Notícias Redação 1 de março de 2018 (0) (147)

Mais de 50 mil em Nova York

A prova foi disputada com uma chuva fraca. Os corredores largaram em Staten Island com cerca de 15 graus. O trajeto seguiu pelo Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan, até cruzar a linha de chegada no Central Park, com praticamente a mesma temperatura do início. O campeão foi o queniano Geoffrey Kamworor, em 2:10:53, sua primeira vitória em maratonas após sete tentativas.
Apesar de todos os olhos voltados para a disputa masculina, foi a disputa entre as mulheres que teve um brilho especial e arrancou aplausos e gritos da plateia, após a emocionante chegada da norte-americana Shaiane Flanagan, de 36 anos, que entrou para a história da prova. Desde 1977, uma atleta da casa não vencia em Nova York. Flanagan fechou os 42 km com 2:26:53 e impediu o heptacampeonato da queniana Mary Keitany, que ficou em 2º lugar, com 2:27:54, a um passo de também fazer história e conseguir se igualar à norueguesa Grete Waitz como a única a conseguir vencer em Nova York por quatro vezes seguidas.
A Maratona de Nova York atrai hoje não apenas participantes que querem estrear na distância naquela que é considerada a mais famosa do mundo, mas também aqueles que pretendem completar as Majors e fechar a participação nas seis provas do circuito, que tem Tóquio, Boston e Londres no primeiro semestre, e Berlim, Chicago e Nova York no segundo. Para alegria daqueles que finalizam a participação nas seis grandes provas, a Abbott World Marathon Majors está premiando os corredores que terminam a série com a Six Major Medal na linha de chegada da prova em que completarem todo o circuito.
E quem conseguiu em Nova York sentir esse gostinho especial foi a servidora pública carioca Gisele Adnet, de 50 anos, que finalizou em Nova York sua série das seis grandes. "Fui sorteada para correr em Nova York em 2016, mas dois meses antes da prova torci o pé. Seria minha quinta Major e assim eu fecharia em Londres deste ano as Majors." Ela transferiu sua inscrição de Nova York para 2017 e "arrastou" vários amigos para participar da sua conquista. "Foi incrível. Peguei minha Six Majors Medal em clima de festa, com a presença de grande números de amigos, meu treinador e minhas duas filhas. Fomos em mais de 30 pessoas."
A corredora, que reside em Brasília, tinha as melhores expectativas da prova. "Eu estudei muito o percurso, recebi dicas preciosas de amigas que já haviam corrido e preparei uma estratégia em cima disso. Sabia que a prova seria mais fácil na primeira metade e que, após o km 25, o percurso iria impor uma baixa acentuada no meu ritmo. Não houve surpresas", conta Gisele, que completou em 3h56 e carimbou mias uma vez sua participação para Boston.

SEGUNDA MEDALHA. Outro que também viveu em Nova York uma experiência especial foi o baiano Miguel Dantas, de 50 anos. Mais conhecido nas redes sociais como Miguel Majors, o maratonista, que foi um dos primeiros brasileiros a receber a Six Medal, partiu este ano para um novo sonho, o de fechar pela segunda vez as seis provas do circuito, e todas em 2017, ano em que ele completa 50 anos. "Eu sonhava com a segunda 'mandala', mas em Nova York de 2016 a diretora de projetos da Abbott, Judee Kakos, disse expressamente que eu não receberia uma segunda medalha", conta Miguel, que mesmo assim seguiu com seu grande objetivo.
Depois de algumas conversas com Kakos, seu projeto foi levado ao comitê das Majors e, para surpresa do brasileiro, a Abott resolveu mudar as regras do jogo e conceder a Miguel a segunda Six Medal. Até dois dias antes da prova, o corredor não sabia que receberia a medalha. Já em Nova York, Miguel foi ao estande da Abbott para mais uma vez falar com Judee Kakos e tentar pleitear o direito de receber a segunda medalha, quando foi surpreendido com uma nova notícia. "Ela me reconheceu de imediato e comunicou que meu pleito fora deferido pelo comitê e na linha de chegada receberia a tão sonhada segunda mandala. E assim o brasileiro foi o primeiro atleta a conquistar pela segunda vez a Six Medal.
Claro que correr uma Majors atrás da outra, finalizando todas no mesmo ano, não é tarefa fácil. Mesmo assim, Miguel conseguiu seu recorde pessoal nos 42 km este ano, quando fez Berlim para 3h05, e correu todas as provas abaixo de 3h21. "A maior dificuldade é a logística, pois Tóquio é muito distante e entre Boston e Londres há o intervalo de apenas 6 dias. Dificulta a recuperação fisiológica em razão das longas viagens e adaptação de fuso horário", explica Miguel, que fechou o segundo ciclo de Majors com 3h19 em Nova York e um novo desafio já estabelecido: entrar para o rol dos maratonistas sub 3h em Boston 2018.

