Minha primeira abaixo de 4 horas!

Nos dois últimos anos fez um calor de rachar em Chicago, mas eu tinha certa convicção de que neste ano seria diferente. E foi muitíssimo diferente. Quinze dias antes da prova comecei a acompanhar as condições climáticas em Chicago. A temperatura girava entre 8ºC e 20ºC. Cheguei na terça e o termômetro não passou de 12ºC e até o sábado só baixou. Considerei comprar uma camisa de mangas longas, mas nunca corri assim e não era ali que iria experimentar. Tão somente entrei numa Wallgreens e comprei um protetor para as orelhas e um par de luvas ordinárias.

No domingo acordei às 5, uma vez mais consultei o tempo e disparei uma mensagem no twitter " -2ºC em Chicago, tempo bom para correr maratona". Sim, algo me dizia que eu faria uma boa maratona.

Cheguei ao Grant Park por volta das 6 horas, localizei meu curral e fui para perto do guarda-volume. Deixei passar algum tempo, andando de um lado para outro, contemplando aquela movimentação, então tirei o moleton e de calção, camiseta e luvas voltei à área de largada.

Não sei ao certo o porquê, mas eu que até então nunca havia corrido abaixo de 4 horas, na feira ao me inscrever pedi um "pace" de 3h55. E no corre-corre para entrar no curral acabei ficando no de 3h50. Comentei com um corredor ali ao lado: bem, já que estou aqui, por aqui fico; a turma de 3h55h me alcança. Fazia frio, algo em torno de 0ºC, mas em meio aquela multidão nem parecia tão frio.

 

Um pit stop rápido. Exatamente às 7h30h (isto sim é hora de iniciar uma maratona) é dada a largada. De inicio, antes de cruzar a linha, nem dá para correr direito. Sinto vontade de fazer xixi, mas onde? Ao lado, junto às grades, está cheio de pessoas, não vai dar… Transpasso a linha de largada e então começamos a correr; penso que tenho vontade fazer xixi, onde? Quando? Por sorte, antes da primeira milha, sob um viaduto, uma centena de corredores fazendo pit stop. Encosto e tento ser o mais rápido possível.

Volto a correr, me sinto bem. Mais ou menos com três milhas, encontro um corredor de Juiz de Fora que eu havia conhecido no aeroporto. Iniciamos um papo e vamos em frente. Ele me fala que pretende fazer a prova em torno de 4 horas e que se eu quiser posso acelerar. Respondo que aquele ritmo está bom, que vou economizar e se achar que dá para terminar abaixo de 4 horas, forço no final.

Foi na altura do km 10, com 56:32 que me senti aquecido, então acelerei o passo e o corredor mineiro me acompanhou. Chegamos à marca da meia-maratona com 1h58 e tudo indicava que daria para fechar por volta das 4 horas. Então meu amigo comenta que precisava parar no banheiro; diminuo o ritmo por alguns metros e como ele demora a voltar, resolvo acelerar.

Do km 20 ao 30 me sinto leve. Do 32 ao 35 é tudo muito rápido, e me vem à cabeça a corrida do Haile em Berlin, quando ele passou os 35 abaixo do esperado para o recorde. Obvio que não me imaginei Haile, mas me dou conta de que é possível fechar sub 4h e mantenho ritmo forte. Incrível como não surge "nenhum muro", nenhuma dorzinha, nenhum incômodo, e acelero.

Vou ultrapassando muita gente a minha frente e cruzo a linha de chegada em 3:51:36. Incrível, mal acredito, consegui minha primeira maratona em menos de 4h! Procuro entender como aconteceu, mas não tenho resposta, ou melhor, talvez ela esteja no percurso, fácil, bonito e com tantos torcedores; e também na ótima temperatura, obviamente. Será que conseguirei repetir este feito algum dia? 

Carlyle Vilarinho é assinante de Brasília

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