Rumo a Boston: As mulheres na maratona – Valery Mello

Nessa terceira entrevista das homenagens às mulheres no mês de março, a personagem é Valéria Mello Cattaruzzi, mais conhecida como Valery Mello, que se prepara intensamente para estrear na Maratona de Boston, em 18 de abril. Será a quarta maratona dela. Mas nada melhor do que a própria corredora para contar a história.

“Meu nome é Valéria, tenho 34 anos, sou contadora, mãe, esposa e também maratonista, como esses loucos que correm 42 km por aí. Hoje meu tempo é dividido entre diversas horas de trabalho, estudos, zelo à minha família e, toda a parte livre, à corrida. Sou decidida, esforçada, dedicada e amo tudo o que construí.

2015.07.26_maratona_meia_maratona_e_family_run_rio_janeiro_JOR15MRJ24728Eu me considero um trator! Sou sócia de um escritório de contabilidade, trabalho em média 44 horas por semana e preciso estar atenta, o tempo todo, para não perder prazos. Além da minha rotina de trabalho, faço periodicamente cursos para me manter atualizada, cuido da minha família e, fora tudo isso, dedico a maior parte do meu tempo livre à corrida. E corro muito. Amo esse esporte!

Comecei a correr depois de engravidar, durante a gestação tive algumas complicações, quase perdi o meu bebê e precisei ficar de repouso. Para manter a calma, eu comia muitos doces, quando estava nervosa comia 1 chocolate e quando estava feliz, 1 bolo. Resultados: engordei 20 quilos, fiquei chateada e com vergonha do meu corpo.

Na virada de 2012 para 2013, decidi que queria mudar, emagrecer e melhorar minha autoestima. Em abril entrei em uma assessoria de corrida e em outubro já estava encarando a minha primeira maratona. Aos poucos, exatamente como é aprender a correr, o esporte assumiu uma boa parte da minha vida e se tornou uma grande paixão. Na verdade, correr é algo único e pessoal, cada corredor tem o seu motivo, o meu é me superar.

Foram três maratonas até agora: São Paulo em 2013 e 2014 e Rio de Janeiro, no ano passado, quando obtive os 3:25:07 que me levaram a Boston. O índice aconteceu. Corro há pouco tempo (três anos) e Boston parecia apenas um sonho. Um amigo comentou na largada que eu poderia conseguir o tempo e uma boa colocação na Maratona do Rio, então corri com isso na cabeça. Fui muito bem até o km 37, quando senti câimbra na perna direita e precisei parar. Um outro amigo passou e me incentivou a continuar. Consegui ir até o fim e ter índice, apesar de ter perdido pelo menos 10 minutos entre parar e diminuir o ritmo.

Com minha filha e um marido que não corre, preciso concluir os treinos bem cedo e/ou na hora do almoço. Treino todos os dias, inclusive aos domingos. Faço musculação, bike indoor e natação, além da corrida. Na questão da alimentação, para Boston resolvi levar a dieta a sério. Tirei doces, frituras, refrigerantes e chocolate, que eu amo! Uso suplementação com orientação da minha nutricionista e como a cada 2 horas, no máximo.

Mas essa rotina não é fácil! Muitas vezes fico cansada, com muitas dores no corpo, sem vontade de levantar, falta ânimo, falta energia, então penso nos meus resultados e objetivos e vou logo treinar. E sim, cada treino conta. Hoje estou totalmente dedicada à Maratona de Boston, a mais velha maratona do mundo.

Boston é um sonho. Um sonho grande! E todo grande sonho pede grandes esforços. Meus treinos não tem sido os mais fáceis, por que estou passando por um momento tumultuado na minha vida pessoal e no trabalho, com muitas mudanças, o que me obrigou a ter dedicar mais tempo ao trabalho e menos aos treinos. De qualquer forma, não deixo de realizar a planilha e me empenhar em cada atividade, apenas aprendi a otimizar o tempo para dar conta de tudo. Isso nos torna mais forte, principalmente a nossa cabeça. Algumas coisas que antes eram um problema, hoje são apenas um detalhe.

Falar sobre corrida me emociona, faz meu olhar brilhar. E eu amo o que construí, amo minha história, meus quilômetros corridos, a sensação de cruzar a linha de chegada. O esporte me ensinou a ter fé, confiança, planejamento e estratégia, hoje não vivo sem. Corro para ter melhores resultados, alcançar o meu menor índice, já ganhei prêmios, medalhas, troféus, mas a minha maior felicidade está na superação.

À noite não abro mão de estar com a minha filha, ela é a minha prioridade. Durante a gestação achei que fosse perdê-la, então valorizo muito. Aliás, cada abraço que recebo dela na linha de chegada, independentemente do resultado, para mim já é uma vitória. Faço isso por mim, faço isso por ela, faço pelos meus objetivos e, com certeza, quero fazer para a vida inteira.

Sempre que começo um treinamento para uma maratona sei que aquela que começa, nunca é a mesma que termina. A Valéria de hoje é com certeza mais forte que a de ontem. E assim, é toda mulher que corre… Forte!”

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