Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (3) (115)

Joelho: você cuida do seu?

O número de corredores no Brasil é muito difícil estimar, apesar de se já falar que ultrapassa a barreira dos quatro milhões, aumentando a cada ano. O crescimento do número de adeptos mostra que a corrida é um esporte cheio de benefícios, como a manutenção do peso, auto-estima elevada, melhor rendimento cardiovascular, entre outros. Além disso, quem corre também já sabe que uma dorzinha aqui, outra acolá, está sempre rondando o corpo dos praticantes.

O joelho é responsável pela metade das lesões que acontecem na corrida. Isso por conta do impacto que a atividade produz. "Na minha área, entre os pacientes que atendo, posso dizer que a cada ano o número de incidências de problemas com o joelho cresce de 10% a 15%", afirma o ortopedista Renê Abdalla, diretor médico do Centro de Ortopedia e Reabilitação no Esporte do Hospital do Coração (HCor).

O joelho é a maior articulação do corpo e apresenta uma grande amplitude de movimentos. Por conta da sua  anatomia complexa e da sua vulnerabilidade, é a articulação mais fácil de lesionar, diferentemente do quadril, por exemplo, que é protegido por grandes músculos. As principais estruturas do joelho são ligamentos, meniscos, cartilagem e osso. Assim, os problemas que um corredor pode ter estão relacionados a todas essas estruturas.

"Eu tenho vários alunos que correm há um bom tempo e que nunca tiveram problemas no joelho. Mas a maioria dos corredores que se lesionam, sofre com ele. Entre os vários motivos que provocam essas lesões, os dois principais são a falta de fortalecimento, através de trabalho de musculação, e de um bom alongamento, antes e depois dos treinos e competições", argumenta Mário Sérgio Andrade Silva, diretor técnico da Run & Fun Assessoria Esportiva.

A socióloga Rosi Rosendo sentiu na pele, ou melhor, no joelho, a dor de parar de correr. Durante a faculdade, Rosi carregava o tênis na mochila e aproveitava o tempo livre para treinar, e chegava a correr oito horas por semana, embora nunca tenha participado de nenhuma competição. Rosi pendurou o tênis durante o curso de mestrado e há dois anos e meio tentou retomar o esporte, mas dores no joelho atrapalharam seus planos. "Eu não conseguia descer escadas e nem dobrar o joelho sem sentir muita dor. Havia praticamente perdido o alongamento do joelho esquerdo", conta.

O diagnóstico foi de condromalacia associada à artrite. Além de ter feito seis meses de sessões de RPG, ela tomou suplementos vitamínicos para artrite e o médico garantiu que poderia voltar a correr. "Mas quando pensei que retornaria aos treinos, prendi minha perna em um mata-burro (tipo de barreira) em uma fazenda em Minas Gerais e lá se foi tudo por água abaixo de novo", relembra. "Continuei as sessões de RPG e fisioterapia e só recentemente fui liberada para a prática de exercícios de impacto como a corrida". Há alguns meses, Rosi voltou a correr na academia e já treina três vezes por semana, uma delas na rua. Embora o horário de trabalho não permita a freqüência necessária para um bom desempenho em provas mais longas, a socióloga já pensa no futuro como corredora. "Meu objetivo é participar de competições já no próximo ano, só tenho que ir com calma, para não prejudicar a melhora que tive nas dores no joelho", conclui.

VOLTA POR CIMA. "Ele pode ser considerado o inimigo número um dos corredores. Com certeza, as maiores incidências de lesões acontecem com o joelho". Essa é a definição de Mário Sérgio, da Run & Fun. Segundo ele, quem sofre com problemas nessa articulação, em geral, volta à corrida. A primeira medida ao sentir dor, é colocar gelo, e se a dor persistir, o médico dever ser consultado. "Dependendo da lesão, uma diminuição na carga de treinamento, gelo e algum medicamento já resolvem. Em outros, é preciso operar, parar de correr por um tempo ou até definitivamente. Apenas o médico poderá avaliar cada caso", explica Mário.

Para o ortopedista Renê Abdalla, as cirurgias, geralmente, são realizadas com o intuito de devolver o atleta ao esporte. "E, quase sempre, conseguimos colocar a pessoa para correr novamente, mas é preciso tomar uma série de cuidados para evitar um novo problema", diz o médico.

