Performance e Saúde André Savazoni 26 de agosto de 2011 (13) (1357)

Correr é correr. Não importa o piso. Variá-lo, sim, é uma vantagem. Não é, africanos?

Quem gosta de correr, importa-se pouco com o piso. Com opções, é claro, vai escolher as melhores condições. Sem a chance da escolha, garanto que muitos que estão lendo esse texto agora foram correr onde era possível. Terra, grama, asfalto, concreto, paralelepípedo, praia… Poder variar o piso, sim, é uma grande vantagem. Que digam os africanos, filhos do cross-country e verdadeiros “fórmula 1” do asfalto.

Só para lembrar: os quenianos, “papa-tudo” da maioria das provas de fundo, ao lado de argelinos, treinam na maior parte do tempo na terra. No Quênia, nem é preciso dizer. Mas mesmo os que estão aqui no Brasil e espalhados pelo mundo, que não são poucos, fazem essa opção. Sem citar as pistas de atletismo, é claro.

Praticar a corrida ao ar livre, em terreno acidentado com seus obstáculos naturais – árvores, subidas e descidas com diferentes inclinações, pedras e buracos, riachos, erosão, grama, folhas caídas, terra batida ou com lama, raízes e galhos que nos obrigam a saltar –, é uma forma excelente de desenvolvimento da força, resistência, velocidade, coordenação motora, atenção, flexibilidade. Tudo o que é necessário para a corrida. Esse é o cross-country.

No bate-papo que tivemos, eu e Sérgio Rocha em maio com o mito Paul Tergat, ficou muito claro isso. Tanto que Tergat foi direto ao dizer o que mais sentia falta: cross-country, onde foi o “rei”. Essa é a base deles.

Assim, não é obrigatório fazer escolhas ou deixar algo de lado. Sem saber, com a vantagem de morar em Jundiaí (SP), corri muito em locais de terra. Quando comecei a treinar com seriedade, por três ou quatro vezes por semana estava na região do Horto Florestal (não vou muito mais pela questão da segurança e da preocupação da Mari, minha mulher, que tem suas razões). Atualmente, tendo a companhia de pelo menos um amigo, treino na Serra do Japi, o que só traz benefícios.

Mesclar treinos em pistas de atletismo e na rua, com o cross-country, considero ser o ideal. Outra vantagem: você ficará preparado para qualquer tipo de prova.

A escola portuguesa, nos tempos áureos, revelou excelentes atletas oriundos do cross-country, ou melhor, do “corta-mato”, como chamam a modalidade. Entre eles, Paulo Guerra, quatro vezes campeão europeu, e Carlos Lopes, tricampeão mundial em 1976, 1984 e 1985 (fato inédito entre os europeus no período pré-africanos). Veja: em 1984, além do Mundial de “Corta-Mato”, Lopes foi medalha de ouro e recordista olímpico na Maratona de Los Angeles, nos EUA. Para vencer a Olimpíada e o Mundial de Cross-Country no mesmo ano, não fez escolhas, uniu as preparações. Lopes ainda foi prata por duas vezes (1977 e 1983 no cross-country) e nos 10.000m na Olimpíada de Montreal (Canadá), em 1976.

Além de Lopes e Tergat, outro nome de respeito com base no cross-country é o etíope Kenenisa Bekele (tetracampeão mundial seguido tanto na prova curta quanto na longa) e ouro na Olimpíada de 2004 nos 10.000m e prata nos 5.000m. A lista é extensa, então estou citando apenas alguns.

Só para lembrar, neste ano, no adulto, Quênia fez dobradinha no Mundial de Cross-Country disputado na Espanha, com Paul Tanui em primeiro (33:52 nos 12 km) e Vincent Chekok em segundo (33:53). No feminino, nova supremacia queniana, com Vivian Cheruyiot (ouro com 24:58) e Linet Masai (prata com 25:07). Na terceira posição, a norte-americana Shalane Flanagan (25:10).

