Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (1) (347)

A evolução da maratona no Brasil

O espírito da maratona popular foi introduzido no Brasil em 1979, com a realização da Maratona Internacional do Rio de Janeiro. A iniciativa do evento foi da corredora Eleonora Mendonça, que residira alguns anos nos Estados Unidos. Ela criou a empresa Printer, promotora e organizadora de algumas corridas de rua, com um percurso fácil e agradável ao longo das praias de Copacabana e do Leme.

O sucesso das provas de percurso menor, realizadas em 78, encorajou a direção da Printer a lançar um projeto de maior expressão: uma maratona. O primeiro passo foi a escolha de um percurso com largada e chegada no estádio da Escola de Educação Física do Exército, bairro da Urca. Tratando-se de uma prova pioneira, uma avaliação posterior pode classificá-la como satisfatória, no tocante à organização, facilidade nas inscrições, simpósio técnico na véspera, rápida apuração, divulgação dos resultados etc. Concluindo, valeu a pena a primeira maratona brasileira na distância oficial de 42.195 m, ficando o compromisso de novas edições nos anos seguintes, aplicados ligeiros ajustes no projeto original. Pouco mais de 120 corredores concluíram essa prova pioneira. Depois dela, a Printer promoveu mais quatro, mantendo o nível técnico e organizacional, mesmo com o expressivo aumento do número de participantes.

MARATONAS NO RIO E EM SÃO PAULO. Devido ao relativo sucesso da experiência da Maratona da Printer em 79, o jornalista e esportista José Inácio Werneck, então editor de esportes do Jornal do Brasil, obteve aprovação junto à direção da empresa do seu projeto para a realização de uma maratona no ano seguinte. Além da inquestionável força do JB, mérito para as boas idéias de Werneck e de um seleto grupo que ele reuniu para realizar a importante tarefa, dentre outros José Rodolfo Eichter e Fernando Azeredo.

Em 1980 e 81 foram então disputadas no Rio de Janeiro duas maratonas, uma da Printer e outra do Jornal do Brasil, bem organizadas e com mais corredores. Em 82, ainda mais fôlego, com o lançamento da Viva – A Revista da Corrida, pertencente ao grupo do JB. Foram anos de ouro da maratona no Brasil, com a participação de maratonistas estrangeiros de nível internacional, realização de simpósios importantíssimos e um crescimento vertiginoso do número e da qualidade de maratonistas brasileiros. Sem outras opções de provas de menor distância com boa organização, centenas de corredores deslocavam-se para as maratonas do Rio de Janeiro, procedentes de dezenas de estados brasileiros e também do exterior, compreendendo atletas amadores e de elite, jovens e veteranos.

As maratonas vinculadas ao Jornal do Brasil tiveram no início os seguintes títulos: Maratona Bradesco / Jornal do Brasil, Maratona Atlântica Boa Vista / Jornal do Brasil. Mais tarde, 3ª, 4ª, 5ª Maratona do Rio, concorrendo com a Rio Maratona 82, 83 e 84, além das provas intituladas Maratona da Cidade. Com a saída do Jornal do Brasil, uma corrente passou a seguir outros veículos de comunicação, Jornal dos Esportes e depois Jornal O Dia.

Em 82, ocorreu a Maratona Cidade de São Paulo, buscando-se o mesmo êxito que vinha sendo alcançado no Rio. No entanto, as poucas provas realizadas não alcançaram o nível desejado, seja por dificuldades de percurso, seja pela pequena participação do público, seja pelo fato da cidade apresentar dificuldade de se obter um bom percurso, similar ao do Rio.

A segunda Maratona de São Paulo, realizada em 23 de janeiro de 1983, castigou os participantes e o pequeno público que acompanhou a prova devido a um intenso calor, o que provocou um índice técnico baixo. A 5ª Maratona Bradesco / Jornal do Brasil, que foi concluída por mais de 6 mil participantes, teve sua data antecipada para maio, já que fora escolhida pela CBAt e Comitê Olímpico Brasileiro como classificatória para a participação dos maratonistas brasileiros nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Vitória espetacular de Eloy Schleder, obtida no último quilômetro. Entre as mulheres, prevaleceu a experiência de Eleonora Mendonça.

