Você com certeza é fascinado por tênis, como são todos os corredores. Esperamos duas vezes por ano com ansiedade o "Guia do Tênis" da Contra-Relogio, em abril e outubro, para nos inteirar das novidades. É o principal papo nas nossas rodinhas pré e pós-treino. Muitos se despedem de um tênis inutilizável como se fosse de um ente querido. Outros acumulam e colecionam pares e pares dos seus modelos prediletos. É considerado o artigo fundamental para a obtenção de recordes, sejam os pessoais ou – no imaginário de muitos – o mundial. É uma relação que – para muitos – beira o fetichismo. Contudo, como chegamos até aqui? Como foi a trajetória evolutiva dos tênis, seja tecnologicamente, seja na relação que temos com eles, nesses quase 60 anos em que a corrida se popularizou?
• 1966-1970: os primeiros modelos
Se qualquer pessoa hoje tem pelo menos um par de tênis em casa, isso não era o padrão até algumas décadas atrás. Predominavam ainda os sapatos sociais, no máximo o que chamamos hoje de "sapatênis": calçados formais com uma sola mais confortável de borracha. Tênis eram voltados para a esfera esportiva e a indústria dos de corrida só surgiu com a popularização do jogging (como se chamava a corrida amadora nos primeiros tempos). Isso teve lugar e data: nos Estados Unidos na década de 1960.
Mas com que os atletas corriam antes dessa data? Bem, se você fosse de nível olímpico, poderia se dar ao luxo de encomendar um modelo parecido com as sapatilhas do atletismo de pista, mas sem os pinos e com um pouco mais de revestimento na sola. Mas ainda eram modelos incômodos para quem pretendesse correr médias e longas distâncias, por serem rígidos e estreitos. Já se você fosse um iniciante no jogging, buscaria na loja de calçados o modelo com um pouco mais do que podemos chamar amortecimento para a época e alguma elasticidade. Mas as opções eram raras e os tênis continuavam sendo pesados e rígidos.
Então, havia uma demanda sedenta a abraçar a quem viesse oferecer um modelo com um pouco mais de conforto. E isso aconteceu logo no início dos anos 1960: a empresa americana New Balance lançou o modelo NB Trackster (foto 1), considerado o primeiro tênis específico para a corrida. Embora com o cabedal constituído de couro, era um modelo mais leve e mais largo que os demais, e com um solado de borracha rígida, cortadas em diagonais, visando cumprir o que dele era anunciado: o calçado "ideal para correr em qualquer superfície" e, ao mesmo tempo, valorizava suas "características especiais desenvolvidas para dar máxima performance" . Como esperado, a marca logo assumiu o domínio do novo mercado.
Não tardou para que outras empresas se voltassem para esse nicho, como a todo-poderosa Adidas, que já tinha experiência em oferecer calçados a atletas, como o tetracampeão olímpico Jesse Owens em 1936 e para o etíope Abebe Bikila na maratona olímpica de Roma, em 1960. Como a história nos conta, o etíope não se adaptou bem ao calçado da empresa alemã e preferiu o conforto de correr descalço, ganhando de maneira icônica o ouro olímpico.
Quatro anos depois, o mesmo Bikila chegava ao Estádio Olímpico de Tóquio, completando a maratona olímpica em 2:12:11 e pulverizando o recorde mundial em mais de três minutos. O que causou mais estranheza aos espectadores de todo mundo era que ele estava de tênis! E não era um Adidas, ou de sua irmã – e maior rival – Puma, mas sim da até então desconhecida empresa japonesa Onitsuka Tiger. E muito embora o seu fundador, o ex-militar japonês Kihachiro Onitsuka, tivesse conseguido realizar a proeza de convencer o etíope a correr com seu modelo, o mesmo não tinha ambições maiores do que o mercado japonês.
Os principais modelos da Onitsuka Tiger só vieram para o mercado americano por conta de uma pequena startup, a Blue Ribbon Sports, que passou a ser a importadora oficial da fabricante japonesa. Certamente você conhece essas empresas. A Blue Ribbon Sports, fundada pelo empresário por Phil Knight e o treinador Bill Bowerman, anos depois seria rebatizada com o nome que todos nós conhecemos – Nike, em referência à deusa da mitologia grega que representa a vitória. De igual modo, depois de uma fusão com outras empresas do ramo em 1977, a Onitsuka Tiger passou a ser chamada de Asics (acrônimo da frase do poeta romano Juvenal "Anima Sana In Corpore Sano", que significa "uma mente sã num corpo são").
