Notícias admin 4 de outubro de 2010 (0) (100)

Festa verde e amarela na Disney

Se alguém quiser definir em poucas palavras o que significa correr a Maratona ou Meia-Maratona da Disney, pergunte a quem já participou. Todos com certeza serão unânimes em dizer que a prova é uma verdadeira "festa". São cinco ou seis dias de Flórida em que você tem a chance de unir o prazer de correr com a oportunidade de se divertir no mundo encantado do Mickey. E ainda acompanhado da família.

Não é à toa que esse evento, que completou este ano 16 edições, cresce em número de participantes ano a ano e atrai cada vez mais brasileiros. Em 2009, foram 314 inscritos na Maratona, Meia-Maratona e Desafio de Pateta. Isso sem contar os participantes das duas competições que acontecem paralelamente ao evento principal, como a prova infantil e os 5 km.

Considerando apenas a maratona, cujos resultados completos publicamos nesta edição, foram 222 brasileiros, o que coloca a prova da Disney como a terceira mais procurada pelos corredores do país, atrás apenas de Paris (320 brasileiros em 2008) e Nova York (238), superando Berlim (221), Chicago (201) e Buenos Aires (184).

O Brasil já é há algum tempo a segunda maior delegação estrangeira no evento, perdendo apenas para o Canadá, que levou este ano 939 participantes nas três provas principais. Mas, se depender dos brasileiros, essa diferença deve a cair ao longo dos anos, já que a procura pelos pacotes tende a crescer ainda mais, até porque não há mês mais convidativo para tirar férias com a família do que janeiro.

OPÇÃO PARA TODOS OS GOSTOS. São cinco os eventos realizados na chamada Disney Marathon Weekend, que este ano aconteceu entre os dias 9 e 11 de janeiro. Além da feira de esportes tradicional, típicas em todas as maratonas, a semana de atrações começa na sexta-feira, com o Circle of Life 5k, prova de 5 km realizada no Animal Kingdom. No mesmo dia, as crianças também entram em cena na pista de atletismo do Wide World of Sports para correr a Disney's Kids' Races e a Mickey's Marathon Kids' Fest. As medalhas dos dois eventos, de borracha e toda colorida, são um charme à parte.

A brincadeira dos adultos começa mesmo é no sábado, às 5h50 da manhã, com a largada da meia-maratona, no Epcot Center. Os que cruzarem a linha de chegada, também no Epcot, levam para casa a medalha do Pato Donald. Já a maratona é realizada no domingo, no mesmo horário e local de largada e chegada da meia. A medalha não poderia ser outra a não ser a do anfitrião da festa: Mickey Mouse. Mas quem quiser viver uma emoção um pouco maior e levar uma terceira medalha para casa é só optar pelo Desafio do Pateta, ou o Goofy Race and a Half Challenge, que nada mais é do que fazer a meia no sábado e a maratona no domingo.

Como se poder ver, opção na Disney é que não falta. Há corridas para todos os gostos. A maratonista carioca Denise Amaral (foto), que participou este ano pela quarta vez a prova e também foi para a Disney como guia da Kamel Turismo, uma das agências oficiais que levam os brasileiros para correr em Orlando, estreou no evento em 1995, na 2ª edição. "Essa prova já começou boa lá trás. Já tinha toda essa estrutura maravilhosa. Não existia ainda a meia-maratona. Ela foi introduzida três anos depois. Acabou crescendo tanto que eles foram obrigados a dividir. Depois inventaram o Desafio do Pateta, que no ano que vem completará cinco anos e vai ter uma medalha especial. Quem quiser fazer vai ter que correr atrás da inscrição bem rápido porque vai ser uma loucura. Todos vão querer participar", diz Denise, que completou na Disney sua 68º experiência em maratonas com o tempo de 4h49.

Para ela, correr na Disney é um sonho. "Essa situação de poder levar a família e conjugar o passeio com a corrida é maravilhosa. Com os eventos diferenciados, há grupos de corredores em que a esposa corre a meia, os filhos participam dos 5 km e o pai faz a maratona. Isso acaba sendo um estímulo", comenta a guia, que vê na criação do Desafio do Pateta uma sacada interessante para atrair maratonistas mais experientes. "Como a Disney não é uma prova rápida, o Goofy acaba sendo um charme à parte para os mais experientes, que poderiam até não se interessar em correr a prova."

