As redes sociais, principalmente Facebook e Twitter, servem para aproximar as pessoas, criar amizades por afinidades, compartilhar ideias, divulgar projetos, trabalhos, oportunidades, treinamentos… Bem usadas, são ótimas ferramentas. Mas tudo na vida não é perfeito. Ainda bem, por sinal. Servem também para criar factoides da realidade, para acreditarmos que aquele mundo restrito pode ser a verdade absoluta. Pois não é. Longe disso. A corrida das redes sociais, também, deve ser olhada com a “lente da verdade”!
Há exceções, é verdade, mas a sinceridade passa longe, por inúmeros motivos. No “olho no olho”, amigos que dividem o dia a dia acabam tendo mais liberdade e sendo mais honestos do que nas redes sociais, quando estão na “frente de todo mundo”. Por exemplo, você lê alguém escrevendo que completou o último longão de 30 km para uma maratona por volta de 4h e, daí, pipocam comentários do tipo: “Isso aí, está pronto para os 42 km”, “Sensacional, agora é só esperar o grande dia”, “Trabalho feito, o mais difícil já acabou…”
No mundo real, um amigo sincero diria: “Olhe, você deveria repensar seus planos, não acha?” ou “Bem, a maratona começa a partir do km 32 (ou 35), então, esse foi só o aquecimento, será que não seria melhor preparar-se mais?” ou “Se eu fosse você, me cuidaria mais, faria uma nova avaliação, porque nesse ritmo, pode levar de 5h30 a 6h ou até mais… Será que vale a pena”. A pessoa tem todo o direito de dizer: “Sim, é isso o que eu quero”. Porém, muitas vezes, ninguém pensa antes de soltar o dedo para digitar.
Um amigo contou uma nova “invenção” das redes sociais. Essa, confesso, ainda não presenciei “ao vivo”. Mas a fonte da informação é mais do que confiável. Criou-se o “tempo líquido pessoal”. Ou seja, além do tempo bruto e do líquido da prova, a pessoa para o relógio durante alguns períodos em que não está correndo (para se alongar, tomar um cafezinho, ir ao banheiro, fotografar, beber aquele isotônico com calma embaixo na sombra da árvore, observar a paisagem…) e depois volta a correr e a marcar o tempo! Daí, manda no Twitter ou Facebook: meu tempo líquido pessoal!!! Daí, vem os comentários: “Que prova excelente, que tempo sensacional”, “Tempo de respeito, um dia quero chegar lá” e por aí vai.
Outro fato comum demais. O que já vi de gente “metendo o pau” em provas que não participou. Chegam outros que também não correram, retwittam e comentam sobre os “problemas”. E aquilo torna-se uma “realidade” em um mundo virtual que desvirtua a realidade. Já li assim: “Não corri, mas me disseram que a prova foi muito ruim”. Presenciei casos em que não foi. Simplesmente, porque eu estava lá. Infelizmente, devo confessar, já vi colegas de imprensa fazerem isso…
A falta de noção é tanta que no ano passado, em um texto que escrevi sobre a São Silvestre, postado no Facebook, a discussão seguiu para o preço da inscrição. Algo justo e importante discutirmos. Daí, entrou um gaiato e escreveu, para quem quiser ler: “Eu me inscrevi com o nome do meu avô, paguei 50% a menos, mas mesmo assim acho muito caro”. Por respeito às pessoas que leem esse blog, não posso escrever o que penso 100% sobre isso (está vendo como a verdade não é verdade nas redes sociais), ou melhor, para resumir, não existe 50% honesto. Ou se você é honesto ou não é.
Muitas vezes, é claro, me deparo nas redes sociais com comentários, técnicos ou não, sinceros, passando conselhos e orientações. Em menor quantidade. Mas estão lá. O que não podemos é acreditar (com o muitos pensam) que o mundo das redes sociais retrata uma verdade absoluta. Por mais que esteja crescendo, ainda é muito restrito. Uma panelinha que muitas vezes não é mais do que isso, uma panelinha. Não que seja algo ruim, só não pode ganhar uma dimensão que não tem.
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Tem uma frase muito famosa ai que é assim: “Uma mentira contada mil vezes, torna-se verdade”. No mundo das redes sociais poderíamos ver esta frase levemente modificada: uma mentira que curtiram mil vezes, torna-se verdade. Excelente texto. Realmente o pessoal precisa refletir mais e “curtir” menos. Abcs.
Concordo André. Mas como tudo o que encontramos na internet sempre se deve ter olhar crítico para tudo. 🙂
Bom post. Essa do tempo líquido pessoal eu nunca tinha visto haha.
Penso como o Rodrigo. A gente tem como e deve filtrar o que é relevante e interessante. Boatos, bobagens e metidos a besta existem em todos os lugares e nas redes sociais não seria diferente. É uma ferramenta poderosa que em mãos erradas pode fazer estragos.
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Com certeza, Augusto, acredito que estamos em um processo de transição, mas confesso que em alguns momentos me assusto. O filtro, realmente, é fundamental.
Abraço
André
Parabéns André!
