Notícias Redação 26 de novembro de 2017 (0) (149)

Mizuno Uphill: para quem gosta de desafio

Tendo como principal palco a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, considerada uma das estradas mais bonitas do mundo, o evento se tornou um dos principais sonhos de consumo de corredores de todo o Brasil. E conseguir uma vaga em qualquer um das três distâncias não é simples, uma vez que os competidores que almejam a participação no evento precisam fazer uma pré-inscrição (ver matéria na página 13) praticamente 11 meses antes para tentar a sorte numa espécie de loteria, feita nos mesmos moldes de grandes maratonas como Nova York, Londres, Tóquio e Berlim.
Para o evento deste ano, foram 7 mil inscritos e 1.500 vagas, sendo 900 nos 42 km, 600 nos 25 km e mais 39 no Desafio do Samurai (corredores que participam das duas distâncias).
Depois de um dia de feira na pequena cidade de Treviso, que faz limite com Bom Jardim da Serra e onde acontece a largada dos 42 km, chegou enfim o dia da grande disputa, no sábado. Às 7h, os corredores largaram para a maratona, o primeiro desafio do dia.
A prova deste ano foi marcada não apenas por recorde de participantes. O pernambucano José Eraldo de Lima, de 36 anos, e a paranaense Letícia Saltori, de 29, venceram os 42 km com recorde naquela que já é considerada a mais disputada edição em cinco anos de evento.
Professor de educação física e estreante nesse tipo de maratona, foi o próprio campeão que prescreveu seu treinamento para a prova. "Dei muita atenção para a especificidade da corrida, a altimetria, as longas e ininterruptas subidas. Fugi do tradicional com altas quilometragens e priorizei o fortalecimento, sem abrir mão da intensidade", conta Eraldo.
O atleta, que vive em Maringá (PR), percebeu logo na largada que o nível técnico deste ano estava forte. Ele tinha a estratégia de acompanhar o pelotão, mas isso foi possível apenas até o km 5, uma vez que as subidas íngremes já começaram a castigar. Mas, a partir do no km 10 km, um trecho em descida, ele teve suas esperanças renovadas. "Recuperei as posições perdidas e aos poucos fui encostando no primeiro colocado (o paranaense Matheus Trindade), que percebeu e imprimiu um ritmo ainda mais forte, abrindo uma vantagem considerável."
A partir daí Eraldo se preocupou em apenas manter a segunda posição. Mas, quando a serra literalmente mostrou sua cara, é que as coisas mudaram. "Chegando no km 24, as subidas eram assustadoras. Era praticamente impossível correr. Era um paredão com muitas curvas e um calor castigante", lembra o pernambucano, que diz ter se surpreendido quando no km 36, avistou o carro-madrinha com o líder. Percebendo que Matheus caminhava devagar, Eraldo ganhou nova força e uma motivação extra para buscar a liderança. A partir de então assumiu a ponta e cruzou a linha de chegada com 3:07:53, novo recorde.

VITÓRIA DUPLA. Na disputa feminina, Letícia Saltori não encontrou problemas para vencer pela segunda vez os 42 km, desta vez também com recorde do percurso. A atleta, que nasceu em Campina Grande do Sul, mas mora em Curitiba, venceu as três competições em disputa: os 42 km, os 25 km e ainda o Desafio Samurai.
Letícia, que passou dois meses fora do Brasil (junho e julho) para participar de dois Campeonatos Mundiais de Orientação, precisou correr contra o tempo nos treinamentos. "Eu tinha pouco mais de 30 dias para intensificar os treinos e deixar o corpo preparado para a batalha da serra. Treinei com mais intensidade do que o normal. O volume não foi tão alto e aproveitei para fazer os longos do final de semana na montanha", explica a atleta, que liderou a prova de ponta a ponta e fechou os 42 km em 3:35:03.
Na parte da tarde, às 16h, foi a vez dos 25 km, com largada na cidade de Lauro Muller, e mais uma vez estava lá Letícia para a disputa. "Minhas pernas respondiam muito bem, mas sentia uma dor muito forte na região do tórax", conta a corredora, que de início resolveu não forçar tanto nos 25 km. "Não conseguia ver quem estava liderando. Só deixei o corpo ir."
Mas, faltando cerca de 5 km para o final, a atleta foi avisada que não estava tão longe da liderança, que naquele momento era ocupada por Conceição Carvalho, que havia sido 3ª colocada de manhã nos 42 km. Letícia assumiu a ponta e cruzou a linha de chegada no mirante da serra com 2:35:31. "Em meio à neblina, vi as luzes da reta final e os tambores na chegada. Foi de arrepiar", lembra a atleta, que garantiu ainda o título do Desafio do Samurai, com o tempo total de 6:10:34.
Na disputa masculina, Nilton Evangelista, de Diadema, liderou sempre os 25 km e garantiu a vitória com 2:01:00. O campeão masculino do Desafio do Samurai foi o atleta Fernando Beserra da Silva, de São Paulo, com o tempo total de 5:33:14.

MUITA EMOÇÃO. Enquanto a disputa das duas provas se acirravam lá na frente, os atletas que corriam um pouco mais atrás queriam apenas chegar bem ao final e conquistar a tão sonhada medalha. O desafio da médica Ana Berenice Acauan, que tem 48 anos e é de Santana do Livramento, começou muito antes da prova. "Quando houve a 1ª edição da Uphill em 2013, li uma matéria na Contra-Relógio e fiquei extasiada. Gosto de desafios que me tirem o sono, que me envolvam completamente. E correr a Uphill era tudo isso para mim", conta a corredora, que desde então não desistiu de tentar uma vaga na tão sonhada disputa.
A oportunidade veio apenas este ano, quando Ana foi sorteada para os 25 km. Depois de tanto esperar, chegou enfim o dia da prova, que ela descreve como perfeita. "Chorei já na largada. Era muita emoção estar ali. Na contagem regressiva a emoção tomou conta de todos. Os olhares eram de uma cumplicidade que não se vê em outras provas."
Ana fez o que tinha treinado, terminando os 25 km em 2h57. "Cruzei aquele pórtico lindo aos prantos, extravasando tudo o que tinha guardado dentro de mim. Foi a melhor e mais emocionante prova da minha vida", conta ela, que tem 17 maratonas no currículo, entre as quais duas Majors (Londres e Berlim).
Outro que também não sossegou enquanto não conseguiu uma vaga para a disputa dos 42 km foi o carioca Milton Marques Escosteguy, de 38 anos. No ano passado, ele conseguiu uma na repescagem para a disputa dos 25 km. Decidido a participar de qualquer maneira este ano nos 42 km, Milton recorreu às inscrições destinadas à caridade. Ele terminou os 42 km em 5h22.
As duas conquistas foram tão marcantes que Milton resolveu eternizar a Uphill no seu corpo e tatuar a medalha dos dois feitos na panturrilha. "Ano passado tatuei a medalha dos 25 km e a serra. Para completar a tatuagem, este ano fiz a dos 42 km", conta o corredor, que faz questão de ressaltar que para ele a Uphill representa muito mais do que uma simples prova.

 

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