20 de setembro de 2024

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Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (146)

Na Maratona de Berlim, Haile e eu

"Quarenta e dois quilômetros, cento e noventa e cinco metros" é a medida exata de uma maratona. A medida é longa para escrever, para ler e, sobretudo, para correr! Apesar de longa, a maratona é hoje a prova esportiva mais popular e democrática do mundo. Nas maratonas mais famosas, como as de Londres, Nova York, Paris, Berlim, Boston e Chicago, participam mais de 35 mil corredores, mulheres e homens de todas as idades, nacionalidades, raças, religiões e preparo físico. Uma maratona reúne ao mesmo tempo corredores da grandeza de Haile Gebrselassie (recordista mundial da prova com o tempo de 02:03:59) e eu!

No domingo, 20 de setembro, Haile e eu completamos a 36ª Maratona de Berlim. Ele, aos 36 anos e na sua 10ª maratona, ganhou a prova pelo quarto ano consecutivo, mas não conseguiu bater seu próprio recorde estabelecido no ano passado na mesma prova, completando a deste ano em 02:06:08. Eu, aos 47 anos e na minha 4ª maratona, cheguei depois de 5383 mulheres e não faço idéia depois de quantos homens, completando a prova em 04:58:43. Quando Haile terminou a prova, a temperatura estava em torno dos 20º C e quando eu completei, mais de duas horas e meia depois, a temperatura estava entre 26º C e 28º C.

 

PULANDO O MURO. Apesar da abissal diferença, nós registramos nossos nomes na histórica edição da prova que comemorou os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Nas últimas 20 edições desta maratona, os participantes puderam cruzar 4 vezes as antigas fronteiras entre as duas Berlim, ocidental e oriental: no 7º km, na Ponte Kronprinzessinnen, no 14º km, na Rua Heinrich-Heine (antigo ponto de checagem), no 38,5º km, na Praça Potsdamer e, pouco antes da linha de chegada, no 42º km, no Portão de Brandenburg. Nos 4 pontos das antigas fronteiras havia sinalizações com o slogan da prova: "20 anos correndo sem fronteiras". Em todos eles, simbolicamente "pulei o muro"! 

Desde a queda do Muro de Berlim, os corredores mais preocupados em curtir a prova, como eu, do que em bater o recorde mundial, como Haile, podem apreciar a diversidade arquitetônica da cidade reunificada. Da arquitetura neo-clássica, gótica, romântica, barroca e moderna à rígida arquitetura típica dos países que vivenciaram o socialismo de Estado, a cidade é um deleite para os olhos.

Dos dois lados do antigo Muro de Berlim, entre o que sobreviveu aos bombardeios da 2ª Guerra Mundial e entre as novas e moderníssimas construções, existem prédios, monumentos, igrejas, praças, parques e avenidas muito arborizadas, que fazem a paisagem urbana da cidade uma das mais belas da Europa.

Berlim reunificada é, sobretudo, uma cidade vibrante como qualquer jovem de 20 anos; e é a vibração dos milhares de alemães ao longo do trajeto da maratona, aliada a um percurso quase todo plano e à boa logística apoiando os corredores com frutas, água, bebidas energéticas e até chá, que fazem da Maratona de Berlim uma das 5 World Marathon Majors (premiação de um milhão de dólares para o corredor que melhor pontuar nas maratonas de Londres, Nova York, Berlim, Boston e Chicago em dois anos consecutivos).

Tanto Haile como eu vamos ainda correr outras maratonas, pois o que nos identifica – a paixão arrebatadora pela corrida – não nos permite parar. Ele deve continuar correndo pelo mundo, quebrando recordes e ganhando prêmios. Eu devo correr mais duas maratonas antes de fazer 50 anos (Boston e Chicago) para completar as 5 Majors. Independente do propósito, seja um dos corredores mais rápidos do mundo, como Haile, seja uma simples corredora amadora, como eu, somos todos heróis.

Roberta Uchôa é de Recife, é assistente social e professora da UFPE.

 

 

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