A arte de correr no mundo dos automóveis e seus motoristas

Na corrida, se existe algo que não consigo mais fazer é treinar na esteira. No passado, até corri algumas vezes com algo muito interessante na televisão. Mas, hoje em dia, não tem jeito. Adoro sair para a rua. Procuro, inclusive, já iniciar o treino em frente de casa. Agora, sinceramente, um hábito complicado no mundo dos automóveis e seus motoristas “loucos” (maioria que adora, ainda, dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo!).

Estou desenvolvendo uma tese pessoal que liga diretamente o ato de correr na rua com um pé pesado no acelerador. Não importa o tamanho da placa de PARE ou a faixa de pedestre. É só o motorista avistar um corredor vindo no sentido contrário que acelera para cruzar sua frente antes! Claro que estou generalizando, mas, com certeza, não é uma minoria que faz isso. Até me surpreendo quando um motorista reduz a velocidade ou faz gestos para eu passar. Provavelmente, é um corredor ou alguém que pratica algum esporte. Além de educado.

Esse é um dos motivos que não ouço música de maneira alguma correndo. Quero estar 100% atento ao que está acontecendo ao meu redor. Inclusive com os sons. Corro sempre no contrafluxo. Evito qualquer avenida mais movimentada. Vou bem cedo. Mesmo assim, há inúmeros motoristas que não fazem a mínima questão de desviar e, o que é pior, até viram a direção e me obrigam a pular na calçada, se estou no meio-fio. Motociclistas, também. Conheço gente que levou um tapa nas costas de um motoqueiro porque estava correndo ao lado da lombada e, segundo o “excelente piloto agressor”, esse espaço entre a lombada e a calçada é para as motos desviarem!

O trânsito, hoje, é o maior responsável pelas mortes violentas no Brasil. Os números crescem anualmente. As vendas de automóveis e motos sobem cerca de 6% por semestre. Isso já faz tempo.

Garanto que não atrapalho ninguém, desvio, mas a convivência está cada vez mais crítica. As pessoas se transformam ao sentar no banco do motorista. Lembro, quando criança, de um desenho do Pateta. O narrador explicava que era um senhor calmo, tranquilo, gentil no dia a dia. Um “gentleman”. Mas que, ao volante, virava um “monstro”. Não respeitava ninguém, tornava-se o dono do mundo. É a triste e dura realidade.

Cansei de ver, em provas, motoristas fora de si. Gritando, buzinando até furando bloqueios de trânsito durante o percurso para ganhar um ou dois minutos na chegada ao destino final. Algo surreal! Nos treinos, então, a situação é repetida diariamente. Sem falar quando, num  cruzamento, não ligam a seta e jogam o carro em cima de você, que está na faixa de pedestre, como se eu pudesse adivinhar pensamentos e ações!

Com o aumento dos adeptos das corridas, sem que as cidades tenham espaços adequados para a prática do esporte, como pistas públicas de atletismo e parques com áreas verdes, temos de correr nas ruas, nas avenidas. Percurso das provas, inclusive. Mas o número de carros cresce na mesma proporção ou até mais. São Paulo, desde a última semana, tem a lei de respeito à faixa de pedestre. A primeira experiência que tive, na última terça-feira, quando ia para a redação da Contra-Relógio com o Sérgio Rocha, mostrou que será uma adaptação bem difícil. Paramos na faixa e o carro acelerou, ignorou o gesto do Sérgio. Dessa forma, seguimos com a arte de correr no mundo dos automóveis e seus motoristas.

ASSINE NOSSA NEWSLETTER

É GRATUITO, RECEBA NOVIDADES DIRETAMENTE NO SEU E-MAIL.