Além disso, ela acredita também que a corrida é excelente para estreantes, por ser uma prova mais lenta. "Mais de 50% das pessoas chegam depois das 4h30 na maratona e depois das 2h na meia. Por isso você acaba correndo sempre com muita gente do lado e isso dá confiança", comenta a maratonista, que ressalta ainda como um dos pontos positivos do evento o fato de largar bem cedo, antes das 6h da manhã. "Para quem vai com a família, a prova acaba e pessoa tem ainda o dia inteiro para aproveitar os parques."

Mas os pontos altos de toda a festa na Disney não param por aí. "Uma das coisas mais bacanas, e mais até do que em Nova York, é ver um monte de voluntários velhinhos trabalhando ao longo de toda a prova. Eles são muito carinhosos e animados. E, como não tem muito público quando você passa pelas estradas que dão acesso aos parques e os postos de água são a cada milha, isso acaba suprindo a falta de pessoas nessa parte do percurso", comenta a experiente maratonista, que carrega o sonho de no ano que vem poder trabalhar como voluntária na prova. "É só se inscrever no site. Em troca, você ganha uma roupa para trabalhar no evento e um ingresso para o parque."

MAIS MULHERES QUE HOMENS. Se tem uma coisa que já é tradicional nas provas da Flórida e de alguns outros estados norte-americanos é ver as mulheres dividindo de igual para a igual o número total de participantes. Mas o que surpreendeu mesmo este ano na Disney foi ver que as mulheres aderiram em massa os 21 km. Dos 12.443 cocluintes, 7.178 eram mulheres, quase 58% do total. São mulheres que vêem na distância um degrau para algum dia quem sabe estrear nos 42 km.

Algumas delas só descobrem mesmo que querem encarar uma maratona inteira depois de completar a meia. É o caso da paulista Luzinete Silveira (foto), de 43 anos, que treina na equipe do hexacampeão da prova, Adriano Bastos, que praticamente a empurrou para fazer a Meia da Disney.

Luzinete começou a treinar especificamente para a prova em março. E, depois de tantos meses de dedicação, veio enfim a recompensa. No dia da prova, ela nem viu o tempo passar e terminou a meia com a sensação de que poderia ter corrido melhor, ainda que tenha feito dentro das expectativas do seu técnico. "Assustei na hora que saí da estrada e vi o Epcot. Olhei no meu relógio (GPS) e já tinham se passado 19 km. Não acreditei. Meu coração começou a acelerar e as lágrimas vieram. Não consegui mais me controlar. Fiz o último quilômetro chorando. Quando cheguei, não conseguia nem falar", diz a secretária, que terminou a prova em 2h04 e, como todos que não apresentaram índice para largar nas baias da frente, teve que sair na última "onda" e sofrer um pouco para ultrapassar os mais lentos, principalmente os caminhantes.

Focada na prova, nos dias que antecederam a corrida, Luzinete queria mais era descansar do que propriamente passear. "A viagem para mim não importava. O que valia de fato era a meia-maratona. Fiquei irritada quando saí com o pessoal para fazer compras no dia anterior à prova. O que eu queria mesmo era descansar", conta a corredora, que disse ao final da prova que pegaria o vôo de volta ao Brasil com a medalha na bagagem de mão. "Se minha bagagem extraviar, não há problema nenhum. O que importa é minha medalha" Depois da prova, a nova meia-maratonista não demorou muito para programar sua agenda de corridas para os próximos anos. "Quando eu falava que ia ficar só nos 21 km, bem que o Adriano dizia: ‘faz a meia e depois a gente conversa'. Vou fazer a meia da Corpore em abril e a Maratona de Berlim mais pra frente. E quem sabe um dia possa fazer o Desafio do Pateta", sonha Luzinete.

MEIA NO SÁBADO, MARATONA NO DOMINGO. O Desafio do Pateta completou este ano quatro edições e é sucesso absoluto na Disney. São de longe as inscrições mais concorridas do evento, até porque são limitadas em número de participantes. São abertas a 4.300 inscritos. O sonho de levar três medalhas para casa, marcadas com as carinhas do Pato Donald, do Mickey e do Pateta, toma cada vez mais conta dos participantes e é difícil encontrar alguém que já tenha corrido a maratona ou a meia e não tenha essa prova como desafio, mesmo que num futuro distante.

