Blog do Corredor André Savazoni 13 de agosto de 2011 (10) (159)

A arte de correr no mundo dos automóveis e seus motoristas

Na corrida, se existe algo que não consigo mais fazer é treinar na esteira. No passado, até corri algumas vezes com algo muito interessante na televisão. Mas, hoje em dia, não tem jeito. Adoro sair para a rua. Procuro, inclusive, já iniciar o treino em frente de casa. Agora, sinceramente, um hábito complicado no mundo dos automóveis e seus motoristas “loucos” (maioria que adora, ainda, dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo!).

Estou desenvolvendo uma tese pessoal que liga diretamente o ato de correr na rua com um pé pesado no acelerador. Não importa o tamanho da placa de PARE ou a faixa de pedestre. É só o motorista avistar um corredor vindo no sentido contrário que acelera para cruzar sua frente antes! Claro que estou generalizando, mas, com certeza, não é uma minoria que faz isso. Até me surpreendo quando um motorista reduz a velocidade ou faz gestos para eu passar. Provavelmente, é um corredor ou alguém que pratica algum esporte. Além de educado.

Esse é um dos motivos que não ouço música de maneira alguma correndo. Quero estar 100% atento ao que está acontecendo ao meu redor. Inclusive com os sons. Corro sempre no contrafluxo. Evito qualquer avenida mais movimentada. Vou bem cedo. Mesmo assim, há inúmeros motoristas que não fazem a mínima questão de desviar e, o que é pior, até viram a direção e me obrigam a pular na calçada, se estou no meio-fio. Motociclistas, também. Conheço gente que levou um tapa nas costas de um motoqueiro porque estava correndo ao lado da lombada e, segundo o “excelente piloto agressor”, esse espaço entre a lombada e a calçada é para as motos desviarem!

O trânsito, hoje, é o maior responsável pelas mortes violentas no Brasil. Os números crescem anualmente. As vendas de automóveis e motos sobem cerca de 6% por semestre. Isso já faz tempo.

Garanto que não atrapalho ninguém, desvio, mas a convivência está cada vez mais crítica. As pessoas se transformam ao sentar no banco do motorista. Lembro, quando criança, de um desenho do Pateta. O narrador explicava que era um senhor calmo, tranquilo, gentil no dia a dia. Um “gentleman”. Mas que, ao volante, virava um “monstro”. Não respeitava ninguém, tornava-se o dono do mundo. É a triste e dura realidade.

Cansei de ver, em provas, motoristas fora de si. Gritando, buzinando até furando bloqueios de trânsito durante o percurso para ganhar um ou dois minutos na chegada ao destino final. Algo surreal! Nos treinos, então, a situação é repetida diariamente. Sem falar quando, num  cruzamento, não ligam a seta e jogam o carro em cima de você, que está na faixa de pedestre, como se eu pudesse adivinhar pensamentos e ações!

Com o aumento dos adeptos das corridas, sem que as cidades tenham espaços adequados para a prática do esporte, como pistas públicas de atletismo e parques com áreas verdes, temos de correr nas ruas, nas avenidas. Percurso das provas, inclusive. Mas o número de carros cresce na mesma proporção ou até mais. São Paulo, desde a última semana, tem a lei de respeito à faixa de pedestre. A primeira experiência que tive, na última terça-feira, quando ia para a redação da Contra-Relógio com o Sérgio Rocha, mostrou que será uma adaptação bem difícil. Paramos na faixa e o carro acelerou, ignorou o gesto do Sérgio. Dessa forma, seguimos com a arte de correr no mundo dos automóveis e seus motoristas.

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10 Comments on “A arte de correr no mundo dos automóveis e seus motoristas

  1. Os carros elétricos que estão chegando ao mercado trazem novos riscos para os corredores.
    Não é possível ouvi-los! Na China os atropelamentos estão aumentando cada vez mais devido ao maior número de carros elétricos.

  2. Cara, isto acontece comigo todos os dias, moro em Embu das Artes, e também corro nas ruas, na maioria das vezes uso a calçada e o pior, na calçada tem pedestre que vai pra cima de você, como se não existisse, ja teve gente que estava vindo no sentido contrário, eu não iria trombar com a pessoa, quando passei do lado a pessoa trombou em mim, será que somos invisiveis ?

