20 de setembro de 2024

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Sem categoria André Savazoni 10 de maio de 2016 (8) (137)

Rumo a Porto Alegre: Como era treinar e correr uma maratona há 31 anos

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Chegada de Jorge Ferrari (número 138) na Maratona de Porto Alegre de 1987

Jorge Ferrari Freitas tem a vida de corredor ligada à Maratona de Porto Alegre. Ele conta que recomeçou a correr há pouco mais de dois anos. Usou a edição de número 32 da prova gaúcha, a do ano passado, como alvo dos treinos e de motivação para correr. Até então, depois de muitos anos, minhas atividades físicas não passavam de esporádicas caminhadas no final de tarde. Mas havia um fator ainda mais primordial. A maratona de 2015 marcou 30 anos da primeira participação dele em Porto Alegre, na terceira edição, em 1985! Voltando no tempo, ele conta um pouco dessa história no blog e como era correr uma maratona há três décadas.

“Participar de uma maratona em 1985 era algo bem diferente e cheio de dificuldades se comparado com os dias atuais. Morando em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, as informações principalmente sobre a preparação, sobre treinamento eram nulas.

Fiquei sabendo da existência da prova em Porto Alegre no ano anterior, após a cobertura dos resultados da prova na edição de segunda-feira do jornal. Como eu já vinha correndo por minha conta, distâncias menores, ou como se chamava por aqui, fazendo um cooper no final do dia, fiquei interessado em participar.

 Minha lembrança mais antiga de uma maratona é a dos Jogos Olímpicos de Munique em 1972. Achava uma loucura correr tamanha distância e com meus poucos anos de vida não compreendia bem o que significava e como seres humanos podiam fazer aquilo.

Sabendo da existência de uma prova de maratona, relativamente perto da minha cidade, no meu Estado, sem dúvida botei na cabeça que na próxima edição estaria lá e iria concluí-la. Parecia impensável, mesmo hoje, fazer um treinamento tão longo, com um objetivo tão distante. Não existia academia, grupos de corrida e nem ninguém que corresse na minha cidade. Quantas vezes fui chamado de louco e outras coisas ou ainda chavões como: vai pegar uma enxada, vai rachar lenha etc…

Treinava seguindo o método LSD (Long Slow Distance). Fazia chuva, frio e até neve e eu firme treinando para meu objetivo. Tive acesso à revista pioneira no assunto no Brasil, a revista Viva, e também comprei um livro de corrida do James Fixx, “O Guia Completo de Corrida”, que juntamente com o livro de Ayrton Ferreira, “Maratona”, formaram a base para os treinamentos que duraram exatas 40 semanas. Ainda tenho o Diário de Corrida, devidamente anotado com todos os treinos que realizei. Completei o percurso em 1985 em 4:58:14.

Sobre a Maratona de Porto Alegre de 31 anos atrás, era muito diferente da atualidade. O percurso já era bem demarcado, mas bem diferente do atual. Largada e chegada no Parcão, na avenida Goethe. Seguia então em direção à avenida Ipiranga, Salvador França, Aparício Borges, Teresópolis, Nonoai, Eduardo Prado,  Tramandaí, Cel. Marcos e vinha da zona sul de volta ao Parcão passando pelo Centro. Não tinha medalha de participação, não tinha camiseta de finisher, postos de águas eram bem menos do que hoje e isotônico nem sei se existia na época. Eu pelo menos não conhecia. Não tinha chip e o controle era feito por fiscais em pontos estratégicos que recolhiam uma papeleta com o número do atleta que era preso por alfinetes junto ao número de peito. O percurso, devido ao número de participantes, era muito solitário e, se hoje a população praticamente não liga para a prova, imagina naquela época.

Foi uma enorme luta para chegar ao final, conheci o temido muro, caminhei, cheio de bolhas nos pés, não existia essa profusão de escolhas para tênis de corrida, mas o final me reservou a lembrança mais forte que tenho de uma maratona, aquela que realmente quando me lembro me emociona demais. Ao subir a avenida Goethe perto já da chegada na passarela do Parcão, hoje batizada de passarela Corpa dos Campeões, e ouvir o som de música ainda inaudível e ao chegar mais próximo ouvir o tema de abertura de Carruagens de Fogo, foi demais, é claro que as lágrimas fizeram companhia até eu cruzar a linha de chegada.

Se compararmos as duas provas, com esse intervalo de 30 anos, muita coisa é diferente, notadamente a organização, que ficou muito mais profissional, passando longe do amadorismo absoluto da década de 1980. A interação dos participantes agora é muito maior, até porque, com o uso das mídias sociais, você fica sabendo muita coisa e acaba conhecendo muitas outras pessoas que também compartilham da paixão de correr. Há 30 anos não tinha isso, eu não conhecia ninguém que já tinha corrido uma maratona, era algo muito mais solitário. Hoje se tem um maior conhecimento de treinos, uma melhor oferta de produtos dedicados à corrida, isso era praticamente inexistente nos anos 1980. Falando sério e comparando as duas provas: a de 1985 e a de 2015, o que realmente é comum as duas é a distância.

Corri mais duas vezes essa prova, no ano de 1986 e 1987, quando fiz a prova em 4h05, e depois da minha volta corri o ano passado. Fiz a prova em 2015 com 54 anos e com uma apreensão muito grande de poder completar, foi difícil, mas conclui ela em 5:05:23. Ano passado ainda corri em Berlim e, claro, me apaixonei pela cidade, completando a maratona em 4:51:27.”

Amanhã, a história de Jorge Ferrari Freitas tem sequência, em um segundo capítulo, falando dos planos que ele tem para Porto Alegre, neste ano, que será um passo para o objetivo maior no segundo semestre. Mas para saber qual será, vamos aguardar o complemento da história!

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8 Comments on “Rumo a Porto Alegre: Como era treinar e correr uma maratona há 31 anos

  1. legal o relato das antigas

  2. Corri exatamente essa Maratona de Porto Alegre em 1987 e fiz 2h42’55”. Continuo correndo aos 58 anos e na última Golden Four Brasília fiz 1h28’52”. SAUDADES DESSA ÉPOCA!

  3. Posso falar com certeza que naquela época era muito mais difícil, pois o percurso tinha morros e subidas. A meia maratona era exatamente no pico do morro do Chapéu. se tivéssemos naquele tempo toda a informação, treinamento e material esportivo que tem hoje em dia, o tempo de prova seria uns 10 minutos abaixo. Mesmo assim, na Maratona do Rio do ano seguinte, corri para 2h34′, porque era um percurso plano. BONS TEMPOS!

  4. Desculpe, mas essa fotografia de chegada é da maratona de 1987 e não de 1985. Tenho a minha foto de chegada, exatamente com o mesmo carro e os soldados que estão aí na chegada, cavaletes e etc.

  5. Corrigido, Renato, obrigado.
    Abraço
    André

  6. Fantástico!

    compartilhado na página do Eu corredor de Rua no Face.

    Abraço

  7. Eu corri esta prova foi a primeira de 5, tenho a fotografia e fiz em 4:15

  8. É muito gratificante ver a evolução do nosso esporte! Muito bom artigo!

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