20 de setembro de 2024

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Sem categoria André Savazoni 9 de março de 2011 (0) (155)

A corrida e a busca insana pela perfeição

Carnaval é um ótimo momento para descansar e relaxar. Sem deixar os treinos de lado, é claro. Depois de cumprir toda a planilha, com 18 km sábado, 13,5 no domingo e mais 12 na segunda-feira, aproveitei o estratégico dia de folga nesta terça-feira e a ajuda dos meus pais que ficaram com as crianças para assistir Cisne Negro, um dos destaques do cinema mundial em 2011, na noite de segunda.

Natalie Portman tem uma atuação esplendorosa como a bailaria Nina Sayers, uma jovem perfeccionista, com mãe dominadora e sexualmente reprimida. O filme retrata com maestria até onde pode chegar a cobrança, interna e externa, dessas jovens atletas – apesar de falarmos de dança, de balé, as garotas são verdadeiras esportistas –, que com 20 e poucos anos já são consideradas “velhas”. Situação exemplificada por Winona Ryder, que vive uma famosa bailarina “decadente” e “aposentada” aos 28 anos. O tema é polêmico, claro, sofreu críticas, mas não pode ser ignorado. Há exceções? Sim. Mas o filme não retrata uma situação hipotética, muito pelo contrário.

Podemos fazer um paralelo com as ginastas, que abrem mão de uma juventude, de uma adolescência, em busca de movimentos perfeitos, de controle mental acima da média para não errar, não falhar em situações de pressão extrema. Carreiras que, em sua maioria, terminam tão cedo quanto começaram. Será que vale a pena tanto esforço, tanta dedicação para pessoas tão jovens, ainda em formação física e mental?

É exatamente neste momento que entra a corrida em nossa conversa. E por que esse esporte é tão atraente e apaixonante. Exige dedicação? Sim. Os treinos são puxados? Desgastantes? Muitas vezes, principalmente para os atletas de elite. Mas não desumanos. Nem a perfeição é exigida nos mínimos detalhes. Há tempo para relaxar, para descansar, para evoluir, fisicamente e psicologicamente, como pessoas e esportistas. Etapas de vida e de treino não são queimadas. Nem podem, sob o risco de jogar tudo fora.

Na corrida, as distâncias evoluem gradativamente. Acompanham a evolução humana, o amadurecimento físico e mental. A maratona é o último estágio. Tanto dos profissionais quanto dos amadores (nessa análise, não estou incluindo os ultramaratonistas, verdadeiros super-homens e supermulheres). Você não vê um corredor com 18 anos ganhando em Londres, Chicago, Berlim ou Paris. No ano passado, Gebre Gebrmariam, da Etiópia, venceu a Maratona de Nova York aos 38 anos. Em 2009, Derartu Tulu, também etíope, foi a primeira colocada na tradicional prova norte-americana aos 37 anos, tendo a russa Ludmila Petrova, de 41 anos, em segundo lugar.

São esses fatores que a cada dia me deixam mais apaixonado por esse esporte. Há espaço para todos. Treinando, se esforçando, todos nós atingimos nossos objetivos, mas sem uma busca insana pela perfeição, pelo movimento único… Felizmente. Que bom.

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