Seu principal modelo, o Tiger Onitsuka Marathon (foto 2), logo se tornou uma febre entre os corredores norte-americanos. O calçado possuía uma inovação voltada: o revestimento emborrachado da entressola, propiciando uma pisada mais confortável. Consagrou-se como o tênis da década, calçando, igualmente, desde o corredor iniciante, até o vencedor da Maratona de Boston de 1968, o americano Amby Burfoot, que foi pessoalmente à loja comprar o par que calçou na maratona mais tradicional da História.
O fato de o Tiger Marathon ter caído no gosto popular mostrou que os corredores na década de 1960 buscavam conforto, pois este era leve, e flexibilidade, dando uma sensação inédita até então: a de correr descalço.
• 1971-1981: O AMORTECIMENTO É A BOLA DA VEZ
Na virada para a década seguinte, em parceria com o treinador Bill Bowerman – já renomado por trazer as bases do jogging, bem como ser o técnico da sensação do atletismo americano, Steve Prefontaine – a empresa japonesa lançava seu modelo Onitsuka Tiger Corsair, oferecendo um "real sistema de amortecimento", como uma entressola de borracha como se fosse uma grande esponja na região do calcanhar, com objetivo de absorver o impacto e reduzir o estresse sobre o tendão de Aquiles.
Mas o modelo não chegou a vir para o mercado americano, pois Bowerman e Phil Knight tinham rompido com a Onitsuka Tiger e rebatizado sua empresa para Nike. E em 1972 foi lançado o mais emblemático modelo da marca, cujo símbolo representa a asa da deusa da vitória (e não o sinal de correto, como pensam alguns): o Nike Corsair, que era – e pelo nome já dá para perceber – exatamente igual ao modelo da Onitsuka.
Como Bowerman participou do processo criativo do tênis da Onitsuka, considerou que tinha direitos sobre o modelo, e copiou o projeto do Corsair para a criação do tênis de sua empresa. O caso foi parar na justiça, que decidiu que ambos detinham o direito de produzir o tênis, só que a fabricante americana teria que rebatizar seu modelo, chamando-o de Nike Cortez. (3)
Polêmicas à parte, o Nike Cortez foi o ícone de uma geração, seja ela praticante de corrida ou não. Seu design é mantido, com pequenas alterações de material, e vendido até hoje. Talvez você não tenha percebido, mas é o modelo que Forest Gump (sim, o do filme homônimo) ganha de presente, nas famosas cenas nas quais ele corre por todo os Estados Unidos. E a principal consequência de sua popularidade foi que os corredores passaram a desejar tênis com mais amortecimento, mesmo que com isso estes deixassem de dar a sensação de correr descalço que o Tiger Marathon propiciava.
Não demorou muito para que outras empresas percebessem tal tendência e buscassem formas de aperfeiçoar esse sistema de amortecimento. A empresa Brooks já estava no mercado desde os anos 1950 produzindo calçados para outros esportes e resolveu entrar no mercado do running. Seu presidente, Jerry Turner, não era corredor, nem tinha aspirações de praticar o esporte. Mas sabia o que os corredores queriam. Foi até uma empresa de borracha e derivados, e disse que queria material para produzir um modelo com maior retorno e absorção de impacto, mas que não deixasse o calçado tão pesado. A empresa tinha o material que ia ao encontro dos desejos do presidente da Brooks: o EVA. O etil vinil acetato é até hoje o principal ingrediente na construção da maioria dos tênis de corrida.
Logo, em 1975, a Brooks lançou o seu modelo Villanova (4), que tirou os holofotes do Nike Cortez. O material foi abraçado imediatamente por outras empresas, tornando-se padrão de excelência. Além do amortecimento, que chegou ao ápice com o uso generalizado do EVA por todas as empresas do ramo, outra principal inovação da época foi o formato da sola dos tênis. E aí o que parece anedota é verdadeiro.