  3. Caramba Thiago, não tinha recebido esses dados sobre os atropelamentos na China por causa dos carros elétricos. Realmente, são silenciosos. Já vi alguns rodando, de testes, e você não os ouve mesmo com os barulhos do dia a dia. E o som, no meu caso, é algo que uso para atravessar uma rua. Muitas vezes, me oriento quase que exclusivamente pelo ronco do motor! Abraço

  4. José Teodoro, é essa mesmo a sensação que tenho, de que somos invisíveis. Isso ocorre mesmo. Hoje, de manhã, estava vindo pela Marginal da Via Anhanguera, na calçada. Um casal vinha caminhando, lado a lado. A calçada é estreita. Com postes de iluminação. Me deram espaço para passar? Não. Tive de ir para a grama lateral, já que não dava para arriscar na rua. Se pisasse num buraco… Uma pena mesmo. Abraço

  5. Com certeza este é um problema que ocorre em todo o país. Moro em Lajeado-RS, uma cidade de 73 mil hab., mas mesmo com um trânsito que nem se compara ao de grandes centros, enfrento problemas. Parece que somos seres de outro planeta que atrapalham a vidinha destes motoristas sempre atrasados para algum compromisso. Pedestres não dão a mínima e os condutores, se pudessem, passavam por cima, sem dó. Acho que bem lá no fundo é inveja, pois no fundo eles sabem que nós é que estamos certos e eles (na maioria das vezes sedentários) estão errados.
    Um abraço, Jackson.

  6. Jackson, realmente esse é um problema que afeta qualquer cidade, independentemente do tamanho. Em viagens, já corri em lugares quase desabitados e não é que, uma vez ou outra, tive problemas com carro ou com pedestres! Aos sábados, faço os longões em um loteamento aqui em Jundiaí, onde moro. Há uns dois meses, quase fui atropelado lá dentro e, de vez em quando, um grupo de caminhantes (uns sete ou oito) resolvem andar todos juntos, lado a lado e fecham a rua! Não deixam espaço para passarmos. E olhe que são pessoal que praticam esporte! Abraço

  7. André, tem um amigo meu que o apelido dele quando entra no carro era PATETA, se transformava igualzinho no desenho, SENSACIONAL!

    O perigo de correr muito cedo na rua em SP é encontrar os IDIOTAS bebados voltando da balada, risco de atropelamento ou de ser alvo dos “espertões”.

    Tem que estar SEMPRE ALERTA!

    Abraço
    Bons treinos
    Colucci
    @antoniocolucci

  8. André,
    Aqui em Brasília, império dos automóveis, até provas são feitas em locais onde temos que conviver com os carros e os riscos da sua proximidade. Será que quando algum corredor for atropelado vão pensar o que fazer?

    ————-

    Ana Cristina,
    Esse é um problema muito sério realmente. Esperam a situação chegar no limite para tomar medidas corretas. Conheço Brasília e realmente é uma cidade dos carros. E nós, corredores, temos de tomar muito cuidado mesmo. Abraço

  9. Muito bom Colucci. O pior é que conhecemos muitos assim na nossa vida… abraço

  10. E tem mais um item: cocô de cachorro! Tenho o hábito de correr à tarde/ noite, onde a visualização dos degetos é mais difícil… Moro na Vila Mascote, bairro de Sampa caracterizado pela grande quantidade de prédios residenciais. As pessoas descem para a rua com seus cachorrinhos e emporcalham a calçada! Mesmo as mais educadas, que juntam o “produto final” de seus mascotes (vai ver que é daí que vem o nome do bairro)não tem como evitar situações como: urina (como fazer?Andar com um regador para limpar a calçada?) ou diarréia. Resumindo, as varejeiras são as donas da calçada. Sem falar nos escorregões, quando piso nessas “minas terrestres”. Acho que poderíamos pensar em soluções para esses casos; em países mais organizados, como o Japão, já encontraram alguma solução.
    São Paulo( e todo o Brasil, claro) ainda precisa desenvolver uma cultura de pedestrianismo. Por aqui temos aquela idéia “Jeca” de que andar é “coisa de pobre”.
    Obrigado pelo espaço oferecido!
    Um abraço,
    Igor Girotto

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