coincidindo com minha lua de mel, mas minha irmã caçula sofreu um acidente e o casamento teve que ser adiado. Então quando cheguei aqui era tarde demais para a corrida, mas o sonho de correr a meia-maratona por essas ruas continuou. Apesar do frio, foi com certeza a melhor meia-maratona que corri, tendo alcançado meu recorde pessoal, 1h55. Gostei muito da organização, desde a entrega do kit à hidratação com chá quente por causa do frio, além de água, isotônico e frutas no percurso. E o site da prova também é muito completo, com fotos, vídeo e certificado de participação", enaltece.

No total, a corrida teve 6.162 concluintes, sendo 1.423 mulheres e 4.739 homens. Mais detalhes no site www.praguemarathon.com

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