O engenheiro Marco Botter, de 53 anos, sabe bem como é ficar de molho e recomeçar a vida como corredor. Em julho deste ano, precisou ir para a mesa de cirurgia para operar uma lesão no menisco e só agora está voltando para as ruas, sob o lema "devagar e sempre". Marco, que corre há 26 anos – e acredita já ter percorrido cerca de 80 mil quilômetros, equivalente a duas voltas completas ao mundo, pela linha do Equador -, conta que ao longo desse período sofreu diversas lesões, resolvidas apenas com fisioterapia. "A lesão no menisco só se manifestou em abril de 2007. Fiz diversos tratamentos, fisioterapia, acupuntura. Tentei de tudo para evitar a cirurgia, mas não teve jeito", lembra o engenheiro.

No dia seguinte à cirurgia, ele começou a fazer as sessões de fisioterapia, que duraram seis semanas. Nesse meio tempo, liberado pelos médicos, praticou natação, bicicleta e musculação, tudo para fortalecer o tônus muscular, manter a capacidade cardiovascular e compensar a fragilidade do joelho operado. Marco está voltando à rotina de seu esporte preferido, mas ainda está em fase de adaptação, que dura cerca de cinco semanas. "Agora é um processo de retomada. Não é como se estivesse começando do zero, porque não perdi totalmente o meu condicionamento e também vim fazendo outros exercícios e a fisioterapia. Mas preciso recomeçar de forma gradual", diz.

Seguindo à risca todas as orientações médicas, Marco espera voltar em breve ao seu ritmo de treinos. "Eu só fiz a cirurgia porque quero voltar a correr. Do contrário, não precisaria operar, já que a lesão não me impedia de caminhar nem de praticar natação, por exemplo. Agora estou me recuperando porque quero muito voltar às competições", finaliza.

LESÃO DE CORREDOR. Há quem acredite que a melhora de seu desempenho durante a corrida esteja associada à necessidade de "sofrer". Na verdade, sentir dor é sinal de que alguma coisa está errada e a presença desse incômodo pode, justamente, ser o fator determinante para não alcançar melhores marcas. E insistir no esforço pode causar lesões mais graves.

"Isso pode acontecer por falta de um bom equipamento, aumento de intensidade nos treinos antes da hora, percursos não adequados, como pisos muito acidentados ou duros. Muitas dessas lesões seriam minimizadas se o atleta olhasse com cuidado para essas questões", alerta Mário Sérgio.

Segundo Renê Abdalla, o problema mais comum é a "síndrome do corredor". "Na face lateral, na parte de fora do joelho, devido ao atrito entre uma membrana e a estrutura óssea do joelho, o corredor pode sentir uma dor forte, depois de correr os primeiros quatro ou cinco quilômetros. Essa dor faz com que ele tenha que parar de correr; a dor desaparece, mas volta na corrida seguinte. É um problema simples, que se resolve com fisioterapia, mas precisa ser cuidado, pois, do contrário, pode evoluir para lesões mais sérias", explica o ortopedista.

O desenvolvedor de software Rodrigo Gomes, de 26 anos, começou a correr há oito meses. Antes, praticava apenas uma caminhada mais leve e, depois de ter feito os exames preliminares, passou a treinar com mais intensidade. "Há cerca de um mês senti dores agudas, primeiro no joelho direito e depois nos dois. O incômodo era mais intenso depois dos treinos, e tentei continuar correndo por uns dias, porque achei que não era nada mais sério. Como a dor persistiu, procurei um especialista". A suspeita é de que Rodrigo esteja sofrendo de tendinite patelar, outra velha conhecida entre os corredores. "Estou aguardando o resultado da ressonância magnética para descobrir qual é o problema. Por enquanto, estou sem treinar, para evitar que a lesão se agrave, mas assim que puder, volto para a corrida", diz.

Segundo o ortopedista do HCor, existem dois tipos de dor. Uma é aquela que todo atleta sente, um desconforto que, com descanso e repouso, desaparece. "A outra é mais séria, é aquela que incomoda mais, que insiste. Essa sim precisa de cuidados médicos. Todo corredor sente algum tipo de dor, mas é preciso saber quando dá para agüentar e quando pode ser mais sério", aconselha o médico.