Procurando por um modelo que propiciasse mais flexibilidade que as solas de borracha dura, cortadas na diagonal, Bill Bowerman pegou pedaços de borracha de sua garagem, a máquina waflles de sua esposa na cozinha, prensou a borracha na máquina, recortou do tamanho da sola dos tênis e, por fim, colou. Foi uma gambiarra logo aprovada pelos seus atletas e depois difundida como padrão dentro da Nike. A "sola de waffle" (5) definiu não só o nível de aderência dos calçados de corrida, mas também as suas características de flexibilidade, e aperfeiçoava o novo sistema de amortecimento.
De forma definitiva, a tecnologia de ponta da época abraçava a construção dos tênis de corrida. Seus anúncios tentavam seduzir o corredor pelas qualidades técnicas de seu modelo. Mas as empresas não ficavam apenas dentro do laboratório, observando sempre as transformações internas da corrida de rua. Assim foi que, percebendo o crescimento vertiginoso da participação feminina nas competições, criaram modelos específicos para as necessidades das mulheres, que até então tinham que se contentar em comprar versões menores, e geralmente pintadas de rosa pink, dos modelos masculinos.
• 1982-2003: A "Era do Controle"
Você deve estar se perguntando em que parte da história os tênis passam a ser definidos como pronados, neutros ou supinados. Bem, surge no início da década de 1980, mais precisamente em 1982. Mas, antes, vamos voltar alguns anos. Na década de 1970, o aumento de novos praticantes de corrida de rua levou ao círculo vicioso de querer correr mais quilômetros, mais vezes e mais rápido.
Como a linha que divide a lesão da performance é tênue, e uma vez que os tênis eram os principais elementos para o desempenho, você já deve imaginar que caiu na conta dos calçados serem os principais responsáveis pelo aumento de lesões, em uma atividade de alto impacto quanto a corrida. O amortecimento já não era suficiente em si: ortopedistas palpitavam nas revistas do ramo, afirmando que também se fazia necessário controlar a rotação do pé dentro do calçado, seja "para dentro" (daí vem a pronação) ou, em menor grau, com o pé girando "para fora" (a supinação).
Com base nisso, a Brooks lançou, em 1977, seu modelo Brooks Vantage (6), que logo se destacou por conta desse incipiente controle interno do pé e tornou-se o campeão de vendas naquele ano, já prevendo uma tendência que viria posteriormente. No mesmo ano do lançamento do Vantage, o ortopedista americano Steven Subotnick, autor do livro "Cures for Common Running Injuries" (Cura para lesões comuns de corrida), referência de lesões nesse período, inseriu uma nota onde sugestionava o uso de tênis pronados.
Ok, voltemos a 1982. Apesar do sucesso de vendas, o Vantage era ainda o único tênis que possuía um controle estabilizador no mercado. Porém, naquele ano foram lançados os tênis Tiger X-Caliber GT (7) e do Brooks Chariot (8), que foram dois modelos tão revolucionários e populares quanto o Nike Cortez. Seu sucesso pode ser visto até nos dias de hoje, já que ambos modelos permanecem no mercado de corrida (ao contrário do Cortez, que se tornou um tênis casual): o X-Caliber foi rebatizado como "Asics Kayano" e o Chariot para "Brooks Beast" – embora esta marca e seus modelos não possuam penetração no mercado brasileiro.
A principal inovação estava na inserção de um "pilar estabilizador", uma placa rígida ao lado do arco do calcanhar. Se nos anos 1960 os corredores queriam leveza e conforto, e na década seguinte buscavam tênis com bom amortecimento, entre 1982 até 2003 predominou a estabilidade do tênis, com o controle do movimento. Era o que chamamos de "era do controle", uma vez que a relação entre pronação e lesão parecia evidente e usar um tênis pronado era como um míope usar óculos corretivos.
Os guias de tênis da época passaram a apresentar os modelos usando categorias como "Controle de Movimento", "Estabilidade" e "Leveza", sempre apontando se o tênis era para pessoas que tinham pisada pronada, em menor grau supinada, e ainda menor quantidade para os tênis que persistiam em ser "neutros". E igualmente os termos entraram no vocabulário do corredor, assim como o fez ser extremamente cauteloso com a quantidade de quilômetros que corria com um tênis, não se importando se, para isso, tivesse que ter mais pares de calçados. No mínimo, um para rodagens leves, outro para os estímulos de velocidade, e outro para os longos, nunca rodando com o mesmo tênis mais de dois dias seguidos.
