Com um sorriso no rosto, a voluntária com mais de 60 anos lhe entrega o número de peito, agradece por você estar em Boston e deseja uma experiência incrível.

O menino, com menos de 5 anos, no meio fio, encabulado, segura um copinho com gelo. Vira para o lado e observa a mãe, o pai e a irmãzinha um pouco mais velha. Então, olha nos seus olhos, levanta a mãozinha. Ao te entregar o copo, todo feliz, corre para a cerca da casa, pega mais um e volta ao mesmo lugar, na mesma posição, com a mesma expectativa de segundos atrás.

Você fez (You did), completou Boston, meus parabéns. Tenha orgulho. O senhor bigodudo então coloca a medalha no seu pescoço e sorri. Dezenas de vezes, centenas de vezes, milhares de vezes. Com a mesma alegria, com a mesma satisfação, com o mesmo carinho com os corredores.

Como não se emocionar? Como não encher os olhos de lágrimas? Como não querer voltar uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes? Essa é a Boston que precisa ser vivida, que precisa ser sentida, que precisa ser respeitada e admirada.

Essas são apenas pequenas histórias. Poderia contar inúmeras. Algumas, não esquecerei jamais. Como a que já contei aqui no blog sobre as pessoas nas ruas, na semana após o atentado de 2013, pedindo desculpas por não terem conseguido proporcionar um momento especial!

Isso se chama respeito, tradição, organização, valorização… os adjetivos são inúmeros. São 120 edições. Começou em 1897. O tempo constrói isso.  Sou repetitivo nesse ponto, mas Boston é das pessoas, da comunidade, dos 9.400 voluntários (isso mesmo, 9.400, não digitei errado), de gerações e gerações de moradores que fazem do evento uma festa única.

Boston é das das meninas com cartazes incríveis no Wellesley College; dos estudantes estrangeiros que fazem da região um polo de ensino (Harvard e MIT estão aí para comprovar isso, entre outros), dos hospitais e médicos de alto nível.

A enfermeira, no posto médico na chegada da maratona, enquanto me atendia, contando do excelente trabalho e competência de médicos brasileiros, principalmente cardiologistas, em Boston. Isso, em tempos tão sombrios por aqui, foi um ponto de orgulho em um coração que está duro por não acreditar mais em uma melhora. Uma ponta de esperança que veio também lá de Boston.

Há toda uma questão financeira para chegar a Boston depois da parte técnica, de treinar e fazer o índice. Não é fácil. Mas, sinceramente, sem entrar em mais detalhes, se eu e a Mari conseguimos, com organização e planejamento (durando um pouco mais ou um pouco menos), pode sim ser possível. Precisa ir à luta. Tem momentos em que você pensa em desistir (muitos momentos). A situação econômica do país principalmente neste momento atrapalha demais, mas tenho um lema de buscar, sempre, os meus sonhos.

Boston é um sonho que vale o esforço. Ou melhor, pode parecer um sonho, pode ser um sonho para muitos, mas ao chegar lá e viver essa experiência, vivenciar o que é essa maratona em toda a sua essência, por mais surreal que possa parecer essa afirmação, a realidade é muito, mas muito superior ao melhor dos sonhos!