Sem categoria admin 4 de outubro de 2010 (0) (123)

As apostas de Portugal para Pequim

São três luso-africanos os atletas com as maiores chances de conquistar medalhas no atletismo. A CR conversou com Naide Gomes, especialista em salto em distância – rival de Maurren Maggi, e com Francis Obikwelu, recordista europeu dos 100 m rasos, e apresenta um adversário importante de Jadel Gregório, no triplo, Nelson Évora.

NAIDE GOMES: SALTO EM DISTÂNCIA. A atleta do Sporting Clube de Portugal, Enezaide do Rosário da Vera Cruz Gomes, a Naide Gomes, atingiu sua melhor marca em pista coberta, no Meeting de Valência, na Espanha, em março deste ano. Naide nasceu em São Tomé e Príncipe, no ano de 1979 e ainda com 21 anos representou o seu país de origem, nos 100 m com barreiras, na Olimpíada de Sydney, em 2000.

A multiplicidade é uma das principais características de sua formação no atletismo, pois a atleta competiu até anos recentes em modalidades como: heptatlo, pentatlo – pista coberta -, salto em altura e 100 m com barreiras. Há 12 anos é treinada por Abreu Matos; atualmente compete exclusivamente no salto em distância.

No Meeting de Madri, que aconteceu no início de julho, a atleta brasileira Maurren Maggi venceu as provas de salto em distância com a marca de 6,95, superando Naide por 2 centímetros. Mas sua meta de conquistar o ouro em Pequim não é nem um pouco remota.

CR: Como avalia sua atuação no Meeting de Madri?

Naide Gomes: O Meeting de Madri, a meu ver e do meu treinador, correu bem pelo fato de ser a minha primeira competição internacional depois dos mundiais de Valência. O vento não ajudou nada e dificultou a minha corrida de balanço.

Por que desistiu do heptatlo?

Desisti das provas combinadas por lesão, que me impediu de fazer certas disciplinas, nomeadamente o salto em altura.

Como é a sua semana de treinos para os Jogos Olímpicos?

Treino todos os dias, duas vezes por dia, de segunda a sábado. E na proximidade de competições reduzo um pouco essa carga.

Quantos profissionais estão envolvidos em sua preparação?

Se não me engano são 10: 2 fisioterapeutas; 3 médicos; 1 treinador; 1 massagista; 1 físico; 2 nutricionistas e, é claro, a minha mãe.

Qual é o seu objetivo para os Jogos Olímpicos de Pequim?

Pretendo chegar aos Jogos em grande forma; se conseguir estar entre as 8 primeiras penso que tudo será possível. Sei que vou lutar com toda a garra do mundo, sem medo nenhum.

Como imagina superar suas concorrentes?

Penso que candidatas a medalhas são 8 atletas e eu estou dentro deste leque. Trabalhei muito este ano, com vista a um sonho – vencer os Jogos, mas reconheço que será difícil.

Como foi representar S. Tomé e Príncipe nas Olimpíadas de Sydney?

Foi fantástico! Posso dizer que fiquei muito feliz por representar o país onde nasci; mais tarde poderei dizer aos meus filhos que tive o privilégio de representar dois países, um que me viu nascer e o outro que me viu nascer como atleta, e que me acolheu dando condições de vida e de estudo.

Qual foi a medalha mais especial que já conquistou?

É difícil responder. Talvez a primeira vez em que ganhei uma medalha – Viena, 2002. Digo isto e lembro-me de todos os outros momentos. Acho que o melhor momento ainda está por vir.

FRANCIS OBIKWELU: 100 E 200 METROS. Francis Obiorah Obikwelu é o velocista luso-nigeriano que detém o recorde europeu dos 100 m, com o tempo de 9.86. Obikwelu foi o precursor nas provas de velocidade e marcou a história dos 100 e 200 m no país. O atleta que nasceu na Nigéria, em 1978, representou as cores do seu país em Atlanta, em 1996, obtendo o 5º lugar nos 100 m.

Ganhou o ouro no Campeonato da Europa de Atletismo de 2002, após a revelação do uso de doping pelo vencedor da corrida, o inglês Dwain Chambres. Em 2004 foi prata nos 100 m das Olimpíadas de Atenas, conquistando a 1ª medalha de Portugal em provas rápidas, com o tempo de 9.86.

Em julho o atleta baixou progressivamente seus tempos: no Meeting de Salamanca conquistou o 2º lugar com 10.15; em Madri ficou novamente em 2º com 10.08; por fim, no Meeting de Roma, venceu a prova com o tempo de 10.04. Obikwelu é treinado em Madri por Maria Martinez.

CR: Por que mudou-se de Lisboa para Madri em 2003?

Francis Obikwelu: Mudei porque em Madri consegui melhores condições de treino, nomeadamente uma pista coberta e também porque a minha nova treinadora estava lá.

Como está sendo sua preparação para Pequim?

Não estou fazendo uma preparação só para os Jogos Olímpicos. Estou me preparando para uma época inteira, que terá o seu auge em agosto. A preparação de um atleta deve ser contínua. O meu treino acima de tudo consiste em adquirir muita força, bem como aperfeiçoar a técnica para correr mais rápido.

Quais profissionais acompanham a sua preparação?

O meu trabalho é desenvolvido apenas com a minha treinadora, sob a supervisão regular de um médico.

Você possui algum suporte de psicólogos?

Embora reconheça a importância que o suporte psicológico possa ter para alguns atletas, desde cedo aprendi a gerir sozinho as minhas emoções e com o apoio das pessoas que me rodeiam.

Como avalia suas chances em Pequim nos 100 e nos 200 m?

Mesmo sendo os Jogos Olímpicos, entro em todas as provas com a mesma motivação. Ganhar! Não faço prognósticos, nem penso nos adversários. Concentro-me apenas em mim e no trabalho que desenvolvi. Não só para os Jogos Olímpicos, mas para todas as provas em que compito, o desafio é sempre o mesmo, superar-me.

Qual foi a vitória mais especial de sua carreira?

Naturalmente a medalha de prata dos Jogos Olímpicos de Atenas, por ser a maior competição do mundo. Foi bastante emotivo e espetacular, porque anos antes tinha tido uma lesão e os médicos achavam que eu nunca mais ia correr e não só consegui recuperar, como ainda concretizei o sonho de ganhar uma medalha olímpica.

NELSON ÉVORA: SALTO TRIPLO. Évora, atleta do Sport Lisboa e Benfica, nasceu em 1984, na Costa do Marfim, imigrando para Portugal com 5 anos. Especialista em salto triplo, foi campeão mundial na modalidade, em Osaka, no Japão, com a marca de 17,74, superando Jadel Gregório, que ficou com a prata, ao saltar 17,59. Atualmente é treinado por João Ganço, antigo recordista nacional de salto em altura.

Évora venceu duas importantes provas de salto triplo no mês de julho: o Meeting de Madri, com a marca de 17,40, após ter realizado somente 3 saltos válidos em função do vento contrário; e o de Atenas, alcançando a melhor distância nacional do ano: 17,23. É um dos mais jovens atletas portugueses, que poderá surpreender em Pequim.

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