POR ANA PAULA SIMÕES | @draAnaPSimoes
O envolvimento feminino no esporte aumentou consideravelmente nos últimos anos, mas ainda temos muito que melhorar. Embora estudos iniciais tenham indicado que atletas do sexo feminino precisavam treinar em níveis mais baixos de intensidade do que atletas do sexo masculino, parece que isso era mais um problema social do que fisiológico. Hoje, as atletas são capazes de treinar e competir em níveis comparáveis aos atletas do sexo masculino, respeitando sempre a individualidade e periodização.
Embora existam diferenças no desempenho relacionadas ao gênero, as lesões atléticas femininas estão mais relacionadas ao esporte do que ao gênero. No entanto, algumas lesões relacionadas ao esporte, como fraturas por estresse e lesões do LCA, segundo a literatura, são mais comuns em mulheres. As diferenças de gênero em anatomia, fisiologia e treinamento podem contribuir para essas incidências aumentadas.
LESÕES MAIS COMUNS EM MULHERES
CONDROPATIA JOELHO. A condromalácia patelar, ou síndrome da dor patelofemoral, caracteriza-se pela degeneração da cartilagem articular da patela (ou rótula), um osso localizado na frente do joelho. Esse desgaste pode ocorrer devido a uma série de fatores, como traumas na região, sedentarismo, excesso de peso, desalinhamento do joelho, atividades físicas de alto impacto e idade. O fato de ser mais comum nas mulheres tem relação com o eixo das pernas femininas, que mais frequentemente apresentam um desvio conhecido como joelho valgo (joelho “em X” ou para dentro), mas outros fatores podem estar envolvidos. É recomendado fortalecimento e eventual aplicação de protetor articular para evitar a degradação (ácido hialurônico)
LCA. As lesões do ligamento cruzado anterior (LCA) ocorrem com mais frequência em esportes de rotação e mudanças de direção, como basquete, futebol e vôlei. Os dados de lesões da literatura mostram que atletas do sexo feminino lesionam o LCA com mais frequência. A maior incidência de lesões do LCA em mulheres provavelmente decorre de fatores complexos e inter-relacionados, possivelmente incluindo desequilíbrios na força dos isquiotibiais-quadríceps, frouxidão articular e equilíbrio dos tornozelos. O tratamento bem-sucedido geralmente inclui cirurgia.
FRATURAS POR ESTRESSE. Existem muitos fatores que contribuem para a maior frequência de fraturas por estresse em mulheres. Atletas do sexo masculino podem ter maior massa muscular, o que absorve melhor o choque. Em um estudo de atletas do sexo feminino, a diminuição da circunferência da panturrilha foi um preditor de fraturas por estresse da tíbia. A maior largura dos ossos masculinos também pode absorver melhor o choque.
A massa óssea e a densidade mineral óssea podem variar amplamente nas mulheres devido a vários fatores, incluindo influências hormonais e irregularidades menstruais. Baixa ingestão de cálcio e distúrbios alimentares podem contribuir para o desenvolvimento de fraturas por estresse. Por outro lado, as pílulas anticoncepcionais orais parecem ajudar a prevenir. Tanto para homens quanto para mulheres, um pé rígido e arqueado absorve menos estresse e transmite maior força aos ossos da perna, o que pode aumentar o risco de fratura por estresse. E estudos com atletas do sexo feminino mostraram que ter uma perna um pouco mais longa que a outra pode aumentar o risco de fraturas por estresse.
SÍNDROME DO DÉFICIT DO ENERGÉTICO (ex tríade da mulher atleta). Antigamente era definida como a combinação de desordem alimentar, amenorréia e osteoporose. Hoje esse distúrbio, que também ocorre nos homens, é comprovado que tem muito mais relação com gasto energético e metabolismo. As consequências da densidade mineral óssea perdida podem ser devastadoras para a atleta feminina. Podem ocorrer fraturas osteoporóticas prematuras e a perda da densidade mineral óssea nunca pode ser recuperada. O reconhecimento precoce da deficiência energética na atleta feminina pode ser realizado pelo médico do esporte por meio da avaliação dos fatores de risco e perguntas de triagem. Instituir uma dieta adequada e moderar a frequência do exercício pode resultar no retorno natural da menstruação. A terapia de reposição hormonal deve ser considerada precocemente para evitar a perda de densidade óssea. Um esforço colaborativo entre treinadores, fisioterapeutas, pais, atletas e médicos é ideal para o reconhecimento e a prevenção.
DORES NO ANTEPÉ. O nome é estranho, mas metatarsalgia significa literalmente “dor no metatarso”. Se você tem essa condição, pode sentir como se houvesse uma bola ou meia dobrada no seu antepé, incomodando e fazendo volume ao andar.
– Dedão – a mais comum é halux valgo ou rigidus
– 2º dedo – lesão da placa plantar
– 3º dedo – as bursites
– 4º dedo – neuroma de morton
– 5º dedo – joanete de sastre
Todos fatores relacionados à sobrecarga no antepé, onde a mulher sobrecarrega principalmente com o uso de salto. Mas tem solução! Usar mais conforto e corrigir a mecânica da pisada. Em casos excepcionais em que a deformidade já está acentuada, existe correção cirúrgica minimamente invasiva.
MULHERES, O QUE FAZER PARA NÃO SE MACHUCAR?
O aumento da educação dos pais, treinadores e atletas sobre os riscos à saúde nas atletas do sexo feminino, QUANDO OLHAMOS PARA OS HORMÔNIOS, ALIMENTAÇÃO, CICLO MESNTRUAL E PRINCIPALMENTE FORTALECIMENTO VETORIZADO PARA O ESPORTE, pode prevenir uma doença potencialmente grave que pode levar ao extremo de retirar a performance e até do esporte, o que obviamente não gostaríamos, não é, meninas?
Cuide-se e bons treinos!
Dra. Ana Paula Simões é ortopedista e traumatologista do esporte, professora instrutora e mestre pela Santa Casa de São Paulo, especialista em medicina esportiva e cirurgiã do tornozelo.
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