Não sou daqueles que ficam criticando o Brasil e achando que lá fora tudo é melhor. Hoje, fazemos muitas coisas muito bem-feitas. Mas em alguns pontos, a diferença é tão gritante que chama a atenção. Não há como ignorar. O que mais me impressionou na qualificação para Boston foi a organização da maratona.
Com o e-mail da confirmação de minha presença em Boston, recebi todas as informações sobre a prova. Todas. Dados sobre os documentos que receberei agora em outubro pelo Correio (se a greve acabar), quem procurar caso não esteja com todo o material em mãos até o começo de abril de 2012, os horários das largadas, dos ônibus que levam para a largada, tudo sobre a entrega do kit (com datas, horário e local), o jantar de massas, desconto em passagens aéreas dentro dos EUA, hotéis… ou seja, absolutamente tudo.
Claro que vivenciarei e analisarei na prática, mas, se a primeira impressão é a que fica, a relação com Boston começou com o pé direito.
Outro exemplo: no próximo domingo, teremos a Maratona de Chicago. Fazendo pesquisas no site, há todas as informações sobre as baias de ritmos de largada e o tempo que cada grupo levará para cruzar o pórtico e dar início realmente aos 42 km. Ou seja, os corredores são respeitados.
Aqui no Brasil, é tudo tão difícil, que quando recebo e-mail como o que reproduzo abaixo, fico até surpreso. Positivamente, é verdade, mas surpreso.
“André bom dia, e aí como foi a prova de ontem? Gostaria de ouvir de vocês, que são atletas, o que acharam do evento? A opinião de vocês é muito importante para nós.”
Foi enviado pela Renata Magoga, do Marketing do Grupo Amarelinha, que organiza a prova de Itatiba de 10 km que corri pela segunda vez no último domingo. E, como a prova evoluiu do ano passado para este, sei que nossa opinião é realmente levada a sério. Se as provas “menores” fazem isso, porque as “grandes” não pensam dessa forma?
Sendo realista e frio, a relação entre organizadores e corredores é de consumo. A prova oferece um serviço e nós compramos. Sendo bem atendidos, com tudo funcionando corretamente (distância aferida, largada no horário, hidratação correta), voltamos com prazer e fazemos a antiga e eficiente propaganda boca-a-boca. Se o serviço é ruim, não voltamos. Não é assim quando vamos a um restaurante, por exemplo?
Voltando às duas maratonas americanas, se com 26 mil (Boston) e 45 mil inscritos (Chicago), os organizadores conseguem fazer tudo funcionar, por que as nossas com 3 mil concluintes (no máximo) batem cabeça? Sinceramente, impossível encontrar uma explicação pelo menos aceitável. Chegaremos lá um dia, não precisa demorar muito, mas para isso uma mudança de mentalidade dos organizadores é mais do que necessária. O ponto positivo é que, com tantas opções de provas que temos hoje, o próprio mercado fará essa regularização.