Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (131)

Adriano é hexa na Disney

Ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, quando o brasileiro dispara na frente e só abre diferença em relação aos adversários, dessa vez Bastos teve que suar a camisa pelo menos até a meia-maratona para se ver livre do atleta norte-americano Aaron Church, que o perseguiu bem de perto durante boa parte da prova. Mas foi só um susto. Depois de conseguir se livrar do norte-americano, Bastos comandou o ritmo da maratona como quis e seguiu sozinho até cruzar a linha de chegada em 2:20:38, fazendo muita festa com o público e com os personagens da Disney que o aguardavam na chegada. Confira aqui um bate-papo com o hexacampeão da Maratona da Disney, que nos conta alguns detalhes da sua trajetória como atleta e da prova que o consagrou.  

CR: Você venceu pela primeira vez na Disney em 2003. Foi também sua primeira vitória internacional. Em sete anos, desde a primeira vez, o que mudou na sua vida?

ADRIANO BASTOS: Acho que o principal foi o reconhecimento diante da mídia como atleta. Até então Adriano Bastos era aquele corredor que estava começando a carreira, correndo apenas as provas da Corpore. De repente, ganhar uma prova internacional acabou despertando o interesse da mídia. Daí em diante, tudo foi crescendo até chegar ao ponto que estou hoje. Foi na verdade a prova inicial para dar esse empurrão na minha carreira.

Antes da prova, você declarou que o tempo de 2h20 lhe garantia a vitória na Disney, como aconteceu. É por isso que você acaba não se preparando especificamente para a Disney?  Você não se preocupa em ser surpreendido, como aconteceu essa vez?

Fiz cinco maratonas ao longo do ano. Se pegarmos a seqüência de maratonas, (Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba) dá para ver que eu já chego desgastado para a Disney. É uma prova que venho com o que sobrou do ano anterior, até porque sei que 2h20 me garante uma vitória. Mas, se tivesse forçado o ritmo no final, o que eu não fiz, teria corrido para 2h19, já que as últimas duas milhas corri sobrando. Fiquei realmente surpreso de ter este ano um cara ali na minha cola, que deu trabalho até a milha 12. Sempre largo e em pouco tempo já estou liderando a prova sozinho. Nunca tinha vivido essa experiência. É claro que bateu aquela preocupação, mas o que mais trabalhei naquele momento foi a calma e a paciência. Fui levando a prova para ver o que daria mais para a frente. Comecei a perceber que o norte-americano não conseguia me acompanhar nas subidas. Passei então a aumentar o ritmo nas subidas, que são meu forte, para desgastá-lo. A partir da milha 11, percebi que ele começou a ficar.

Ao final da prova, você declarou que quer ganhar 10 vezes a Disney. Por que esse número?

Já vinha pensando nisso faz tempo. Pensando na contagem tradicional, 10 é um número cheio, o mais representativo que tem. Acho que isso se torna algo marcante na história de qualquer prova. Acredito que ser decacampeão de forma invicta numa maratona vai me dar um status enorme. Se conseguir esse feito nas quatro edições que estão por vir, será metade da história da prova, já que teremos 20 edições.

Quando você venceu pela primeira vez na Disney, o segundo colocado na prova disse que ficou surpreso em vê-lo na frente porque achava que você era um personagem da Disney, pela maneira como você estava trajado para correr, com sunga e top de triatlo e chuquinhas verde e amarela no cabelo? Desde então você sempre tentou fazer surpresas em cada edição. São tatuagens, formas diferentes de chegar, chapéu do Pateta, do Pluto etc. Como isso vem à sua cabeça?

Foi um queniano que disse que me confundiu com um personagem da Disney em 2003. Não sei até agora se isso foi uma desculpa por ele não ter conseguido vencer a prova ou se realmente ele achou isso. Eu era atleta ali totalmente fora do ambiente. Na primeira vez quis fazer um estilo diferente, extravagante, até para marcar que um brasileiro havia vencido a prova e para fugir à regra do que eles estavam acostumados. O clima da Disney favorece. Todo mundo achou superlegal esse negócio do cabelo e foi o que a imprensa mais comentou na Disney. Pensando nisso, de tanto que eles falavam do cabelo, corri os três anos seguintes com estilos diferentes de trança. Mas chegou uma hora que o cabelo ficou batido. Não havia mais o que inventar. Pensei então em usar o boné de um personagem da Disney e aí sim ficar uma coisa mais cômica ainda. Imagina só um atleta de elite liderando a prova usando um boné daquele tamanho? É coisa que jamais alguém usaria ou se arriscaria a fazer ter um peso daqueles na cabeça atrapalhando a performance. Usei o ano passado o boné do Pateta e este ano o do Pluto. No ano que vem ainda não pensei em nada, mas com certeza será uma surpresa. Dá um clique de repente.

