Mario Ernesto Chaves da bela Caxias do Sul, na Serra Gaúcha (terra da família da Mari Savazoni, por sinal), é um exemplo de como a corrida pode ser benéfica para a saúde e qualidade de vida das pessoas. Ex-fumante, hoje tem o pulmão limpo para os treinos e os 42 km da Maratona de Boston.
“Comecei a correr em 2009, quando após 17 anos fumando resolvi parar. Com a parada, algo que nunca aconteceu em minha vida até então apareceu: a gordura. Nada anormal, mas para quem sempre foi muito magro, ter de abrir o botão da calça para sentar e respirar normalmente foi a gota d’água para mais uma mudança.
Lembrei dos tempos de criança quando chegava da escola e, mesmo tendo treino de handebol no final da tarde (muitas vezes em 2 turnos), passava a tarde jogando bola e brincando na rua (sim, já foi possível fazer isso). Perna e pulmão (santa ironia) nunca foram problema, então, ‘Vou começar a correr’.
Durante algum tempo meu treino consistia em sair de casa rumo ao Parque dos Macaquinhos (o Ibirapuera de Caxias do Sul): uma caminhada de pouco mais de 1 km, meia volta no percurso de 650 metros em um ‘trote de jogador aposentado’, definição essa de meu irmão mais novo – Samuel que me acompanhou em alguns treinos.
Com o passar do tempo, já conseguia fazer várias voltas no parque e a saída para a rua veio naturalmente. Com ela, uma nova tribo, a busca por uma assessoria esportiva, as primeiras provas de curta distância e afins.
De lá para cá foram seis maratonas (4 em Porto Alegre, 1 em Caxias do Sul e 1 em Punta del Este), algumas meias e uma infinidade de provas de menor distância.
Corro outras distâncias, mas sou apaixonado pela maratona. Acho a prova que mais cobra e devolve ao corredor. Ela cobra uma preparação diferenciada, estafante muitas vezes, mas o retorno ao cruzar o pórtico e, em um instante tu relembrar todos os perrengues que passou até aquele momento, é mágico. Ainda não consegui terminar uma maratona sem chorar.
A escolha por Boston veio de uma reportagem sua, André Savazoni, que li na Contra-Relógio. Algo chamou a minha atenção: o desafio. Não basta querer correr em Boston, tu tem de conquistar o direito de corrê-la. Falei com meu treinador – Marialdo Rodrigues – sobre esse desejo. À época tinha 4 maratonas e 3:33:03 como melhor tempo. Precisaria baixar mais de 18 minutos meu tempo para o índice. Ele montou minha planilha com a prova-alvo sendo a Maratona de Punta. Me enviou completa, todo o ciclo, e ao final dela uma observação: ‘Bom… se tu fizer 100%, te garanto sub 3:10, como sei que é difícil fazer tudo, se tu fizer acima de 80%, já dá os 3:15…’ Moral da história: fechei Punta em setembro de 2014 para 3h09. Nove meses depois, em Porto Alegre, 3:06:49 e finalmente a certeza de que dificilmente cairia para o índice do índice.
Agora me preparo para a prova em Boston. Como moro numa cidade serrana, treino em desnível faz parte de todos os treinos que faço regenerativo, ritmo, longo – por incrível que pareça ao menos nos treinos de pista escapo das subidas/descidas. Tem sido bem intenso esse ciclo de treinamentos, mas apesar dessa intensidade sem nenhuma dor, lesão ou susto (que siga assim).
A minha expectativa para a prova, nesse momento, faltando três semanas, está aumentando. Penso que apenas agora a ficha caiu: ‘Sim, eu estarei lá’. Primeira onda, curral 7. Se vier o sub 3h, excelente. Se não vier, vamos para o PB (recorde pessoal). Se não vier o PB, cara, eu vou ter um unicórnio em casa…
Boa prova a todos.”