Buenos Aires, 21 de setembro, 8h30. Começava meu maior desafio: enfrentar e completar minha primeira meia-maratona. Frio, muito frio, algo em torno de 7°C, com vento e umidade de 95%. É lógico que uma meia deve ser coisa corriqueira para muitos dos leitores, mas essa representava muito para mim, que há um ano e três meses estava com 128 quilos e uma vida não muito regrada. Uma vitória mesmo, para alguém que, ainda acima do peso, sofreu seis meses com condromalácea bilateral nos joelhos, que atrapalhou muitos os treinos.
A companhia era excelente: dois amigos muito próximos, Alex e Claudia, e minha esposa Roberta, meu maior estímulo, com apoio inconteste e primordial para que eu tivesse sucesso.
Depois de passeios, excelente carne e compras, veio o motivo da viagem e o medo de não cumprir com o compromisso assumido pessoal e socialmente com amigos, família, treinadores. Isso pesa uma tonelada e os ombros sentem; quem diz que não sente, ou mente ou não tem sentimentos!
Na véspera, muita ansiedade; mas no dia acordei tranqüilo e confiante que me sairia bem na estréia em provas longas. Confiança adquirida pelo apoio de todos e pelos treinamentos de uma equipe nota 10 e que hoje eu me pergunto por que demorei tanto para fazer parte dessa família.
Vaselina, muita vaselina nas coxas e mamilos; protetor labial, luva e boné, MP3, mas também um pouco de medo. De repente, a largada, arrepios e vamos em frente, enfrentar o Golias que ali está lhe desafiando e colocando em cheque toda sua preparação.
SURPRESA, ÂNIMO, MEDO. O percurso ajuda, muito plano e seguro; largada na Casa Rosada e seguimos para Puerto Madero por 4 km; aí a surpresa: não havia o posto de água previsto para esse ponto, mas no km 5 apareceu, só que água em copos abertos. Logo depois encontrei Roberta com isotônico, muito apoio e emoção. Ganhei um beijo (o melhor dos combustíveis) e fui em frente.
No km 7 deu um nozinho na garganta e as lágrimas caíram, pois ali percebi que conseguiria terminar os 21 km. Neste ponto senti que tinha forças e me emocionei. As lágrimas secaram, os batimentos mantiveram-se estáveis e segui com ritmo médio de 6:50/km. Neste ponto lindos apartamentos e carrões; bairro chique!
Lá pelos 9 km já caíam alguns: muitos contundidos, outros sem fôlego; fiquei com pena de um senhor, lá pelos seus 60 anos, atlético, com boné e camiseta do IronMan 2007, puxando a perna e buscando auxílio da equipe médica. Não deve ser fácil quebrar assim!
Passei os 10 km em 1h08; um tempo que achei bom pois meu recorde na distância era 1h06. Estava firme e determinado a manter o ritmo. Daí veio o trecho mais difícil, dos 11 aos 13 km, passagem pelo porto com muitos caminhões, com motor ligado incomodando os participantes, vento contra e piso irregular.
No km 14 novamente o suporte e apoio de Roberta e no 15 o susto: dor na parte posterior da coxa direita. Tive medo de não terminar, então reduzi o ritmo, para um quase caminhando e pensei: vou assim até o fim.
No km 16 a surpresa! Alex (após terminar a prova em 1h37) veio para me puxar, um apoio fundamental, pois ali iniciava uma leve, porém constante subida, e intercalando trote e caminhada seguimos para o final.
Chegamos ao km 20, Avenida Diagonal, caminho para o paraíso pensei. Alex me animando e logo depois a companhia da esposa, para terminar em 2h45 (2h49 bruto). Olhei para o céu agradecendo toda a conspiração a meu favor: clima, percurso, amigos, esposa… Deus!
Agradeço também a meus amigos do Monte Líbano e ao treinador do clube, Allan Menache, à equipe Race e seu técnico Ricardo Arap e a todos que me apoiaram e que de alguma maneira participaram desta conquista.