Os amigos paulistas Rodrigo Bussab, de 43 anos, e Nelson Borba Júnior (foto), de 40 anos, também embarcaram no sonho do Desafio do Pateta já prevendo para o futuro quem sabe uma participação em ultramaratona, como a Two Oceans ou mesmo a Comrades, ambas na África do Sul. Embora o objetivo fosse levar a prova "na boa", sem preocupação com tempo, a dupla se privou de todas as festas de fim de ano para treinar e chegar bem em Orlando. "A meia-maratona foi tranqüila. Terminamos em 2h18. Fomos conversando o tempo todo. Quando terminamos a prova do sábado, fomos direto para uma outra maratona, a de compras", lembra Nelson, que tem seis maratonas completadas, cinco delas junto com o amigo.

Já a maratona da dupla, finalizada em 4h54, foi um pouco mais pesada. Rodrigo já iniciou a prova com uma dor no tornozelo e uma sensação de que iria dar cãibra na panturrilha direita. "O Nelson tem a característica de puxar mais e eu controlava para não deixar acelerar muito o ritmo", lembra Rodrigo.

Para os dois amigos, o mais gostoso de enfrentar um desafio como esse juntos é que um incentiva o outro a não desanimar. Para Nelson, a parte mais difícil foi quando começou a aparecer o sol na maratona, por volta do km 32. "Juntou o cansaço da meia com os 30 km da maratona e mais o sol na cabeça." Os dois cruzaram de mãos dadas a linha de chegada.

"Chegamos e choramos juntos. Foi emocionante. "Quando recebi minha medalha do Pateta, eu chorava e a voluntária me abraçava e dizia palavras de conforto", comenta Nelson, lembrando ainda que o mais incrível foi que durante a prova os dois já estavam combinando a próxima maratona, a Two Oceans, embora saibam que vão encontrar em qualquer outra maratona que não seja a Disney situações de prova completamente diferentes. "Vimos detalhes da prova que muito provavelmente não veríamos se estivéssemos concentrados na corrida, como uma plantação de legumes, hotéis maravilhosos pelo caminho e o backstage da Disney, onde são preparados os carros, as fantasias e tudo o que está por trás de um mundo que conhecemos apenas de frente."

BRASILEIROS NO PÓDIO DA DISNEY. Ainda que para alguns a prova seja uma festa, há também aqueles que correm para superar os limites ou para se qualificar entre os melhores. No total, 12 brasileiros conseguiram um lugar de destaque no pódio da maratona e da meia maratona, incluindo o campeão geral da prova, o atleta Adriano Bastos. Só na maratona, o Brasil fez dois campeões dos três pódios conquistados na categoria. César Martins foi o 4º lugar no geral da maratona e campeão na categoria 35-39 anos. Já Ricardo Santos foi o 1º colocado da categoria 40-44 anos. Na meia-maratona, foram oito os brasileiros que fizeram a festa verde e amarela. Além da ex-menina de rua Ana Luiza Garcez, a Animal, de 46 anos, que foi campeã máster geral da prova, a corredora Ruth R. Coscarelli, de 74,  levou o título da categoria 70-74 anos.

Professor de educação física, o paulista Ricardo Santos, de 42 anos, foi a Disney com a intenção de apenas acompanhar a esposa, Silvana Cole, também treinadora, que fez a maratona para 3h49. "Ela já tinha feito seis vezes a prova, mas todas elas acompanhando alunos como personal. Num primeiro momento, eu ia só assisti-la, até porque havia feitos dois meio-ironmans no final do ano", diz Ricardo, que não se contentou em apenas assistir à prova e resolveu encarar também o desafio.

Mesmo sem a intenção inicial de correr a maratona e sem treino específico para a prova, Ricardo sabia que poderia estar entre os melhores no pódio. "Pelos tempos do ano passado, se eu fizesse meu melhor tempo de maratona em Ironman, que é de 2h57, eu seria 3° colocado. Quando passei a linha de chegada em 2h39, até achei que poderia ser campeão máster, pois no ano passado, o meu amigo Luiz Tavares havia sido campeão com 2h46", comenta o campeão da categoria 40-44 anos, que disse gostar bastante da prova.

"A Disney é com certeza um lugar mágico, onde fazer turismo e correr é uma combinação perfeita. Na prova, demos sorte porque não estava muito frio. Na largada fez algo em torno de 13 ou 15° graus. Mesmo assim, corri até o km 13 de blusa. A prova é bem plana, mas apresenta algumas oscilações de ritmo nas pontes e dentro dos parques, porque tem muitas curvas", diz Ricardo, que correu pela terceira vez a prova e tinha inclusive um 3º lugar na categoria em 2004, quando foi o 11º lugar no geral.

