Blog do Corredor Notícias Tomaz Lourenço 10 de fevereiro de 2023 (0) (1172)

Por que as maratonas no Brasil não crescem, como acontece lá fora?

POR TOMAZ LOURENÇO

Estima-se que mais de 100 mil japoneses ficam frustrados a cada ano, por não conseguirem se inscrever na Maratona de Tóquio (FOTO), a mais difícil do mundo para se obter uma vaga. Conseguir correr os 42 km pelas ruas de Nova York no começo de novembro é outra enorme novela, para alegria das agências de viagem credenciadas, que garantem inscrição (paga!), desde que se compre o pacote aéreo+hotel.

Estes são dois expressivos exemplos de sucesso de maratonas pelo mundo, que envolve algumas dezenas de provas, sempre com milhares de participantes, entre eles muitos brasileiros, que vão em busca do chamado turismo esportivo, e já não tanto para conseguir um resultado “atlético”, com raras exceções, como se verifica entre os que conseguem se qualificar para Boston todo ano.

Km 42 da Maratona de Tóquio (Foto: Fernanda Paradizo)

Estima-se que mais de 100 mil japoneses ficam frustrados a cada ano, por não conseguirem se inscrever na Maratona de Tóquio, a mais difícil do mundo para se obter uma vaga. Conseguir correr os 42 km pelas ruas de Nova York no começo de novembro é outra enorme novela, para alegria das agências de viagem credenciadas, que garantem inscrição (paga!), desde que se compre o pacote aéreo+hotel.

Estes são dois expressivos exemplos de sucesso de maratonas pelo mundo, que envolve algumas dezenas de provas, sempre com milhares de participantes, entre eles muitos brasileiros, que vão em busca do chamado turismo esportivo, e já não tanto para conseguir um resultado “atlético”, com raras exceções, como se verifica entre os que conseguem se qualificar para Boston todo ano.

Enquanto as maratonas lá fora seguem em franco crescimento, as brasileiras se arrastam com números modestos, a ponto de nossa maior competição de 42 km, a do Rio, ter tido em 2022 um total de 5.043 concluintes, abaixo do verificado há 37 anos (!!!), quando 5.361 completaram na Cidade Maravilhosa, em 1985. Com o detalhe de que o evento só tinha a opção dos 42 km, daí uma explicação para esses dados, aliás confiáveis.

A Maratona do Rio era a principal corrida brasileira, mais importante até que a São Silvestre (pessimamente organizada), mas como não tinha distâncias menores, exigia que os interessados em participar dessa excelente prova fizessem os 42 km. O evento carioca repetia o que acontecia lá fora.

Isto porque as grandes maratonas do exterior eram (e continuam sendo) todas “puras”, ou seja, só existe a opção dos 42 km. Então, o maratonista fica entre seus pares e não no meio de uma multidão, que vai fazer 5, 10 ou 21 km, para uma bela confraternização no final, mesmo porque o cansaço não será grande. 

Essa desvalorização do maratonista no Brasil talvez seja uma das principais razões para o pouco interesse em participar por parte dos corredores, além, naturalmente, da dificuldade de treinamento em um país tropical, para enfrentar bem extenuantes trajetos.

Deve-se dizer que algumas de nossas maratonas (Rio, Floripa e PoA) estão modificando essa situação ao realizar os 21 km na véspera, ficando os 42 km em maior destaque no domingo. Na verdade, o objetivo maior dos organizadores é aumentar a arrecadação com as inscrições, uma vez que alguns corredores consideram interessante o desafio de fazer os dois percursos em sequência.

Maus e bons tratos

Completei três maratonas no ano passado. Em Nova York tudo foi fácil na entrega de kits, sem filas e pessoas amistosas dando informações. No Rio, véspera da prova, por má sinalização, acessei pelo lado errado, e tentei que me liberassem para pegar o kit, mas o segurança foi irredutível, me obrigando a dar uma longa volta, apesar do meu apelo na linha “sou velhinho, vou correr a maratona amanhã”. Em Curitiba, uma garotada entregava os kits e ao falar que ia fazer os 42 km, comentaram: “tem certeza?”, “são 42 km vovô!”. Super estimulante…

Ou seja, a temperatura baixa e o percurso plano lá fora costumam ser citados como razões para a participação dos brasileiros, mas esquecem de destacar outros aspectos menos “pragmáticos”, como educação e simpatia por parte do staff.

Como falei em meu último post “Qual é a melhor maratona brasileira?”, provavelmente a maior motivação para se inscrever em corridas no exterior seja mesmo o grande número de participantes (fazendo a mesma distância!) e a multidão pelo percurso, ambos não encontrados em nossas provas longas. 

Sugestões aos organizadores

Este último aspecto é bem difícil de conseguir por aqui, já que a população não tem a cultura de acompanhar manifestações nas ruas, esportivas ou não. Mas tratar com maior carinho aqueles que se empenham para encarar os 42 km e, dessa forma, justificam o nome atrativo do evento, seria uma maneira dos organizadores conseguirem estimular um maior número de maratonistas brasileiros. E logicamente, quanto mais participantes, mais público (seus amigos, familiares, conhecidos) pelo percurso.

Para ajudar os organizadores nesse caminho, aqui vão algumas sugestões:

1 – Inscrição pelo mesmo valor das demais provas, mas com direito a brindes extras.

2 – Atendimento especial aos maratonistas na entrega dos kits, com ZERO de filas.

3 – Camiseta exclusiva para os maratonistas, assim como medalha diferenciada.

4 – Área isolada aos maratonistas na concentração para a largada, com bom número de banheiros e um café da manhã.

5 – Abastecimento absolutamente perfeito e diversificado durante os 42 km, notadamente na segunda parte, com menor espaçamento entre os postos.

7 – Chegada valorizada, com locução e anuncio/identificação dos concluintes.

8 – Área de dispersão exclusiva, com lanche, estrutura para descanso, massagem e eventualmente duchas.

No quadro abaixo, a evolução ou involução das maratonas brasileiras, na comparação das duas últimas edições.

Concluintes nas principais maratonas BR

Prova  20192022Variação
Rio de Janeiro         7.576 5.043  -33,5%
Porto Alegre 3.167  3.974+25,3%
SP City    4.0333.799-6,0%
São Paulo     4.133   3.405-17,7%
Florianópolis     2.187  2.624     +19,9%
Curitiba      2.775 2.265-18,5%
Manaus      628705+11,2%
Brasília 680577-15,2%
Salvador    656576-12,4%
Foz do Iguaçu  634488 -32,9%
Uberlândia 234299+27,7%
Total26.70323.755 -11,1%

Obs.: A maior maratona da América Latina é a de Buenos Aires, que teve 8.626 concluintes em 2019 e 7.788 em 2022, com o detalhe de ser uma prova exclusiva de 42 km, como as mais importantes do exterior (Nova York, Berlim, Chicago, Paris, Boston, Tóquio, Londres, entre outras). Todas as maratonas brasileiras envolvem outras distâncias menores, para que o evento tenha números totais mais expressivos.

TOMAZ LOURENÇO foi editor da revista Contra-Relógio desde seu lançamento (outubro 1993) até a última edição (abril 2021).

Correu aproximadamente 70 maratonas no Brasil e exterior, 2 de 50 km e 2 Comrades. Email: tomazloureno1947@gmail.com

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