POR RICARDO HIRSCH | @rihirsch
No mês passado vimos o anúncio da organização da Maratona de Chicago mostrando os novos índices para obtenção de vaga para correr a prova de 2025.
Ao olhar rapidamente os tempos, notei que estavam abaixo do que foi o corte para Boston 2025 e isso acendeu um sinal de alerta.
Eu particularmente não sou a favor de índices para amadores participarem de provas, sejam elas de qualquer modalidade. Gosto mesmo do esquema abriu (inscrição) fez… quem estiver pronto para se inscrever garante a oportunidade de estar na linha de largada. Direitos iguais a cidadãos comuns (atletas amadores).
Índice me remete a atleta profissional, aquele que vive do esporte, que tem que lutar por classificação, poder estar em um ranking, ter patrocínio e esse sim representar o país. Para o amador, entendo por exemplo o que foi criado este ano, o índice para amadores participarem do mundial que acontecerá na Austrália.
Respeito a opinião de quem pensa de forma diferente com relação a isso. O que me incomoda um pouco é ver a postura que alguns corredores têm perante aos que não têm esses índices. Se colocam como pessoas “especiais”, super corredores (menos… bem menos).
No final das contas, somos todos iguais. Largamos do mesmo lugar e chegamos na mesma linha de chegada, uns mais rápidos outros menos, mas os 42,195 km serão iguais para o primeiro ou último amador. E dar muito valor para esses corredores mais rápidos acaba acentuando algo que já existe, o desejo de querer evoluir para fazer parte, sentir o pertencimento a uma “elite” amadora e alguns escolherem o caminho não saudável (e ilegal) para alcançar esses índices.
Em 2019 estive na maratona de Boston (sem nunca querer estar lá). Cheguei lá para correr pela minha esposa, que estava classificada no ano anterior e por um problema de saúde não pode fazer. Ela só queria ir, pois ama viajar, queria levar nossos filhos para conhecer a cidade e aproveitaríamos o momento para desfrutar de dias viajando em lugares que são muito legais.
Além de Boston, Chicago é INCRÍVEL, assim como NY, Londres, Berlim, Tóquio… assim como também é Honolulu, Praga, Oakland, Osaka, Toronto entre muitas outras.
Pessoas que têm a mesma vontade da minha esposa e que não têm um índice não poderão viver estes momentos nestas maratonas, e isso é ruim para o esporte, é ruim para a grande massa do mercado da corrida. É limitante para propagação do que o esporte é em sua essência, faz com que uma minoria possa disfrutar de algo que é (ou era) o esporte mais democrático do mundo.
Ricardo Hirsch é educador físico, comunicador, maratonista e triatleta. Apresenta o podcast 3 Lados da Corrida e é autor do livro “Correndo atrás para chegar na frente“.