RISO E CHORO. Se alguns vão para Nova York em busca da medalha das Majors, a maioria que desembarca na cidade carrega o sonho de estrear na distância com chave de ouro. Afinal, todo mundo sabe das dificuldades de conseguir um lugar entre os corredores que participam anualmente da maratona mais famosa e cobiçada do mundo.
Quando a fisioterapeuta de Niterói Michelle Vannie Ribeiro começou a correr, há quatro anos, não imaginava que um dia estaria alinhada com mais 50 mil corredores na Verrazano Bridge, para correr pelas ruas da Big Apple. "Só decidi por Nova York no início de julho, faltando 4 meses para a prova. Sabia que, além de treinar muito, teria que trabalhar o psicológico para conquistar os 42 km", lembra Michelle, que escolheu Nova York porque sabia também do grande apoio do público ao longo do trajeto, o que poderia ajudar a encarar o desafio.
"A energia do evento é sensacional. São crianças, adultos, idosos ocupando todo o circuito da prova, torcendo, ajudando, fornecendo frutas e bebidas, tocando sinos. No percurso todo recebemos vibrações e energia positiva da população, que não se intimida com o frio e a chuvinha e faz aquele momento se tornar único e bem caloroso", conta a corredora, que diz ter se emocionado por várias vezes e elegeu o km 40, já no Central Park, como uma das partes mais vibrantes da prova. "Foi demais! Aprendi a sincronizar o choro e o ritmo da passada." Michelle terminou a maratona com o tempo de 4h24.

CONVIDADA. Outra estreante nos 42 km foi a paulista e professora de Educação Física Bruna Guido, de 28 anos, que recebeu um convite da New Balance do Brasil para viver essa incrível experiência. Até então, Bruna estava focada em distâncias menores e tinha feito a primeira meia em abril deste ano, quando correu a Rio City Half Marathon, para 1h40. Depois, vieram mais quatro meias, sendo seu melhor tempo duas semanas antes de Nova York, quando foi a 4ª colocada na W21k com 1h34. As expectativas para uma boa estreia nos 42 km aumentaram.
Bruna fechou a NYCM em 3h17, mas sente que poderia ter feito um pouco melhor, se não fosse o tempo perdido no trânsito em alguns pontos e no "zigue-zague" para bater na mão da torcida. "Era muita energia e eu queria aproveitar tudo dessa prova", lembra Bruna, que diz ter se emocionado bastante com a torcida. "Só de lembrar já fico arrepiada. Durante a prova toda a galera grita, incentiva. A imagem que não sai da minha mente é a Ponte Verrazano-Narrows na largada. Havia muita neblina, a gente só conseguia enxergar a ponte e nada mais. Eu corri deslumbrada com tudo aquilo, olhei para todos os lados para não perder nenhum detalhe. Quero viver isso novamente."

VOLTA POR CIMA. A médica anestesista paulista Fernanda Brito Crysostomo não é estreante em maratonas, mas Nova York teve um significado especial para sua vida. Corredora há nove anos, Fernanda, que é de Ribeirão Preto, completou na Big Apple sua 9ª maratona. Depois de correr em Londres em abril, ela se inscreveu na de NY, sua prova-alvo da temporada 2017. Mas algo aconteceu. No final de junho, depois de tirar alguns dias de férias com a mãe e a irmã em Jericoaquara, Fernanda começou a se sentir cansada e com dores no pescoço. Dois dias depois acordou sem movimento do braço direito e em menos de 12 horas estava toda paralisada.
"Fui internada com urgência na UTI e após inúmeros exames fui diagnosticada com Guillain Barré, uma doença auto-imune que afeta o sistema nervoso e que foi causada pela dengue. Não conseguia mover absolutamente nada do pescoço para baixo e fiquei dependente de aparelhos para respirar. Seriam de 6 a 12 meses para se recuperar", conta Fernanda, que iniciou o tratamento e teve uma resposta rápida. Com a ajuda da fisioterapia e amigos, ela conseguiu se recuperar e voltou gradativamente aos treinos.
Sua história de superação lhe rendeu o convite para carregar oficialmente a bandeira brasileira na Parada das Nações, que acontece no final da tarde de sexta. "Foi umas das coisas mais tocantes que fiz em minha vida", lembra Fernanda, que no domingo correu a prova sem se preocupar com tempo. "A Maratona de Nova York completava 47 anos e eu também. Parecia meu aniversário de vida. Em vários momentos me emocionei, mas, quando cheguei no Central Park, não conseguia mais segurar as lágrimas. Cruzei a linha de chegada com 4h27."

 

Por que corri 25 vezes a
Maratona de Nova York?