E as tatuagens?

Comecei em 2007, quando consegui o tricampeonato, porque foi uma marca histórica, já que a prova até então só tinha tido bicampeões. As pessoas já faziam ligação do meu nome com a Disney e, como curto tatuagens (já tinha antes pelos menos umas 20), pensei em fazer algo que marcasse e que as pessoas já olhasse para mim e já conseguissem me identificar como Adriano Bastos. Em 2007, fiz duas cabeças de Mickey, uma em cada panturrilha. Depois tatuei um Mickey correndo no braço porque queria algo que identificasse não apenas a Disney, mas a prova. No final de 2008, quando estava procurando uma imagem para colocar no moletom dos meus alunos que viriam para a Disney, uma aluna achou um Mickey correndo diferente desse que tenho do braço. Gostei e resolvi tatuar no outro braço para ficar dos dois lados. E foi aí que veio a idéia também de tatuar no braço as cabecinhas do Mickey como se fosse carimbo para marcar o número de vitórias.

Das seis vitórias na Disney, há alguma especial, que não sai da sua cabeça?

Eu elegeria duas com as mais marcantes. A de 2005, do bicampeonato, que foi significativa porque veio depois que tive uma lesão no final de 2003. Acabei ficando metade de 2004 lesionado, sem poder correr. A sensação de vencer novamente na Disney foi como se eu estivesse dado a volta por cima depois de tudo o que aconteceu. A outra vitória que considero significativa é a de 2006, que é importante pelo fato de ter comigo minha esposa, a Renata, assistindo pela primeira vez uma vitória minha em maratona. Em 2003, eu tinha vindo sozinho e não foi a mesma coisa de ter ela aqui me vendo cruzar a linha de chegada.

Muita gente sabe que você ganha sem adversários na Disney, mas não sabe que você tem bons resultados nas maratonas dentro do Brasil, como 2h19 em São Paulo e 2h16 em Santa Catarina. Isso lhe incomoda? |

Não. Queria muito ver alguém correr a Disney sozinho para 2h19. Eu corro essa prova sozinho, sem ninguém do meu lado. Procuro não dar ouvidos. A forma que tenho para calar essas pessoas é mostrando em provas difíceis no Brasil que tenho condições de correr lá na frente em maratonas que todos consideram importantes. Já peguei três vezes seguidas pódio na Maratona de São Paulo, inclusive um 4º lugar. Venci Curitiba, que é considerada uma das maratonas mais difíceis do Brasil. No ano passado, ganhei Santa Catarina, que era uma prova que valia seletiva para Olimpíada e tinha como premiação um carro zero. Estavam vários atletas da elite brasileira e eu venci. Mostrei resultado nas provas que eu preciso. Tanto é que as pessoas em geral, os treinadores e os próprios atletas passaram a me respeitar de verdade a partir do momento em que fui o 4º colocado na Maratona de São Paulo em 2006, numa prova com queniano e tudo mais. No mesmo ano, venci Curitiba. Foi algo que deu um impacto e provou minha qualidade como atleta.

Perguntaram a você ao final da prova quem poderia fazer frente a Adriano Bastos na Disney. Fizeram a mesma pergunta ao 2º colocado e ele disse que nos Estados Unidos mesmo há vários atletas que podem bater Adriano Bastos na Disney. Como você viu essa declaração? E, afinal, quem você acha que pode lhe superar na Disney?

Eu concordo com ele. E acho que qualquer um pode fazer frente a mim. Tem muito americano bom, que corre abaixo de 2h15. O problema todo é que a prova não dá premiação em dinheiro. Nenhum norte-americano faria a Disney em troca apenas de uma passagem e hospedagem para o ano seguinte. Ele já está na casa dele. Seria a mesma coisa se eu ganhasse como premiação uma viagem de São Paulo para Curitiba. Já para mim, que estou no Brasil, acaba sendo uma viagem de férias garantida para o ano seguinte.

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