Performance e Saúde Redação 15 de junho de 2018 (0) (290)

Por que os iniciantes “quebram” na maratona?

Correr a primeira maratona é sempre um evento marcante. Corredores dos mais diversos graus de performance encaram a prova com respeito: além dos 42 km correndo, a pessoa sabe que o verdadeiro desafio são os meses de preparação que antecedem a prova. E para os iniciantes, o desafio é ainda maior.

Não é pouca coisa sair de uma rotina de 30, às vezes 20 ou ainda menos quilômetros semanais e se dispor a enfrentar algumas semanas de treinos além da marca dos 60 quilômetros por semana. Para estes corredores, a maratona não é simplesmente uma questão de ritmo: muitas vezes é uma questão de ser ou não capaz de suportar a distância inteira correndo, seja em qual ritmo for.

E é justamente para estes corredores que a frustração pode ser muito grande quando os planos dão errado, pois como seu nível de condicionamento ainda é relativamente baixo, frente ao desafio a que estão se submetendo, pequenos erros na hora da competição podem ter uma influência muito alta no resultado final.

Um dos principais erros dos estreantes na maratona é com relação ao ritmo. O que leva alguém a fazer toda sua preparação pensando em completar a maratona em 4h30 e após o primeiro quilômetro decidir que talvez seja possível tentar sub 4h15? Por mais absurda que pareça, esta é de fato a atitude de diversos corredores, e por algum motivo, quando se está começo dos 42 km, este tipo de escolha pode parecer realmente uma alternativa viável, pelo menos por alguns quilômetros. O problema é que, normalmente, a realidade chama logo ali, depois da marca da meia-maratona.

ESFORÇO CONTROLADO. Parte do problema vem do fato de o ritmo de corrida durante uma maratona ser “sub-máximo”, seja qual for a capacidade do corredor. Ou seja, a qualquer momento o corredor pode aumentar a sua velocidade de corrida se assim quiser. Apesar de ser sub-máximo quando analisado isoladamente, o ritmo deve ser aquele que o corredor seja capaz de sustentar ao longo de toda a distância.

Visto de outra forma, uma maratona bem feita envolve um esforço constante para “segurar” o ritmo de corrida. No entanto, o iniciante muitas vezes não percebe que ele mesmo não é capaz de descobrir qual é o seu ritmo ideal. Não é incomum que estreantes relatem que “estavam se sentindo tão bem que até correram mais forte que o planejado” nos primeiros quilômetros de uma maratona, ante de encontrarem o famoso “muro”.

E muitas vezes o erro é justamente este: a pessoa não percebe que, se tiver feito seu treinamento adequadamente, ele deverá estar se sentindo estranhamente bem no dia da prova, especialmente na primeira metade. Isso, contudo, não quer dizer que novas metas possam ser traçadas; é simplesmente um indicativo de que os objetivos originais estão ao alcance.

DESCANSADO. Chama-se de polimento o período imediatamente antes da maratona, tipicamente cerca de 10-14 dias, quando o corredor diminui significativamente sua carga de treino a fim de permitir que o organismo atinja seu ápice. Nesta fase, o corredor normalmente foca em colocar um pouco de velocidade nas pernas, se recuperar da carga de treino, repor os estoques de glicogênio e acostumar o organismo ao ritmo da competição.

Uma questão interessante com relação ao período de polimento é que, por definição, o indivíduo deverá se sentir mais leve/veloz no dia da prova, pois todos os treinos longos anteriores devem ter sido feitos em cima de pernas mais ou menos cansadas, dependo da fase de preparação, enquanto que no grande dia ele deve estar em sua melhor forma. É preciso que o estreante entenda que esta é uma parte natural do seu planejamento, e que o fato dele estar se sentindo muito bem nos primeiros quilômetros não é um milagre do acaso.

EUFORIA. A euforia da largada é outro problema. Se a largada de qualquer prova altera o estado emocional do corredor, o que dizer sobre um evento como a primeira maratona, onde você está em dúvida até sobre se é capaz de completar a distância e chegar em casa para o almoço com as próprias pernas.

As descargas hormonais decorrentes do nervosismo e estresse na hora da largada também ajudam a embaralhar a percepção de esforço, que já estão um pouco confusas pelo período de polimento. Estas alterações hormonais colocam o organismo em modo de alerta máximo, diminuindo a sensibilidade a estímulos como dor, e também alterando a percepção de esforço.

No decorrer dos 42 km, no entanto, estas emoções se esvaecem, e quando voltamos a prestar mais atenção aos indicativos de que o ritmo está desajustado, teremos que lidar com o desgaste mecânico e metabólico causado pelo tempo em passamos os quilômetros em velocidades acima do que devíamos.

Paciência e disciplina são atributos-chave para o sucesso na maratona. Para quem está debutando na distãncia, é de vital importância aprender a lidar com as emoções iniciais da corrida, pois alguns poucos quilômetros muito fora do ritmo adequado podem ser o bastante para derrubar suas ambições de ritmo e por uma grande margem.

No início da sua primeira maratona, não acredite naquele você eufórico que de repente acredita ser capaz de correr mais que todos; acredite naquele outro, aquele que planejou cada passagem de km ou de cada 5 km e que não esqueceu dessas marcas na linha de largada.

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