Gostei do tema, complementando o comentário do Rodrigo Smarzaro, quero dizer que “sempre temos que ter o olhar crítico em tudo que é escrito, falado ou visualizado, seja na internet, mídia impressa, rádio ou televisão”. Quando alguém quer mentir ou omitir faz por todos os meios.
Um grande abraço!!!
Cara, essa do tempo líquido foi hilária… kkkkk. Auto-ilusão é pouco ;-).
Abraço
Texto de respeito, um dia eu quero chegar lá!
Muito se fala que a gente tem que ter olhar crítico. Mas quem garante que a gente consegue manter um olhar crítico nas redes sociais? Com o bombardeio de informações que a gente recebe no Face, Twitter, etc, será que a gente consegue pensar sem ter o raciocínio poluído pelas mesmas?
Sendo bem franco, eu não tenho uma capacidade de processamento de informações tão sofisticada ao ponto de ter “olhar crítico” em redes sociais.
No aspecto pessoal (excluindo desta discussão, o uso profissional destas ferramentas), prefiro usar o Facebook deliberadamente pra questões fúteis. (vez por outra para assuntos mais importantes) E para discussões mais aprofundadas, procuro espaços mais reservados, seja no “olho no olho”, ou na internet mesmo.
Depois que vi um blogueiro admitir em público que cortou caminho durante a prova, e a sua “claque” o elogiou por sua honestidade, desisti dos blogs pessoais de corrida.
André, concordo com suas palavras. Redes sociais são otimas pra encontrar os iguais, os diferentes mas tb ótimas pra criar uma fantasia de quem gostaria de ser. Uma liberdade q nem sempre é verdadeira. Invencionisse de tempos, treinos q dão creditos somente no mundo virtual mas na hora do vms ver msm …. como é q fica? na hora de um revezamento isso tudo vai por agua abaixo né?!
Assumo meu turtle pace com orgulho … e isso nao me faz menos corredora do q um coelho hehehe
vms endorfinar e ficar feliz..pq é isso q faz bem!
André,
Muito legal a abordagem, agora alguém acreditar em tudo que lê é porque só aprendeu a juntar as letrinhas.
Redes sociais são muito legais para diversão e descontração, onde é possivel encontrar e conhecer pessoas legais e assuntos interessantes e não o inverso.
Quanto as criticas a provas que não participaram, já vi algumas, mas o INVERSO nesse caso é geralmente maior. Pessoas que ficam o domingo de manhã dormindo, acordam meio dia e começam a defender nas redes sociais as provas que não participaram.
Eu me divirto muito nas redes sociais e sou muito atacado por isso. Não ligo e me divirto mais ainda com esses ataques.
Abraço e nos vemos na rede.
Colucci
@antoniocolucci
O mais curioso é o auto-engano. Ou as pessoas acreditam no que inventam?
André,
Muito bom seu texto e a sua visão sobre as redes sociais virtuais.
Penso q estas retratam a sociedade real, com muita gente querendo ser o que não é, querendo ter opinião sobre o que não conhece.A internet só amplifica e maximiza este tipo de comportamento tão presente no ser humano,desde que o mundo é mundo.
Penso que tudo pode ser resumido na importância que damos (ou não damos) no que ouvimos e lemos vindo de pessoas sem nenhuma representatividade no assunto sobre o qual escrevem.
PS: Sou assinante da CR desde 2009,e sempre encontro reportagens e matéria interessantes feitas por quem corre como eu,muitas vezes mais do eu outras menos, mas pessoas normais “apesar”(rsrs…) de jornalistas.
Valeu, forte abraço.
Consideramos o que for válido, apagamos o que for inválido e damos valor a parte boa dessas redes. Graças a elas criei novos amigos virtuais que depois de um tempo viraram reais. Criticamos mas não ficamos longe. E somos nelas o que somos fora delas, só amplificando um pouco as qualidades e diminuindo os defeitos.
Não sei se o meu nicho é mais restrito, até porque filtro bem minhas amizades nas redes sociais, mas não vejo muitas invenções e/ou mentiras, o pessoal é bem tranquilo.
O texto é muito bom, sobre a mensagem que passa, de que inverdades ditas por muitas bocas/dedos, podem se tornar verdades.
Abraço
Como diz o próprio nome, Redes Sociais, elas apenas estão refletindo o que existe na Sociedade, tanto de bom quanto de ruim. Eu fico pensando o que passa na mente de uma pessoa que posta o seu “tempo líquido pessoal” do jeito que você falou? Juro que não consigo entender. O bacana da corrida é melhorar a saúde, fazer novos amigos, tentar sempre se superar etc. Esse tipo de gente definitivamente está no esporte errado.
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Claudio, é só mais um passo dentro do que já existia, agora, jogam na rede. É basicamente o mesmo de quem corta caminho e chega festejando ao passar pela linha de chegada (vide Maratona de Berlim do ano passado). Temos um conhecido aqui na região que, tradicionalmente, liga o relógio dele sempre quando passa no km 1. Daí, divulga o tempo final com base no relógio. Há anos. Desde quando nem existia internet, rs.
Abraço
André