Com uma frase, em comentário no texto anterior aqui no blog, o grande Vincent Sobrinho definiu muito bem: “A montanha é um desafio, a maratona outro. Os dois juntos, dupla provocação aos nossos espíritos esportivos.” Perfeito. Correr é correr. Não importa o piso. Assim, vamos divulgando nosso esporte amado e ajudando no crescimento dele, o que beneficiará todos os envolvidos.

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13 Comments on “Correr é correr. Não importa o piso. Variá-lo, sim, é uma vantagem. Não é, africanos?

  1. Ôpa, favor não confundir a galera. Cross Country é uma coisa, corrida de montanha é outra bem diferente. Os trajetos de cross country clássicos não têm tanto desnível, e às vezes até são bem leves (grama). E a distância máxima de uma prova oficial de cross é de 12 km. No cross dá pra correr de verdade. Nas tais corrida de montanha que agora são moda a regra geral é se arrastar.

  2. Julio Cesar, se olhar o post, citei o treinamento, que beneficia a disputa de qualquer prova. Além disso, as distâncias não podem ser referência, já que há muitas provas de montanha com 12 quilômetros também. Quanto ao ritmo, discordo também porque sou amador, um corredor normal, e não me arrastei nenhuma vez em Bombinhas, muito pelo contrário. Outro ponto, já que falou em altimetria: já correu a Maratona de Curitiba? Tenho certeza que há provas de montanha com menos subida do que na capital paranense! E em Foz do Iguaçu, seja na Meia das Cataratas ou na maratona, que por sinal ocorre daqui a alguns dias. E, para finalizar, o cross-country é o início de tudo. Sem comparações com épocas, períodos ou evolução da humanidade, quando o ser humando começou a correr, fazia cross-country, rs. Abraço

  3. Julio Cesar,

    Existe o desafio de se estabelecer a diferença entre a corrida cross country e as Corridas de Montanha. Esta diferença tem sido contrariada porque a fronteira entre os dois é equivocadamente desfocada. O que se pode afirmar é que as Corridas de Montanha envolvem uma quantidade considerável, muito considerável, de subida e descida, aclives e declives acentuados, muito superiores ao que seria contemplada por uma corrida cross-country. A IAAF aplica para as Corridas de Montanha a regra 250.10 que é a mesma do Cross Country.

    ————————————————–
    Fábio, muito boa as explicações, principalmente em relação às regras na Iaaf. Um abraço, André

    Nas provas de montanha de alto nível não se caminha. talvez o que falte a você é um pouco de conhecimento e respeito a caçula das modalidades do atletismo.

  4. Está duvidando que não se corre veja o tempo do campeão brasileiro no video em http://corridasdemontanha.com.br/site/?page_id=201 pegue sua tabelinha de rítimo e veja se consegue fazer o tempo dele na rua, rs.

  5. Ola Amigos, Sou Naval Freitas Três vezes Campeão Brasileiro de montanha , e duas vezes vice, já fui a 4 Sul Americanos de montanha, e pretendo ir mais vezes, estou acompanhando o fórum e aprendendo com vocês muitas coisas sobre montanha, pena que tem alguns assunto não aproveitoso, mas temos que respeita o pensamento de cada um, parabéns o Fabio Galvão pelo seu relato e grande colaborador dessa modalidade.
    Eu realmente sou um Pangaré. Porque amo corrida de montanha, e troco qualquer prova do calendário nacional por uma competição de montanha, mais que importa pra mim e esta mim sentindo bem e fazendo o que gosto, dentro dos meus limites e respeitando o próximo, na corrida de montanha não se correr por tempo ou recorde, mais pela melhor colocação, cada percurso tem sua dificuldades e irregularidades construído pela natureza. Na montanha quem subestima ela, paga caro, a montanha é um espaço único que explora, desfruta e contempla um conjunto de sensações difíceis em busca de limite que só no final se interage com a realização de deve comprido e conquista alcançada, que só amantes de montanhas saberá reconhecer essa alegria.
    E dessa forma que um verdadeiro corredor de montanha se sente, um pangaré feliz.

