Blog do Corredor André Savazoni 14 de setembro de 2011 (9) (294)

Maratona é um eterno aprendizado. Em Punta del Este, foi mais um

O diferencial de uma maratona para as outras distâncias menores é que, por mais que você se prepare, sempre pode haver surpresas. Positivas e negativas. É algo implícito nos 42,195 km. Na Contra-Relógio deste mês, fiz uma entrevista com o Luiz Celso de Medeiros, que completou a 100ª maratona no Rio de Janeiro em julho. Com um detalhe: todas “para valer”. Medeiros me disse, com a propriedade de 4.219,5 km percorridos só nessas 100 provas, que uma maratona é diferente da outra, um constante aprendizado. Eu, humildemente, com minhas quatro maratonas completadas, vou comprovando isso na prática. Foi a lição que aprendi em Punta del Este, onde estive no último final de semana.

Leg: Chegada na Maratona de Punta del Este - 3:09:34 (18º colocado no geral e 5º na categoria)

Em meados de janeiro, comecei a parceria com o técnico Marcos Paulo Reis, com o objetivo de correr principalmente a Maratona de Buenos Aires, em outubro. Antes, faríamos a de Porto Alegre, em maio. Como já tinha ido para a Argentina no ano passado (corri a meia), troquei de maratona: Punta del Este seria o destino, após ouvir os comentários sobre a prova do amigo e companheiro de trabalho, treinos e blogs, Sérgio Rocha, do Corredólatra aqui ao lado.

Em Porto Alegre, obtive meu recorde pessoal na distância: 3:09:28. Baixando dos 3h27 que tinha feito em Curitiba, em novembro de 2010, na segunda participação nos 42 km. E segui os treinamentos para Punta. A separação entre as duas maratonas, de quatro meses, não seria o ideal (“longe disso”, me alertou o Marcos Paulo. Mas a preparação foi feita tranquilamente, cumprindo todas as planilhas e melhorando meus ritmos. Tanto que, nesse período, fiz meu recorde nos 21 km, com 1:29:16 na Golden Four Asics Belo Horizonte, mesmo tendo corrido para ritmo. Ou seja, não tenho do que reclamar.

Leg: Pôr-do-sol no Rio da Prata, visto da Casapueblo

Tinha um sonho de buscar um sub 3h em Punta, mas, como afirmei acima, maratonas são maratonas. No sábado, com a mudança do tempo e o vento fortíssimo no litoral uruguaio, já sabia que seria difícil manter o ritmo constante de 4:13/4:14 por km. Andando pela orla quase saí voando! Na manhã do domingo, no café da manhã, tomei a decisão: tinha treinado, estava pronto, por que não arriscar? E foi o que fiz. Não aliviei. Arrisquei. Poderia ter sido mais cauteloso e corrido com segurança? Sim. Talvez, o tempo seria mais baixo, mas faz parte arriscar.

Larguei mantendo um ritmo forte, o previsto com o Marcos Paulo. A partir do km 6, tive a companhia de um uruguaio, o Juan Carlos. Como Punta tem relativamente poucos inscritos (foram 352 concluintes na maratona), você corre muito, mas muito tempo completamente sozinho. Seja na prova como na rua, devido à pouca presença de gente já que é inverno e, como um balneário, a cidade está vazia. Então, o parceiro ajudou e muito. Revezamos quem ia na frente e ficava “de cara para o vento”. Do km 14 até por volta do 28, há subidas constantes na prova. Com vento contra, em regiões repletas de casas bonitas e árvores, com partes bem sinuosas.

Leg: Lobos-marinhos, os mascotes de Punta del Este

Passei a meia-maratona dentro do programado, 1h29. E segui assim até por volta do km 25. Nesse ponto, tínhamos alcançado outro uruguaio e um americano. O Juan Carlos, como estava “sobrando” tinha ido mais para frente. Meu ritmo caiu um pouco. Porém, o problema foi entre o km 29 e o 34, quando voltamos ao litoral e pegamos uma ventania no rosto. Confesso que, aí, perdi a cabeça. Desconcentrei, fiquei irritado com o vento, não sabia se forçava para passar logo por esse trecho, se reduzia… Foram, ao menos, uns quatro minutos perdidos nesses pouco mais de cinco quilômetros. Depois, a partir do km 35, consegui correr, fechando a prova em 3:09:34, em 18º no geral e 5º na categoria (1h39 na segunda meia). Seis segundos a mais do que em Porto Alegre (no km 30, para ajudar, derrubei o gel e a garrafa de água no chão, voltei para pegar… segundos perdidos da marca pessoal!).