Com um crescente número de paulistas correndo a distância no Rio e em Nova York, foi inevitável que a maior capital do país insistisse em ter sua própria maratona, de nível internacional. A Maratona de São Paulo em 85 teve 972 concluintes, sendo que os últimos fecharam a prova numa agradável temperatura. Em 86, a Prefeitura de SP definiu novo percurso, com largada em frente ao Obelisco do Ibirapuera, contornando-o pelas avenidas do IV Centenário e República do Líbano, com chegada no parque. O percurso dos últimos cinco quilômetros, plano e arborizado, compensou a temperatura alta do final da prova.

Uma equipe de peso da Viva Promoções Desportivas continuou a fazer crescer a Maratona do Rio, que se constituiu no maior evento esportivo do Brasil em 85. Além de corredores de quase todos os estados do país, a prova contou com cerca de 500 atletas dos Estados Unidos, Inglaterra, Suécia, Noruega, Canadá, Itália, Tanzânia, México, Argentina, Bolívia e Porto Rico.

A Maratona do Rio em 86 teve como novidade a largada em Niterói, atravessando a ponte em direção às principais vias da zona sul, com chegada no Leme. Dos 8.534 inscritos, cerca de 7 mil deram a largada e 5.163 concluíram.

Em 87, o grupo liderado pelo jornalista Inácio Werneck, já ligado ao Jornal dos Esportes, organizou a Maratona da Cidade, com largada e chegada no Sambódromo, percurso que agradou aos 2.487 participantes. Vitória de Valmir de Carvalho e de Angélica de Almeida, com a marca de 2:42:31, novo recorde brasileiro na distância. A maratona tradicional do Jornal do Brasil realizou-se a 22 de agosto, contando com grande número de participantes.

O jornal O Dia substituiu o Jornal dos Esportes na organização da Maratona da Cidade, no Rio, em 88. Foi revestida de grande expectativa na medida em que seus resultados serviriam de base para a indicação de nossos representantes na maratona dos Jogos Olímpicos de Seul. Valmir de Carvalho (2:17:10) e Angélica de Almeida (novo recorde brasileiro, 2:37:48) foram os vencedores.

Em 88, a força do Jornal do Brasil foi insuficiente para assegurar o bom nível técnico e organizacional da Maratona do Rio. Venceram o José Carlos Santana da Silva e Nercy Freitas da Costa.

Em 89, a Maratona da Cidade manteve o percurso anterior, largada e chegada no Sambódromo e o bom nível organizacional. A Maratona do Rio em 90, 10ª e última participação do Jornal do Brasil, teve menos de 2 mil concluintes. O percurso foi invertido: largada do Leme, direção Copacabana, Ipanema, Leblon; retorno ao Leme, Aterro do Flamengo e chegada ao Leme.

Em 90, finalmente o bom senso prevaleceu: sentindo que todos estavam perdendo, os grupos (jornal O Dia e a empresa Sports e Marketing) decidiram unificar as duas maratonas que vinham realizando. O percurso foi bastante alterado, com largada na Barra da Tijuca e chegada na Quinta da Boa Vista, na Tijuca.

PORTO ALEGRE, BRASÍLIA, BLUMENAU, CURITIBA E FLORIANÓPOLIS. O declínio inicial e o desaparecimento quase total do evento maratona no Rio de Janeiro só não foi mais chocante para os aficionados da prova pelo surgimento de provas em outras cidades brasileiras. A semente já tinha sido lançada, os conhecimentos organizacionais já estavam consolidados e a massa de maratonistas brasileiros estava ávida de encarar a distância. Líderes também não faltavam.

Neste contexto, não é difícil entender que Paulo Silva e outros, em Porto Alegre, Edemar Winkler e Raul Cardozo, em Blumenau, Joaquim Pires e familia, em Brasília, lançaram suas maratonas nos meados dos anos 80, com crescente sucesso.

Mais recentemente, com excelente nível, passaram a acontecer as maratonas de Curitiba e de Santa Catarina, em Florianópolis, surgiu a do SescPR em Foz do Iguaçu em 2007 e desapareceu em 2006 a de Blumenau, que foi a mais importante nos anos 90, mas que não soube se firmar devido a inúmeras falhas.