A indústria do tênis entrava numa nova era, saindo da esfera meramente esportiva e tornando-se um objeto socialmente desejado, a principal forma de se conectar aos seus ídolos. A emergente cultura hip-hop incitava a aquisição de tênis Adidas e Puma no vestuário padrão. Os fãs de Magic Johnson e Larry Bird, da NBA, compravam os modelos All Star de cano longo que eles usavam.
Mas foi com a criação do Nike Air Jordan, que os tênis – inclusive os específicos de corrida – passaram para a parte da frente das lojas de calçados. Sabe aquela história de que "Proibido é mais gostoso?". Pois bem, com Air Jordan foi assim. Nos idos de 1985, a NBA permitia apenas tênis discretos, predominantemente pretos ou brancos, mas foi feito um tênis especial para Michael Jordan, já astro do Chicago Bulls, e que estampava o vermelho de sua equipe.
A liga proibiu o uso do tênis por esse motivo, e o jogador teria que pagar uma alta multa a cada jogo em que desrespeitasse a ordem. A Nike bancou a aposta e a polêmica se espalhou por todo noticiário. O resultado? Quando a NBA autorizou o uso do calçado pelo dono da camisa 23 dos Bulls, o Nike Air Jordan já era uma febre nunca antes vista de vendas nos EUA.
Entretanto, no que tange à tecnologia, pouco de significativo aconteceu pelas próximas duas décadas. Mesmo com a evolução do "Asics Kayano" ou com o lançamento do Asics Gel Lyte em 1987 (9), uma linha de tênis que definiu tanto o padrão nos anos 1990 de tênis com estabilidade, quanto a imagem da marca japonesa enquanto uma fabricante de tênis leves e confortáveis. Da mesma forma quando a Adidas entrou no jogo, lançando o ZX8000. Agora o foco agora estava no marketing.
Obviamente que os materiais que compunham os modelos melhoraram, mas não a ponto de levar a qualquer inovação que mudasse o jogo. Após o lançamento do Nike Air Max em 1989 (10), e do sucesso de vendas comparável ao Air Jordan, as empresas seguiram a tendência no design deste modelo. Então, se era interessante melhorar a tecnologia de amortecimento, indo do "gel" para a tecnologia "grid" ou "hydro-flow", era ainda mais importante deixá-las visíveis ao comprador. Uma moda puramente estética, e que nada ajudou a capacidade de correr.
Se no mercado americano, guias de tênis já apareceram no final da década de 1960, somente em novembro de 1993 o Brasil teria seu primeiro Guia do Tênis. E foi aqui, na Contra-Relógio, em seu segundo número! Dos 48 modelos testados, de marcas como a Asics, Nike, adidas, Mizuno, Reebok, Brooks, New Balance, Topper, Puma, Rainha, e até mesmo de marcas hoje não muito relacionadas à corrida de rua, como a All Star e Lecoq, foram avaliados de acordo com os seguintes critérios: 1) amortecimento, 2) flexibilidade, 3) peso, 4) solado e 5) estabilidade. Sendo a CR a única referência sobre corrida nos anos 1990 e criada por um praticante da modalidade (o editor Tomaz Lourenço), é razoável considerar que esses eram os principais interesses "técnicos" que os corredores brasileiros buscavam ao comprar tênis, ao lado, naturalmente, do preço.
Mas se os recursos tecnológicos avançaram para a indústria do tênis, o mesmo se deu no campo científico. E os estudos do final da década de 1970 começaram a ser rediscutidos, com conclusões surpreendentes. Em um artigo seminal de 2001 à revista Clínica de Medicina do Esporte, o pesquisador Brenno Nigg relatou não encontrar uma só conexão entre pronação e lesão. Ele advogava a sua teoria da "Sintonia Muscular", que, em resumo, diz que regulamos a resposta muscular às forças de impacto com o solo a cada passo, a fim de minimizar as vibrações que passam através dos tecidos dos membros inferiores.
