20 de setembro de 2024

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Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (482)

A divertida maratona de Londres

No meu primeiro dia em Londres, na antevéspera da prova, logo após deixar as malas no hotel, segui para a retirada do kit (apenas chip, número de peito e adesivos para fixação do chip). Descobri que a maratona tem três largadas simultâneas (como Nova York), fiz a confirmação dos dados, cadastrei meu e-mail para receber os resultados e fotos da prova, e adentrei na feira, que não tinha muitas opções de roupas e lembranças.

Mas as principais marcas esportivas estavam representadas, assim como estandes de inúmeras maratonas, entre elas a Comrades, quando tive oportunidade de conversar com o expositor, que destacou o expressivo número de brasileiros que haviam corrido a prova sul-africana em 2007, como resultado do desafio lançado pela CR.

Um dos destaques da feira era a celebração dos 100 anos da distância atual da maratona. Para quem não sabe, até 1908 ela ficava em torno de 40 km, quando o percurso passou a ter 42.195 metros nos Jogos Olímpicos de Londres. A mudança foi feita para que a família real pudesse assistir ao final da prova do jardim do Castelo de Windsor. O almoço/jantar de massas era pago à parte e consistia de macarrão servido em um copo de isopor (!), garrafa de água, iogurte e maçã.

Também merece menção a presença de inúmeras associações que arrecadam donativos para pessoas que sofrem dos mais diversos tipos de doenças e que sempre marcam presença na Maratona de Londres, sendo que muitas das inscrições são reservadas a estas organizações, que as disponibilizam para quem consegue arrecadar um valor pré-estabelecido de donativos e contribuições.

Frio, chuva, mais frio… O domingo amanheceu muito frio, com temperatura que nada lembrava o calor anormal que castigou os participantes no ano passado. Havia metrô gratuito para os participantes, mas saímos do hotel, onde estavam inúmeros estrangeiros, em ônibus especiais do pacote turístico adquirido.

Chegamos às 7 horas, quando o parque e o grandioso campo que abrigaria os corredores ainda estavam bem vazios. Aos poucos, uma leva interminável de atletas preencheu e coloriu o gramado. Às 9 h foi dada a largada da elite feminina e às 9h25 saíram os cadeirantes. Já se aproximava das 9h45 quando me encaminhei para a largada, dividida em zonas, estabelecidas de acordo com o tempo declarado pelo atleta na ficha de inscrição. Fiz o possível para espantar o frio (a temperatura estava abaixo de 10°C) e pude conferir os primeiros corredores fantasiados antes mesmo do tiro inicial.

A largada foi um pouco lenta, pela quantidade de corredores (mesmo havendo a divisão em três áreas) e devido às ruas estreitas. Após 200 metros, um fato inusitado: os corredores literalmente pararam, devido ao estreitamento da passagem. Constatando que Londres não é uma das corridas mais indicadas para "baixar tempo", prossegui desviando dos mais lentos, ao som de "Lady Madonna", canção dos Beatles, tocada por uma bandinha encarregada de animar os participantes. Antes de alcançar o primeiro quilômetro, vislumbrei o encontro com os corredores da largada verde e avistei Buster Martin, um senhor inglês que afirma ter 101 anos e que depois soube ter conseguido terminar, em pouco mais de 10 horas. Os corredores da largada vermelha encontraram os demais após 5 km. O abastecimento é feito com água e isotônico e mais nada.

6 guerreiros massai. Após uma hora e meia de prova, a chuva caiu forte e a temperatura também (os termômetros chegaram a marcar 6°C). Meus dedos estavam endurecidos e paguei o mico de correr de camiseta regata, sentindo muito frio. O público, surpreendentemente, não arredou o pé e continuou a marcar presença e a fazer muito barulho. Estava no km 17 quando avistei seis guerreiros massai, oriundos da Tanzânia, que correram com suas vestes de guerra para arrecadar fundos para sua comunidade.

Mais adiante, a chuva deu uma trégua e a temperatura esquentou um pouco. A animação dos espectadores, no entanto, não variou, continuou no máximo. Ao passar por uma casa, senti a empolgação de moradores que colocavam "Run to the Hills", da banda Iron Maiden, no último volume. Mas o momento mais especial do percurso foi na 12ª milha (quase 20 km percorridos), quando atravessamos a Tower Bridge, um dos principais símbolos de Londres: a ponte que cruza o Tâmisa e fica ao lado da Torre de Londres. A ponte-cartão postal estava completamente tomada pelo público, que incentivava os corredores de forma bem barulhenta e divertida.

Em seguida, alcançei a marca do km 22 em uma larga avenida. Uma banda formada por meninas executava "Dani California", do Red Hot Chilli Peppers. Estava a caminho do bairro indiano de Londres. Encontrei um holandês pelo percurso e trocamos informações sobre a Maratona de Amsterdã.

Com pouco mais de 33 km, o percurso estava mais livre, já que vários participantes (muitos deles, fantasiados) sentiam a maratona após a "barreira dos 30 km" e as mais de 3 horas de prova, e começavam a andar. Nesse instante, olhei para o relógio e fiquei satisfeito em verificar que mantinha o ritmo até o momento, sem dores musculares e com a certeza de que poderia bater o meu recorde, caso conseguisse administrar minha passada até o fim.

No km 40, já a caminho do Palácio de Buckingham (palco da chegada), o corredor é brindado com o imponente Big Ben e o vizinho Parlamento após margear o Tâmisa por quase 4 km. Nesse instante, já com 4 horas de prova, fui brindado novamente com a chuva (de granizo) e o frio, que voltavam para reivindicar a atenção do público, que não perdia o entusiasmo de incentivar os atletas nas milhas finais. Debaixo de uma forte garoa, avistei o St. Jame's Park, atravessei a praça central que marca a troca da guarda do palácio real e corri as "jardas" finais (conforme marcação britânica), para cruzar a chegada em 4:14:48, meu melhor resultado na distância.

Pausa para foto, entrega de medalha e camiseta, frutas, kit com água e isotônico, retirada dos pertences no guarda-volumes e caminhada dolorosa para a "área de repatriação" (ponto de encontro dos estrangeiros). A dispersão foi tranqüila (apesar do grande número de pessoas), com várias estações de metrô próximas. Tendo em vista a nova trégua dada pelas nuvens de Londres, voltei ao Big Ben para assistir àqueles que ainda não haviam terminado e me surpreendi com a grande quantidade de concluintes com mais de cinco horas.

Apesar de ser muito estreita em seus primeiros quilômetros e contar com muitos corredores fantasiados, a Maratona de Londres é uma prova de percurso plano que vale a pena participar, em função da beleza da cidade, do clima festivo e do público extremamente acolhedor. Se você pretende viver esta experiência, corra (literalmente), pois as inscrições para o dia 26 de abril de 2009 devem se esgotar rapidamente. Maiores informações no site www.london-marathon.co.uk

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