Outro dia escrevi sobre o momento da corrida, que é nosso e de mais ninguém. Nas 24 horas diárias, talvez, para muitos, é a única parte em que pensamos somente na gente.
Outro fator que me atrai também é a competição individual, novamente, você contra você. Até porque se na elite já há problemas de desigualdade, imagine entre os amadores?
Como comparar pessoas de idades diferentes? E de profissões? E de vidas? Um exemplo: dois corredores de 40 anos se preparam para a mesma maratona. Um trabalha o dia inteiro em pé, horário rígido, tem dois filhos e todas as atribuições que isso confere, a questão financeira pesa na família. O outro é casado, mas sem filhos. Horário flexível, pouco tempo em pé, uma condição financeira bem estável. Um é melhor do que o outro? Claro que não. Mas são vidas totalmente diferentes e isso reflete de uma maneira ou de outra no esporte. Substitua por mulheres e será igual.
Exemplos não faltam. Claro que gostamos de nos desafiar, mas é preciso sempre colocar as coisas na balança, até para não nos cobrarmos além da conta. Se pensar assim, só irá lhe fazer mal. Experiência própria.
No meio do planejamento para uma prova-alvo, diríamos uma maratona, o filho fica doente ou você perde o emprego ou tem uma viagem a trabalho que toma todo o tempo por quase duas semanas ou uma meta a cumprir profissional e aqueles dez dias serão de virar a noite trabalhando… Se não repensar tudo…
Na elite, entre os profissionais, isso já ocorre, com diferentes condições de estrutura de treinamento, de apoio financeiro. Em tese, deveriam chegar em uma mesma competição em situações parecidas, mas sabemos que a realidade é bem longe disso. Para os amadores, então!
Há quem corra a vida inteira e não perceba isso. Faça discursos acalorados e, na prática, totalmente o oposto.
Traçar uma meta de tempo e ir atrás dela, buscar uma distância maior, completar uma prova sonhada… Objetivos não faltam. Mas use isso a seu favor.
Ter bons exemplos é ótimo, se motivar com o resultado conquistado por um amigo, também. Claro. Saiba, entretanto, o que está em suas possibilidades. Nem digo de desempenho de um número ao final da prova, mas na realidade da vida. Do cotidiano. Somos profissionais atletas e não atletas profissionais.
Desafie-se, mas você contra você. Esse é o gostoso. Baixar aquele tempo que fez naquela mesma prova, com o mesmo percurso, dois anos depois? Excelente. Voltar ao local da primeira meia-maratona ou da primeira maratona e correr bem melhor, não apenas em tempo, mas em sensação, em controle.. Tem coisa melhor do que isso?
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Belo texto André.
E tem bastante atleta amador por aí que quer ter vida de atleta profissional…
Eu fico feliz por estar correndo sem grandes pausas desde 2002. E no momento persigo a meta de 18 minutos nos 5 km. Nem que eu chegue nessa marca quando tiver 60 anos, mas vou chegar.
Mas não vou fazer de conta que sou atleta profissional, e também já não sacrifico tanto as outras áreas da minha vida por causa da corrida.
Adorei o texto André. Disse o que penso. Se não for desta forma a corrida perde o sentido. Obrigada por compartilhar.
Penso igual, Julio.
Também não sacrifico outras áreas, ou melhor, não deixo de fazer o que tenho vontade.
Com esse calor, se tenho vontade de tomar uma cerveja na quarta-feira, mando ver. Um vinho? Idem. Doces, que adoro?
Treino, me dedico, mas sei que há uma diferença grande para os atletas profissionais, realmente.
Abraço
André
Penso dessa forma mesmo, Dani.
Bj
André