Seguindo com a nossa cobertura da Travessia Torres-Tramandaí de 2017 (marcada para o dia 28 de janeiro), hoje o Jorge Ritter conversa sobre treinamento para ultramaratonas com o corredor e treinador Cleimar Tomazelli, da “Cia. dos Cavalos“, um dos grupos de treinamento de corrida mais ativos do Rio Grande do Sul. Confira a entrevista:
Contra-Relógio: Olá, Cleimar! Quando falamos da TTT categoria solo, trata-se de uma ultra (82 kms) bastante exigente. Um corredor que queira encarar essa distância, para começar o treinamento, já precisa ter passado pela maratona (42 km) e ultras mais curtas, não?
Cleimar Tomazelli: É imprescindível que o atleta, antes de se aventurar a correr a TTT solo, tenha feito pelo menos umas 3 maratonas para que tenha base suficiente para completar a prova com sucesso, sem necessidade de sofrer caminhando parte da prova.
Como é a base do treinamento. O foco é ir aumentando os “longões” e o volume de quilometragem semanal?
Quando falamos em treinamento, precisamos diferenciar as formas de treinamentos. Podemos exemplificar 2 tipos. No primeiro caso, um atleta inexperiente que vai estrear na TTT. Nesse caso precisamos programar um mesociclo com um volume cerca de 15% maior do que um atleta que já fez a prova. Porém, a intensidade deve ser inversamente proporcional do que o atleta experiente que já tem uma base de como é a prova e do tempo que fez na edição anterior. Ou, seja, o atleta que vai estrear na TTT solo deve se preocupar apenas em completar a prova com o menor sofrimento possível, enquanto o atleta que já correu a prova deve focar um pouco mais na intensidade para superar o tempo da edição anterior. É importante ter bastante cuidado com o volume dos longões, pois não é a mesma relação e proporção que programamos os longões para as maratonas. Se fizermos isso, correremos o sério risco de afetar os demais treinos e até de chegar totalmente fadigado na prova. Com a experiência de quem já fez 3 vezes os 81,2 km da TTT solo, sendo nas 3 vezes vice-campeão, além de ter treinado 2 atletas campeões da prova, costumo levar os longões, no pico do treinamento, ao máximo de 50 km. A partir dessa quilometragem, os ganhos fisiológicos são menores do que o desgaste que o treino provoca ao corpo.
E a parte nutricional. Idealmente você precisa de uma equipe multidisciplinar, não?
Tão importante quanto o treinador, em uma prova dessa envergadura, é o atleta ter o acompanhamento de uma excelente nutricionista esportiva. Não adianta o treinamento ser perfeito, mas a parte nutricional falhar. Isso poderá colocar todo treino e a prova por água abaixo.
Como evitar lesões com esse volume alto de treinos? Reforço muscular? O que mais?
Lesões fazem parte da vida do atleta, seja ele amador ou profissional. Evitar nós não podemos, mas sim minimizar as chances. A principal forma de minimizar essas chances de lesão é aliar o volume e a intensidade dos treinos de corrida com um treinamento de força bem direcionado, diretamente pelo treinador de corrida ou em combinação com ele. Esse treino de força deve ser de alta intensidade com muita sobrecarga e pouco volume. A grande maioria dos artigos lançados recentemente mostram que esse é o método mais eficiente para os corredores. Uma boa qualidade do sono, com o mínimo de 7hs, também é fundamental. Pois é durante o sono que os tecidos se regeneram e sofrem as alterações necessárias para a evolução do treinamento. Quanto pior a qualidade do sono, maior serão as chances de lesões.
No dia da prova imagino que seja essencial seguir com o plano traçado, mas também estar preparado para fatores extras que possam surgir, como um vento mais forte, por exemplo, não é?
Durante o treinamento de preparação para a prova, é necessário que o atleta passe pelas mais diversas situações para poder preparar não somente o corpo, mas principalmente a cabeça para enfrentar as diversidades. Nas provas longas a preparação psicológica é muitas vezes mais importante do que a preparação física. Já vi diversas vezes atletas muito bem condicionados fisicamente chegarem atrás de corredores menos preparados fisicamente, porém com o lado mental muito forte. Dividir a prova em partes é um fator psicológico que ajuda a driblar a distância e o cansaço. Eu sempre dividi a prova em 8 partes de 10 km, mais o km final. Pensar em 10 km é muito menos desgastante psicologicamente do que pensar em 81,2 km.
Teria mais alguma dica ou sugestão para quem irá fazer a TTT?
Cada corredor que pretende fazer a TTT solo deve ter um ciclista para acompanhá-lo. Esse ciclista deve ser o responsável por toda a hidratação e suplementação do atleta, controlando o horário de tudo. Com isso, a única preocupação do atleta será correr. Para ter um assessoramento ainda mais completo, um carro também deve acompanhar o corredor em cada ponto de apoio. Nesse veículo deve ter uma bicicleta reserva e suplementos reservas, caso haja algum problema com o ciclista que está apoiando. Prevenir é
infinitamente melhor do que remediar.
Além disso, nunca faça uma prova dessa envergadura sem o acompanhamento de um treinador experiente que facilitará e muito o seu caminho para completá-la com um grande êxito. E não esqueça de fazer exames cardiológicos anualmente com o seu médico. O coração é o nosso principal músculo e deve ser cuidado com muito carinho para que você continue a correr por toda a vida.
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Esse cara é fera.
Parabens ao Prof. Cleimar, pela excelente entrevista. Conhecimento e experiência são fundamentais para dar uma opinião bem embasada de sabios conhecimentos.
Parabens a todos vcs pela excelente escolha e bela materia. Extremamente util.
Abraços.
Dudu Machado
Orgulho desse colega de profissao…