Já outros pesquisadores, como Peter Bruggeman, concluíam que a musculatura dos pés se fortalece se você retira toda a extensa camada de estabilização e amortecimento dos tênis. E o paleoantropólogo e professor de Harvard Daniel Lieberman começou a popularizar a ideia de que correr é um ato natural do homem, e, portanto, não há necessidade de apoio ou correção adicional. A "Era do Controle" começava dar os primeiros sinais de sua ruína.
• O Minimalismo
O primeiro duro golpe no modelo "tradicional" de tênis de corrida surgiu em 2005 com o lançamento do Vibram Five Fingers. Presidente da Vibram e corredor de longa data, o americano Tony Post, não conseguia se recuperar de uma cirurgia no joelho e os tênis que usava, por mais amortecimento que tivessem, só infligiam-lhe desconforto e dor. Em viagem à Itália, conheceu um calçado idealizado em 1999. Sem amortecimento algum e bem largo lateralmente era como uma luva, vestindo cada um dos seus dedos. Com seu drop beirando a zero, forçou-o a mudar a sua forma de correr, aterrando a parte frontal do pé antes do calcanhar, assemelhando-se a quando corremos descalços. Tony Post não sentiu dor alguma e, animado por poder voltar a correr e pela revolução que poderia causar no mercado, levou o modelo para os Estados unidos, lançando o Vibram Five Fingers (11).
Na sua campanha, afirmava que era o modelo com o qual os corredores não se machucariam nunca mais. Da mesma forma como nos anos 1960, existia uma demanda de corredores procurando algo novo para seus pés, e havia, nos primeiros anos da década de 2000, uma fadiga generalizada dos modelos muito rígidos e acolchoados.
Assim, surgia o minimalismo, a aplicação na prática das ideias que já rondavam o ambiente acadêmico no início do século 21. E novas marcas apareceram apostando nesse conceito, como a Altra, a Newton e a Hoka – sem penetração considerável no mercado brasileiro, tal como a Brooks. As marcas tradicionais tiveram que se reinventar, e a Nike (novamente…) estava um passo à frente, lançando o Nike Free em 2004. No entanto, era vendido não como um tênis, mas como uma ferramenta para o fortalecimento dos pés.
O minimalismo atingiu status de religião com o lançamento, em 2009, do livro "Nascido para Correr", de Chris McDougall, onde conta sua história de ter superado diversas lesões decorrentes da corrida observando os nativos de uma tribo isolada no México que praticamente descalços corriam longas distâncias. O livro tornou-se a "bíblia" dos adeptos dos tênis minimalistas, onde de um lado você tem a corrida natural como o Salvador, e, do outro, tênis cheios de tecnologia e amortecimento como o diabo.
• 2012 – ?: A ERA DO CONFORTO
O minimalismo foi a supernova que empurrou o interesse dos corredores e a indústria de tênis ao que chamamos de "era do conforto". No entanto, ela não era em si infalível: pessoas continuaram se lesionando, de velhas e novas maneiras. A Vibram sofreu inúmeros processos por propaganda enganosa, sendo condenada em quase quatro milhões de dólares.
Contudo, se os tênis extremamente minimalistas saíram de cena, as ideias que os idealizaram ficaram. Cada vez mais ortopedistas e fisioterapeutas dão ênfase mais na técnica de pisada, e indicando modelos que sejam somente "confortáveis" ao corredor. As prateleiras das lojas não mais são separadas pelo sistema de rotação do pé, mas em modelos com mais amortecimento, e o extremo veio com aparecimento dos tênis "maximalistas", tal como o Hoka One (12).
Agora, ou as prateleiras possuem a categoria "competição", com tênis mais baixos e estreitos, e os de forma larga. E o principal fenômeno, por enquanto, dessa tendência é a linha Boost, da Adidas. Sobretudo quando estes foram vistos nos pés dos quenianos Wilson Kipsang e Dennis Kimetto, quando estes bateram os recordes mundiais da maratona em 2013 e 2014 (13). Superaram, assim, a linha Flyknit da Nike ou mesmo os modelos Hyperspeed da Asics.
Mas sendo com amortecimento ou para competição, os tênis possuem a ideologia minimalista, e a cada nova edição de um modelo tradicional, este vem mais leve, mais largo e com menos drop. Vingou a ideia de que o tênis deve ser tão confortável a ponto de não senti-lo enquanto se corre. E como as tendências seguem em círculos, voltamos aos desejos dos corredores dos anos 1960.