Valeu muito à pena a experiência. Foi um grande aprendizado. O interessante foi que considero a prova de Porto Alegre bem mais propícia para tempo, mesmo com o calor (é mais rápida), então, senti que evoluí de uma maratona para a outra. Além disso, mesmo tendo feito muito mais força no Uruguai, estou com a perna inteira, sem dores, numa recuperação que até me surpreendeu. Em Porto Alegre, por quatro dias, doía tudo, principalmente a panturrilha.

Leg: Mari, que correu os 10 km em Punta del Este, com Carlos Paez Vilaro na Casapueblo

Falando da prova, a Maratona de Punta del Este tem tudo para crescer. A prova é bem estruturada e o que é melhor, os organizadores aceitam críticas e sugestões. E querem crescer. Conversei com algumas pessoas que tinham já corrido a prova e todos foram unânimes: há evolução ano após ano. Em 2011, o percurso sofreu algumas modificações por causa das obras de saneamento básico – em 2012, a expectativa é de que retorne ao trajeto do ano passado. Um ponto importante: como a cidade esvazia no inverno, há muitos restaurantes e bares fechados. A organização promete, para o próximo ano, firmar algumas parcerias na área gastronômica. O que será bem-vindo. Por outro lado, os preços de hotéis são bem mais baixos. Quem pretende ir, vale à pena, porém, um lembrete: para comer, os preços são semelhantes aos de uma cidade litorânea no Brasil.

Quanto às marcas pessoais, quanto mais rápido você treinar para correr, mais dependerá da vontade do vento de Punta del Este. E o passeio é muito bom (as fotos “falam” mais do que palavras).

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9 Comments on “Maratona é um eterno aprendizado. Em Punta del Este, foi mais um

  1. Parabéns meu caro! No teu caso, que tá voando baixo, sub-3h na maratona é apenas uma questão de um dia perfeito, com tudo funcionando certinho. Abraço

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    Carlos,

    É isso mesmo. É seguir treinando, baixando outras marcas. E arriscando de vez em quando. Faz parte. Espero ter muitos anos de corrida, então, vamos lá. Precisamos marcar uma prova para corrermos juntos.

    Abraço,
    André Savazoni

  2. Quando fiz minha primeira meia-maratona cravei 1:23:13, então pensei: Vai ser moleza baixar de 1:20. Isso faz 6 anos e depois de 17 meias-maratonas, todas acima de 1:23, vi como estava enganado.

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    Julio Cesar,

    Pior que é assim mesmo. Um dia perfeito, pode ficar uma marca para a vida. Vários fatores influenciam, não só o treinamento. E, para ser sincero, isso que é o gostoso da corrida. Nos 10 km, dá para acertarmos mais no ritmo, porém, na meia e, principalmente, na maratona, a situação muda.

    Abraço,
    André Savazoni

  3. Caro André, tenho sofrido esse mesmo dilema do treino/prova para uma sub-3h. A principio a prova escolhida é a de POA, mas caso não consiga, iria para Buenos Aires. Estou focado nisso, mas caso consiga os 3:05h – meu tempo pra Boston – já estou bem satisfeito. Só quem treina pra isso sabe o que é chegar no dia e não encontrar as condições, no mínimo, ideais para tal. Parabéns pelo tempo e pelos treinos. Abs

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    Tiago,

    Faz parte esse risco da maratona. O que considero bem legal também. Num primeiro momento, é frustrante, mas eu tinha me preparado para isso e não fiquei chateado. Corri o que dava no dia. Ainda tentei baixar minha marca, mas chegou uma hora em que a cabeça deu uma viajada, perdi a concentração, o foco, o que não pode ocorrer. Felizmente, voltei ao ritmo depois.
    Você escolheu duas ótimas opções. Porto Alegre e Buenos Aires. O importante é seguirmos com os treinos. Amanhã, tento a inscrição em Boston. Se conseguir, será provavelmente minha única maratona no asfalto em 2012. Se não conseguir, talvez, daí, “copie” suas escolhas, PoA e Buenos Aires, rs.

    Abraço,

    André Savazoni

  4. É isso mesmo que nos torna maratonistas, a distância é a mesma, mas as provas são diferentes. Como em Paris, lembras? Clima seco, quente, sensação de 30gr, túneis fechados, eu completamente desidratada e teimosamente corri 21kms em 1h45 para fechar em 3h30, kkkk, depois fui para os planos B/C/D e aprendí a lição: no meu caso: avaliar as condições do dia, da viagem, reconhecer meus limites… Adorei a matéria do Luis Celso de Medeiros, fiquei lendo, indo e voltando de um parágrafo para outro em uma tentativa de “aprender” com o seu exemplo! Parabéns pela maratona e pelo belo trabalho na revista.