Para o especialista, a palavra-chave dos corredores deve ser "orientação", buscando dicas para se exercitar corretamente. Além disso, é importante fazer os exames médicos, ter um equipamento adequado, um bom tênis (veja mais dicas sobre isso no quadro), e fazer sempre o alongamento, que é fundamental. "De cinco a 10 minutos, alongando todos os grupos musculares, antes e depois de uma corrida", finaliza.  

UM BOM PAR DE TÊNIS PODE SER SEU MELHOR ALIADO

1) Escolhendo o tênis certo
O tênis deve ser escolhido pensando na sua finalidade. Atualmente, são desenvolvidos modelos específicos e individualizados, que levam em consideração os diferentes tipos ou padrões de corredores, além das diferentes modalidades de corrida. (Vale a pena ver as informações do Guia do Tênis de Corrida publicado na edição de setembro)

2) O que é que um bom tênis tem
Ao escolher o seu tênis, de acordo com o seu tipo de pisada, procure experimentá-lo para avaliar o conforto, a flexibilidade, o amortecimento, o acabamento, entre outros detalhes.

3) Quanto tempo dura um tênis
A durabilidade do tênis depende de muitas variáveis: do próprio tênis, do material usado para sua confecção, das condições e da superfície em que é usado e das características de sua marcha e estilo de corrida. Em média, ele é feito para durar de 550 a 800 km. 

4) É importante variar
Variar os pares de tênis durante as corridas evita o seu desgaste precoce. Durante os treinamentos você pode testar tipos e marcas. A flexibilidade e a rigidez do calçado devem ser periodicamente revisadas, pois são alteradas com o tempo. Para checar o alinhamento, coloque o tênis em uma mesa, olhe por trás e confira integridade e grau de desgaste.

5) Qual é a sua pisada?
Existem três tipos de pisada: neutra, pronada e supinada. Para descobrir o seu tipo, pegue um calçado usado e analise a sola. Se o desgaste for maior no lado interno, você tem tendência à pronação; desgaste do lado de fora, tendência à supinação; e desgaste na região central indica uma pisada neutra. Para um resultado mais preciso o ideal é fazer um teste de baropodometria ou o conhecido "teste do pé molhado" (publicado no Guia de setembro), para se ver o tipo de pé que se tem. A tendência é que pessoas com pé neutro tenham pisada igualmente neutra, os com pé plano (chato) sejam pronadores e os com pé cavo (arco mais acentuado na sola) supinadores.

Fonte: Moisés Cohen (Prof. do Dep. de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp e diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte –  http://www.institutocohen.com.br/)

Colaboraram Andréia Brasil e Nanna Pretto

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3 Comments on “Joelho: você cuida do seu?

  1. Nos últimos 2 meses, venho passando por lesões em ambos os joelhos, mais especificamente na lateral a temida síndrome da banda iliotibial, que me acompanha na maioria dos treinamentos e competições sempre após os 20 minutos de esforço físico.

    É importante destacar que estou utilizando tênis adequado para minha pisada, que é supinada, bem como realizando todo o ritual de alongamentos, mas mesmo assim continuo sentido dor, detalhe não corro mais de 3 vezes por semana, e não estou praticando treinos intervalados e de tiros.

    Já procurei um Ortopedista que me prescreveu anti-inflamatório e fisioterapia, que foram devidamente adotados, mas mesmo assim a dor persiste.

    Atualmente estou no fim do tratamento de fisioterapia, e também estou utilizando uma bandagem coreana nas laterais dos joelhos, que amenizam o sofrimento, mas no último treino tive que voltar a pé.

    Em sendo assim, gostaria de uma orientação acerca do que seria necessário para que eu possa correr sem sofrimento.

    Estou visando procurar novamente o Ortopedista, para requerer novas sessões de fisioterapia, nova dose de anti-inflamatório e até uma ressonância magnética.

    Existe cirurgia para esse tipo de lesão?

  2. gostaria demais informação sobre a pisada para fora

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