Em 2007 escrevi para CR, contando sobre o meu orgulho de ter corrido 15 vezes na Maratona de NY. E, agora, com 25 provas completadas, das 130 maratonas que já corri, posso dizer que vivenciei muitas mudanças na NYCM e no universo das corridas de rua.
E por que tantas vezes? Bem, dizer que a Maratona de NY é, simplesmente, maravilhosa, é ainda muito pouco. Uma prova com um percurso traiçoeiro, com muita dificuldade para obtenção da inscrição, com preços da hospedagem duplicados no período do evento e com uma das taxas de inscrição mais caras. Então, por que este fascínio mundial pela Maratona de NY?
A cada ano me encanto em ver a organização perfeita, que já passou a ser o principal evento da cidade, superando até o Ano Novo no Times Square.Tudo devidamente organizado para o corredor, que é a estrela principal não apenas no dia da prova, mas nos dias anteriores e posteriores.
Nestes anos pude observar as mudanças no kit, que em 1986 tinha short, camiseta de malha e boné de ciclista, nos anos 90 vinha com muitos brindes na sacola e agora, oferecem apenas uma camiseta, mas este ano foi uma das mais bonitas. A feira da maratona, que já ocupou andar térreo dos hotéis Sheraton e Hilton, é realizada em um grandioso pavilhão de eventos. Muitos staffs são os mesmos há anos e são corredores "velhinhos" que estão lá para ajudar de alguma maneira a maratona e seus maratonistas.
A Parada das Nações, evento criado em 2011, tem a participação de corredores estrangeiros que desfilam, como nas Olimpíadas, no Central Park, ostentando as cores e trajes típicos de seus países. O evento, na 6ª feira à noite, demonstra o talento dos organizadores em transformar uma simples ideia numa festa incrível e a cada ano mais divertida e grandiosa.
A Corrida da Amizade, no sábado, que era organizada para os corredores estrangeiros, foi substituída por uma prova oficial, Dash to the Finish Line. Dizem que os moradores de NY reclamavam que não tinham oportunidade de desfrutar dos eventos da maratona. E, em tempo de business, a prova teve 12 mil pagantes e é uma oportunidade legal para os acompanhantes dos maratonistas cruzarem a mesma linha de chegada no Central Park.
Ainda no sábado, o jantar de massas continua sendo uma incrível demonstração de como tudo funciona por lá. No pavilhão, ao lado do luxuoso restaurante Tavern on the Green, servem uma macarronada "bem honesta", salada, cerveja, refri, suco. O sempre lindo show de fogos lembra os maratonistas que já está na hora de retornar ao hotel.

NO DIA. Mas, é no dia da prova que ainda impressiona o show de organização. Colocar mais de 50 mil corredores confortavelmente sentados em diversos ônibus ou transportá-los de ferry boat até Staten Island, onde ocorre a largada, é incrível.
A área da concentração continua a mesma, em Fort Wadsworth, uma área militar onde os corredores aguardam (muito tempo…) para acessar a icônica Ponte Verazzano. Pessoas enroladas em sacos plásticos, cobertores ou com casacos para jogar fora pouco antes ou depois da largada é o cenário de sempre. Desde 2008, a prova passou a ter 3 largadas "em ondas" e, agora, 4 largadas e distribuição de "ponchos" na chegada, para reduzir a necessidade de ônibus guarda-volumes.
Ouvir o hino antes da largada e ver os americanos com a mão ao peito ainda é extremamente emocionante. Correr pelas ruas lotadas em quase todo o percurso e ver que o povo tenta, de alguma maneira, ajudar os corredores é sensacional. O incentivo nas ruas não deixa você perceber as diversas subidas e descidas. Melhorar a sua marca pessoal em NY é difícil, mas todos os eventos antes da prova e a alegria das ruas não vão lhe deixar triste se o seu desempenho não for lá essas coisas. Afinal, a Maratona de NY é uma festa.
Chorei nas 25 vezes que cruzei a linha de chegada. E, na segunda-feira, andar com a medalha no pescoço e receber "Congratulations" é lei. Afinal, continuo emocionando-me e achando que ainda mereço estes parabéns!
Mas, a Maratona de NY também me trouxe oportunidades, quando em 2005, início do boom das corridas no Brasil, Bet Olival, diretora da Kamel Turismo, convidou-me a escrever sobre a prova e acompanhar o grupo dividindo minhas experiências, já com 13 provas completadas, com aqueles que compravam o pacote com inscrição garantida. Como recusar?
Ganhei amigos em diferentes cidades do Brasil e, principalmente, o amor da minha vida, Luiz Antonio, que um belo dia pediu dicas sobre a Maratona de NY. Como resistir? (Denise Amaral)

 

 

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