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    Luciana,

    Temos muito o que aprender mesmo com o exemplo do Medeiros. E a forma como ele encara os treinos, as corridas, num momento em que a maior parte de quem entra numa maratona, só quer completar.

    Abraço,

    André Savazoni

  5. Ah, agora quando eu reclamar da ventania aqui do Sul vc não ficar dizendo que Jundiaí é pior…kkk…brincadeira!!!!!!!!!!!!!!:)))

    ——

    Luciana,

    O pior é que quando começou no sábado aquela ventania insana em Punta del Este, comentei com a Mari na hora: “E a Luciana vai dizer: eu falei, eu falei”, rs”. E aí está, você falou!
    E, realmente, eu achava que Jundiaí era a cidade do vento, agora, nem estou mais ligando.

    Abraço,
    André Savazoni

  6. Olá!

    Tbm estive em Punta, e realmente assino embaixo de todas as observações feitas pelo André. Minha meta em Punta era fazer sub 3h e 30 min. Alcancei a meta, mas ficou a sensação que poderia ter sido melhor. E daí fico pensando, se na próxima chance vou conseguir um tempo ou a chance de ter um tempo tão bom…..
    O vento atrapalhou em muitos momentos, muitas vezes além do vento, as subidas com vento.
    O pior trecho é mesmo na faixa dos 29 até a virada. Pois o vento castigou muito junto com as subidas. E mais o fato de ir e voltar muito no mesmo percurso. Você está lá batalhando na subida, faltando um monte para virar, e começa a ver os outros passando por ti. A parte mental tem que estar e ser bem controlada!
    Abraço!
    Marcelo

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    Marcelo,

    Foi esse trecho mesmo, das subidas com vento no peito, do km 29 ao 33, 34, mais ou menos, que perdi mesmo a cabeça.
    A prova é boa, bem organizada, mas o desempenho nosso está diretamente ligado à força do vento.
    Mas, tenha a certeza, se fez esse tempo com as condições que estavam, num dia em que o clima ajudar, baixará sua marca. É a diferença da maratona para as outras provas: não é só o treinamento que define seu tempo de conclusão.

    Abraço,

    André Savazoni

  7. Olá André, tudo beleza? É muito legal e motivador lhe conhecer pessoalmente e saber da sua persistência, dedicação e humildade, PARABÉNS!!!! Vou lhe acompanhando para pegar alguns ensinamentos e dicas e encaixar nos meus treinos. Abraços, Fábio Pena

  8. Olá André!

    Geralmente as maratonas “difíceis”, ou seja que apresentam alguma dificuldade com altimetria variada ou vento contra são as melhores para te preparar para baixar um recorde pessoal quando você for participar de uma “fácil”, claro que no dia que você estiver se sentindo bem. Por isso aventure-se, como fez quando fez a Meia-Maratona em Bombinhas, continue a se interessar em participar nas mais desafiadoras maratonas. Pois depois da “tempestade” é que vem a “bonança”. Abraços!!!

  9. Desculpe, mas fazendo 1h29 na meia, não fará sub 3h nos 42k. respeito muito o M.P. Reis e sua opinião, mas antes de pensar em sub 3h treine para ser mais veloz. Eu tenho 3:40 de média, corri para 4:06 em POA e todos os meus clientes correm os 42k com 30seg. acima da marca de 10k e tem dado certo em 80% dos casos. Logo dobrar tempo de 21k como teu caso, só se fosse mais experiente, ou mais rápido.

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    Murilo,

    Sua opinião é bem importante. Treinar para as provas de meia e 10 km, ganhando velocidade, tem toda a razão. Vou fazer isso mesmonos próximos meses. É algo que nunca fiz. Mas o 1h29 na meia, por exemplo, foi feito nos dois casos em treino de ritmo para a maratona. Não corri para a prova. Corri no ritmo que gostaria de fazer a maratona. É claro que baixando essas marcas, fazendo 1h25, 1h26 na meia, tudo ficará mais fácil. Agora, a palavra impossível, não usaria. Até porque tenho um amigo, por exemplo, que fez 3h04 na maratona e não tinha nem abaixo de 1h30 na meia. Fez 1h28 neste ano depois da maratona. Existem parâmetros importantes e fundamentais na corrida, mas não a considero uma ciência exata, outros fatores acabam influenciando.

    Um abraço e valeu pelas dicas,

    André Savazoni

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