Sem categoria André Savazoni 6 de maio de 2017 (0) (249)

O marketing da Nike, o feito de Kipchoge e a expectativa para o mundo real

Crédito: Divulgação/Nike
Crédito: Divulgação/Nike

Em período pós-olimpíada do Rio de Janeiro, uma palavra volta à tona, os “legados” do projeto Breaking2 da Nike, que teve o “gran finale” neste sábado no autódromo de Monza, na Itália, com um feito impressionante do queniano Eliud Kipchoge, consagrando o excelente trabalho de marketing da marca e criando uma enorme expectativa para o mundo real.

Vamos a alguns pontos de destaque:

  1. Uma jogada de mestre. Essa é a melhor definição para o projeto de marketing da Nike. E isso não tem absolutamente nada de pejorativo. Não tenho os números, mas convicção de que a marca atingiu tudo o que esperava ao idealizar o Breaking2.
  2. E falar em marketing não é tirar nada do sucesso e dos resultados, apenas que se analisarmos esportivamente, não foi uma competição, não representa em termos de disputa uma maratona real e não seria homologado como recorde. Tanto que nunca vi a Nike usar “recorde mundial” como objetivo. A meta era o sub 2h.
  3. Eliud Kipchoge mostrou na pista de Monza o que já escrevi no ano passado: é o maior maratonista da história, o mais completo, competitivo, regular e mentalmente preparado. Na expressão coloquial, um verdadeiro “monstro”. O que falta, “apenas”, bater o recorde mundial. Mesmo antes do Breaking2, já estava nas mãos, ou melhor, nos pés dele. Agora, ainda mais próximo.
  4. Em termos de teste, de estudo, espero que a Nike tenha documentado tudo de forma científica, seguindo os protocolos, e que possa publicar isso para podermos acompanhar os detalhes, não apenas no campo de vídeos, entrevista e o documentário.
  5. Um ponto precisa ser destacado. Em termos de “realidade”, o projeto ficou muito distante de uma maratona verdadeira. Não foi na rua, não teve adversários, nem influências do clima (sem o controle), sem carros quebrando o vento, sem coelhos entrando durante os 42.195 m etc e etc. Nada disso tira o brilho de Kipchoge, antes de mais nada. Apenas é algo que não pode ser ignorado.
  6. Inúmeros projetos são testados em laboratório e, então, partem para o mundo real. Alguns com sucesso, outros não. O “tubo de ensaio” do Breaking2 foi concretizado. Funcionou e muito. Até mais do que eu imaginava. Pensava em algo como um sub 2h02, mas Kipchoge é de outro mundo, realmente. A maior expectativa que fica, pelo menos para mim, é o que será levado do Breaking2 para as ruas? O que todo o processo de treinamento, de preparação, fará nos três corredores, principalmente no Kipchoge? Mas por que não no Tadese na meia-maratona?
  7. Lembro de uma entrevista que fiz com o Paul Tergat há alguns anos e ele comentando sobre as barreiras psicológicas, ou melhor, sobre resultados que quebram esse “bloqueio”. O sub 2h05 dele na maratona, o sub 2h04 do Haile Gebrselassie, o que fez todos pensarem: “é possível! Tivemos o sub 2h03 do Dennis Kimetto e a aproximação do próprio Kipchoge, do Bekele e do Wilson Kipsang. Mas, ainda, o único sub 2h03 segue o Kimetto. Agora, com o 2:00:25 no Breaking2, o que significará para os outros?
  8. Em uma segunda edição do Breaking2, não descarto agora realmente um sub 2h (até hoje, eu pensava ao contrário), mas voltando ao mundo real, das maratonas, da competição e das ruas, sigo com o pensamento que segue distante, algo em torno de 10 anos ou até um pouco mais, ou seja, médio prazo. Fisiologicamente, acredito que ainda precisamos dar os passos um de cada vez, com mais gente sub 2h03, depois sub 2h02 e, então, quando vier o sub 2h01, o ideal do Breaking2, o 1:59:59 sairá do campo do “tubo de ensaio” para a realidade. Enquanto isso, pelo que fez hoje, Eliud Kipchoge merece aplausos em pé!
Crédito: Divulgação/Nike
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