


POR MICHELL IZIDRO
Voltar a Buenos Aires é sempre especial pra mim. A cidade não é só palco de belas paisagens e provas rápidas — ela carrega parte da minha história como corredor. Foi lá que vivi marcos importantes da minha trajetória: duas maratonas, uma meia e, acima de tudo, o meu primeiro sub-3 em maratonas. Dessa vez, o retorno teve ainda mais significado: viajei com minha esposa para comemorarmos nosso primeiro ano de casamento e celebrar a chegada da nossa primeira filha, que se chamará Marina.
Com esse pano de fundo emocional e uma preparação consistente depois da Maratona de Boston, alinhei na largada da Meia Maratona de Buenos Aires com um plano: correr para 1h17. Sabia que vinha de treinos fortes e me sentia bem, então resolvi largar um pouco mais à frente. Logo no início, colei em um grupo que vinha num ritmo firme, e a prova começou a fluir. A atmosfera da cidade, com sua arquitetura vibrante e ruas largas, parecia empurrar cada passada.
Conforme os quilômetros passavam, percebi que o ritmo estava mais forte do que o planejado, mas ao invés de frear, confiei. Quando faltavam cerca de 3 km, o relógio me mostrou que era possível algo impensado: fechar em 1h15. E foi ali, no momento em que as pernas pedem trégua e o pulmão arde, que a emoção tomou conta. Pensei na minha família, na Marina que vem aí, em tudo que vivi até chegar ali. A alegria virou combustível. Cruzei a linha com 1h15min32 no relógio (recorde pessoal), superando as expectativas.
Pra minha surpresa, esse tempo me colocou como o sétimo brasileiro mais bem colocado na prova, uma das meias mais rápidas e disputadas da América do Sul. Um resultado que me encheu de orgulho, não apenas pelo desempenho, mas pela jornada até aqui. Sou um cara do interior da Paraíba, que trocou a engenharia mecânica pela educação física, e a obesidade pelo mundo fantástico das corridas. Cada linha desse relato é uma celebração da transformação que o esporte proporciona e uma lembrança de que, com dedicação, paixão e propósito, podemos correr muito mais do que imaginamos.