    Naval Freitas. Assessoria Ritmo Certo

  6. O legal do cross-country é essa variação geral de tudo. Terreno, ritmo, o estímulo de grupos musculares diversos, é uma volta às raízes (em alguns momentos, literalmente…) já que nos primórdios da raça humana, só os ancestrais do Julio Cesar aí corriam no asfalto, mesmo antes de sua invenção…

  7. Prezado Fábio Galvão Borges,

    Por favor, peço a sua orientação sobre onde posso encontrar a regra 250.10 da IAAF. Pesquisei em diversos sites e só consegui achar até a 250.9. Desde já agradeço a sua atenção.
    Abraço,
    Juarez Lucas

  8. Pô Naval Freitas, sem essa de pangaré feliz. Fica até chato pra um atleta profissional como você falar isso. Confessa logo aí pra gente que vc foi pra corrida de montanha porque não teve vida fácil no asfalto.

  9. Olá André! Sempre defendi isso, inclusive já fiz dois treinos longos com o técnico Wanderlei de Oliveira, corremos por asfalto, terra, grama e até paralelepípedos, com muitas subidas, descidas e retas. Durante o treino, ele disse que quem só corre no asfalto tem mais dificuldade de desenvolver a velocidade em relação com quem corre em terreno variado. Abraços!!!

  10. Amigo Julio, não está tendo vida fácil em nenhum lugar. Todas as modalidades estão muito fortes, especialmente o Brasileiro de Montanha deste ano. Foi um dos mais competitivo de todos já realizados. Tivemos a presença de atletas com resultados expressivos em corrida no asfalto, como Israel dos Anjos, Fábio Chagas, Wellington Bezerra, todos na casa dos 29 a 30 minutos na rua e com índice técnico no Brasileiro de pista realizado este ano. A corrida de montanha realmente está sendo uma base para provas de rua, asfalto. Eu mesmo, depois de uma temporada de montanha, tenho uma melhora surpreendente nas provas de asfalto. Exemplo de resultados: correia prova da 11ª Corrida GRAACC – 10km – 08/05/2011 pra 32:23. Em continuidade dos treinamentos visando ao Brasileiro de Montanha , na 16ª Corrida Corpore Bombeiros – 03/07/2011 fiz 31:54, sendo um percurso com mais aclive em comparação ao da Craacc. Julio Cesar, para finalizar, a corrida em montanha traz resultados surpreendentes e benéficos ao asfalto. Só é preciso ser feito de forma correta e com acompanhamento de quem tem conhecimento. Veja agora o resultado do mesmo percurso depois de 16 semanas de trabalhos: Duque de Caxias – 10 KM – 21/08/2011: 31:33 e dia 28/08 Corrida 5 km Câncer de mama, 15:06. Julio, você precisa vir para as montanha com a gente, tenho certeza que vai se apaixonar e esquecer tudo o que falou sobre as corridas de montanha. Grande abraço e estamos te esperando de braços abertos.
    http://www.facebook.com/navalfreitas

  11. Juarez, tudo bem?
    Segue aqui um link das regras que foram alteradas no congresso da Iaaf de 2008: http://www.iaaf.org/mm/Document/imported/42192.pdf. Sinceramente, não sei se teve alguma alteração em alguma regra depois. teria que dar uma pesquisada na sessão de documentação do site da Iaaf. Mas posso te garantir que para o cross e montanha não teve mudança alguma.
    Abraço

  12. Prezado Fábio,

    Mais uma vez agradeço a sua gentileza.
    Muito obrigado!
    Grande abraço,
    Juarez Lucas

  13. Já tinha lido esse artigo. Muitas verdades, alguns exageros. Mas, de fato, comprei um tênis de 150 reais com amortecimento simples e estou muito satisfeita. Começaram me oferecendo um de 400.

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