Blog do Corredor Redação 24 de março de 2023 (0) (1612)

Consegui o índice para Boston na Maratona de Albany, na Georgia

Como grande parte dos corredores que sonham um dia correr Boston com índice, a médica nutróloga Fernanda Gavioli se programou para isso. Depois de algumas tentativas frustradas e de bater na trave por 28 segundos, para conseguir o objetivo, ela recorreu à Maratona de Albany, na Georgia (EUA), considerada uma das maratonas que mais classificam para Boston. A história de toda sua jornada rumo ao sonhado índice, ela conta aqui. 


POR FERNANDA GAVIOLI | @fernandagav

Em 2017, eu e duas amigas, sentadas batendo papo na mesa da cozinha, resolvemos nos inscrever para o sorteio da Maratona de Berlim. Treinava sozinha, nunca tinha feito maratonas e completei a prova em 4:33. Achei incrível e não demorei para me inscrever na próxima, Chicago, no ano seguinte, em 2018. 

Larguei para tentar um sub 4h. Mas já no início nada encaixava e no quilômetro 31 minha cabeça insistiu em parar. Não conseguia nem trotar. Caminhei 11 quilômetros com muito frio e chuva e terminei em 5:01. Foram os 11 quilômetros que mais me fizeram pensar. 

Trabalhava 14 horas por dia, treinava sozinha, muitas vezes na esteira. Percebi que já não fazia mais sentido trabalhar tanto. Queria treinar com outras pessoas, na rua. Também entendi que precisaria de ajuda profissional se eu quisesse mesmo fazer um sub 4h.

Voltei de Chicago já inscrita para a Maratona de Nova York e, por sugestão de um amigo, procurei o Adriano Bastos. Comecei a treinar com ele em novembro de 2018, com um propósito: terminar a Maratona de Nova York abaixo de 4 horas. 

Diminuí a carga de trabalho para 10 horas por dia, assim conseguiria treinar presencial. Os treinos passaram a render melhor e se tornaram muito mais divertidos.  Fiz RP nos 21 km e tudo estava indo bem até que rompi parcialmente o ligamento do tornozelo faltando 45 dias para a prova. Adriano fez minha planilha toda no elíptico. Achei aquilo um absurdo, ninguém corre uma maratona treinando no elíptico, mas ele estava seguro que daria certo. 

Então lá vou eu para a Maratona de Nova York, dia 3 de novembro, um lindo dia de sol. Larguei feliz. Eu só queria correr. Não tinha meta nenhuma de tempo. Era terminar. Para minha surpresa, finalizei em 3:46:21. Não acreditei quando olhei o relógio. Ali foi a primeira vez que me permiti sonhar com o índice para Boston.   

Dali em diante, não sei por quê, insistia que, se tudo desse errado, eu iria pegar meu índice na Maratona de Albany, na Georgia.

A primeira tentativa seria na Maratona de Floripa em 2020, mas veio a pandemia, prova cancelada, treinava em casa em esteira, do jeito que dava.   

Com a retomada das provas, inscrevi-me na Maratona de Porto Alegre, treinei forte, fiz um bom ciclo, estava preparada e tão segura que poderia conseguir que levei meus pais para assistirem a prova. No quilômetro 8 rompi a panturrilha, não queria parar, fui dentro da meta até o quilômetro 24, mas a dor piorou muito. Ainda insisti, mas desisti no quilometro 26,5 km. Eu não conseguia aceita. Aquilo não poderia estar acontecendo.   

No mesmo dia, conversei com o Adriano e decidimos que eu iria tentar novamente na Maratona de Floripa, dois meses depois. Fiquei sem correr quatro semanas por causa da lesão, fiz um ciclo curto e muito ruim. Não conseguia render, não completava os longos e fui para a prova desmotivada e insegura. 

Larguei de cabeça baixa, as condições climáticas não ajudavam, muito vento e chuva. Para minha surpresa, fiz uma boa prova e bati na trave, 3:40:28. Perdi o índice por 28 segundos!   

Voltei a treinar e três meses depois, rompi a panturrilha novamente. Deu tudo errado! Eu não tinha outra alternativa a não ser ir para a Maratona de Albany.

E lá fomos nós, eu e Adriano, para Albany. Ele iria correr comigo de pacer.  A prova é conhecida por ser pequena, muito bem organizada e uma das que mais classifica para Boston. Larguei segura, havia feito meu melhor ciclo, meus melhores treinos, estava pronta. 

Largamos guiados pela polícia, logo atrás da elite e dos pacers oficiais da prova. Para nossa surpresa, perto dos 400 metros, outro carro de polícia alertou os corredores que estávamos no sentido errado e que teríamos que voltar. Conclusão, teria que correr 800 metros a mais. O índice, que antes era 3:40 passou a ser de 3:36. 

Não me abalei, afinal não havia outro plano. Esse era o plano se tudo desse errado, então tinha que ser naquele dia. Eu não poderia falhar. E foi! Terminei a prova em  3:37:01, correndo 800 metros a mais.   


Finalmente, eu havia conseguido o tão sonhado índice para Boston.  

Espero que minha história sirva para não deixar ninguém desistir dos sonhos, mesmo quando tudo parece dar errado.

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