Mas, se Ricardo Santos já esperava um lugar de destaque no pódio da Disney, o mesmo não se pode dizer de Agnaldo Moreno, de 46 anos, que faturou o  3º lugar na categoria 45-49 anos da meia-maratona, finalizando a prova com o tempo de 1h24. Para quem pesava 94 kg e começou a correr há seis anos na esteira para perder peso, conseguir um resultado como esse numa meia internacional foi mais do que um prêmio. "Eu era obeso e perdi 38 kg. Quando voltei à médica que me acompanhava, ela pediu que eu voltasse a comer porque estava emagrecendo muito", conta

Agnaldo passou a treinar com Adriano Bastos e de lá para cá viu seus tempos nas distâncias despencarem. "Tinha aqui o objetivo de fazer um pouco abaixo de 1h28, que era até então meu melhor. Não corri pensando em troféu. Corri para melhorar meu tempo. Fui num ritmo só e apertei apenas nos dois quilômetros finais. Minha esposa e minhas duas filhas acordaram às 3 horas da manhã para me acompanhar na largada. Ficaram ali no frio me esperando. Isso me ajudou muito na hora da prova porque eu sabia que elas estariam na chegada",

Outra brasileira que foi destaque nas categorias da meia foi Maria Fukissima, 3ª colocada na faixa etária de 70-74 anos, finalizando a prova em 2h24. Maria, que já correu inúmeras provas e três Maratona de Nova York, sempre teve o sonho de correr na terra do Mickey. "Fiquei dois anos parada por um problema de fascite plantar e queria muito encerrar minha carreira de corredora na Disney, com chave de ouro", comenta Maria, que acabou incentivando outros membros da família a começar a correr e arrastou todos eles para a Disney.

"Meu neto e minha filha fizeram a meia maratona e meu genro o Desafio do Pateta", diz a experiente corredora, que largou na prova na última "wave" com a família toda reunida. "Tinha muita gente andando e não dava para desenvolver a corrida. Meu pé doía muito e o que eu mais queria mesmo era terminar a prova", diz ela, que teve durante toda a competição a companhia da filha, Vivian Fukissima. Apesar da declaração que abandonará as corridas após a Disney, a família duvida. "Ela diz isso, mas a gente sabe que não vai conseguir", comenta Vivian.

DAS RUAS PARA O MUNDO ENCANTADO DA DISNEY. Essa não foi a primeira vez que a ex-menina de rua Ana Luíza Garcez, a Animal, correu a Meia-Maratona da Disney. Em 2007, ela não só fez a prova como também foi a campeã na categoria 40-44 anos. Deixou escapar das suas mãos o título de campeã máster da prova quando parou na entrada do Castelo da Cinderela, no Magic Kingdom, porque ficou emocionada com os personagens. "Achei aquilo muito lindo. Nunca tinha visto os personagens de perto. Quando a Fera (da Bela) tocou na minha mão, minhas pernas começaram a tremer e demorei um tempão para conseguir voltar a correr", lembra Ana Luiza, que dessa vez não deixou que a emoção de ver de perto os personagens interferisse no seu rendimento.

Ana cruzou a linha de chegada em 1:31:38 e foi campeã máster da meia-maratona. Apesar de não ter se abalado com os personagens, Ana Luíza confessa ter segurado o choro quando ultrapassou logo nas primeiras milhas de prova Dick e Rick Hoyt, pai e filho, que, desde 1980, já finalizaram nada menos do que seis Ironman e 66 maratonas. "Peguei um autógrafo deles na feira e, quando vi os dois na largada, quis muito tirar uma foto com eles, mas não consegui. Quando passei e vi aquela cena daquele senhor correndo e empurrando o filho deficiente numa cadeira de rodas, tive vontade de chorar. Percebi o esforço que aquele pai fazia para dar essa alegria ao filho", emociona-se Ana, que não ficou sem sua foto. Ao final da prova, na cerimônia de premiação da elite, aproveitou uma homenagem à dupla e correu em direção aos dois para registrar seu momento com pai e filho, que comemorou exatamente no dia da meia 46 anos de vida, a mesma idade de Ana Luíza. "É uma recordação que quero guardar para sempre. Este pai é um exemplo."

Veja também

Leave a comment