ANOS 90,  CBAT E A CONTRA-RELÓGIO ENTRAM EM AÇÃO. Em outubro de 93 foi lançada a Contra-Relógio, um desafio que o jornalista e corredor Tomaz Lourenço decidiu encarar. A revista começou timidamente, mas com um rumo perfeitamente definido: uma revista de corredor para corredor, com o objetivo de informar e lutar pela melhora das corridas no Brasil. Por influência da CR, a Confederação Brasileira de Atletismo – CBAt passou a dar mais atenção às provas de rua, inclusive baixando normas para elas e oficializando as que cumprissem os regulamentos, especialmente no tocante à aferição de percurso.

PORQUE NOSSAS MARATONAS TÊM MENOS PARTICIPANTES QUE HÁ 25 ANOS

Um dado chama a atenção na história das maratonas brasileiras. Em meados dos anos 80 uma das maratonas que acontecia no Rio teve mais de 6 mil concluintes. Hoje nossa prova de maior número de participantes, a de São Paulo, não alcança 2.500. Por que essa involução?

Para entender essa aparente contradição, considerando-se o crescimento da população e a "explosão" das corridas de rua nos últimos anos no país, é necessário voltar no tempo. Nos anos 80 as corridas no Brasil eram poucas e quase todas extremamente mal organizadas. A grande exceção era a Maratona do Rio promovida pelo Jornal do Brasil, que a realizava nos mesmos moldes do que melhor acontecia no exterior. O resultado dessa excelência era que os corredores brasileiros optavam por correr os 42 km, por falta de alternativas. Ou seja, quem queria fazer uma prova com ótima organização, só tinha uma alternativa: a Maratona do Rio.

Quando outras corridas de menor distância e bem organizadas começaram a aparecer, o óbvio aconteceu: grande parte dos corredores migrou para esses eventos, pela maior facilidade de participação. E essa reviravolta só se acentuou nos últimos anos, com o aparecimento de excelentes revezamentos, em que basta fazer 5 km para se "tornar um corredor".

Por outro lado, muitos poderiam lembrar que é conhecida a incrível sensação de completar uma maratona, nada parecido com o que se sente numa prova de 10 km ou mesmo numa meia. Sem dúvida, só quem já fez os 42 km sabe do que  estamos falando, daí o grande sucesso que são as maratonas pelo mundo.

Na opinião da revista, isto não se repete no Brasil porque os organizadores não buscam melhorar as condições para os participantes. Lá fora, Estados Unidos e Europa notadamente, onde as maratonas são várias centenas, quase todas acontecem nas épocas de clima frio/ameno (março a maio e setembro a novembro),

Aqui as condições climáticas não são tão favoráveis (exceção para Porto Alegre, em maio, e eventualmente para São Paulo em maio/junho), então seria fundamental que as largadas acontecessem bem cedo, para minimizar um pouco a temperatura, que como se sabe é o principal adversário dos corredores de longa distância.

Enquanto não houver essa preocupação, continuaremos sendo um país em que boa parte dos maratonistas enfrenta o desafio dos 42 km apenas no exterior (vide as centenas de brasileiros em Nova York, Paris, Chicago, Berlim, Buenos Aires e agora também em Punta del Este). Tomaz Lourenço

Leia mais:

As principais maratonas no Brasil de 1980 a 2008

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One Comment on “A evolução da maratona no Brasil

  1. Seu artigo é de certa forma ingenuo. As maratonas são corridas em horários insanos, por causa da Tv Globo e da cumplicidade dos organizadores com ela. Assim como no futebol, esses eventos esportivos tem seus horarios marcados de acordo com a “grade” da emissora, pouco se lixando para atletas e publico ao vivo. O futebol da Globo, de quarta, começa numa hora em que na Europa todo mundo ja voltou do jogo e foi pra casa dormir que amanha é dia de trabalhar cedo.
    No caso das corridas, o Esporte Espetacular de domingo de manhã é que determina que horas se larga. Os organizadores são cúmplices deste descalabro. Gente muito longe do espírito dos organizadores da Maratona de Boston, que recusaram um contrato de 10 milhões de dólares por cinco anos de direitos de transmissão pela ABC News, desde que passassem a prova de segunda (como sempre foi) para domingo, para se adequar à “grade” da emissora. O pessoal da BAA deu-lhes uma banana e Boston continua gloriosamente disputada numa segunda -feira como sempre, com transmissão por tv local e pela Universal Sports, na internet.

    Dê nomes aos bois, colega.

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