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Notícias Redação 26 de setembro de 2017 (0) (165)

Recordes na Comrades

Maria Auxiliadora Venâncio, uma das melhores ultramaratonistas da América do Sul, participou da Comrades duas vezes, em 1999 e 2001, sempre com ótimos resultados e um lugar entre as cinco primeiras. Seu melhor tempo, 6:39:03, era o mais rápido brasileiro e sul-americano, homem ou mulher, um desempenho impressionante. Uma marca admirada e que, na edição deste ano, foi superada por Farnese da Silva e Cleber Isbin Vilares. Auxiliadora segue agora com os dois recordes no feminino.
Foram 174 brasileiros inscritos na edição deste ano, mas muitos não viajaram, e 135 completaram o trajeto dentro do tempo-limite de 12 horas. A prova foi disputada no dia 4 de junho, na África do Sul.
Assinante da Contra-Relógio, Farnese concluiu o percurso de 87 km (disputado em subida neste ano) em 6:24:20, na 54ª colocação geral. Já Cleber foi o 88º (6:38:29), enquanto Mateus Sacchett finalizou em 113º (6:45:15). Entre as mulheres, Luiza Tobar fez 7:13:48, ficando em 12º lugar geral.
O próprio Farnese, em conversa com a CR, conta a história da prova e do recorde; "Tínhamos um bom grupo de corredores brasileiros, todos fortes, com alguns já dizendo que tentariam bater o recorde da Maria Auxiliadora Venâncio. Mas eu fiquei calado. Em uma prova longa, tudo pode acontecer. No fundo, porém, também tinha esse pensamento. Sempre tento acompanhar a elite feminina e assim fiz desde o início, correndo ao lado da campeã do Mundial de 100 km na Holanda de 2015, Camille Heron. Fomos juntos até o km 20. Como eu estava me sentindo bem, resolvi acelerar."
Nos primeiros 40 km há uma predominância de várias subidas, mas não muito íngremes nem muito longas. "Fechei a metade da prova em 3h10. Nesse momento, vi que tinha a possibilidade real de bater o recorde brasileiro e, como era a minha quarta e última Comrades, pensei: ‘Vou dar tudo que tenho e ver o que sai no final'. A partir desse momento, apertei o ritmo, pois sabia que o pior havia ficado para trás", diz. "Nos últimos 20 km, corri praticamente sozinho e sabia que estava muito bem colocado. Chegando ao km 87, na entrada do estádio, tirei a bandeirinha brasileira do bolso, me vi no telão e o locutor então anunciou que eu era o primeiro brasileiro."

GREEN NUMBER – Este ano, o percurso da Comrades foi de subida. Saiu do nível do mar, atingiu 815 m de altitude e na chegada a cerca de 650 m. Quando se corre pela décima vez, usa-se um número que indica que, ao se completar, o corredor receberá o Green Number, com direito à perpetuação do número de peito e ingresso no Hall da Fama da prova.
Assim, no dia 4 de junho, a brasileira Zilma Rodrigues da Silva garantiu um lugar neste seleto grupo e primeira corredora do país. "A Comrades exerce uma magia, que só indo lá para saber, para sentir. Talvez seja pelo povo, pela história, pela forma como tratam os participantes e, acima de tudo, pelo fato de a prova beneficiar diversas pessoas carentes. A organização pensa em tudo para que nada falte ao corredor. A população conhece a história do evento e vibra junto com você", conta Zilma.
Para chegar ao Green Number, ela conta que havia estipulado três planos: sub 9h no plano A, sub 10h no B e simplesmente terminar, "porque tudo pode acontecer em uma prova longa". "Realmente, foi o que ocorreu. Nesta edição, depois do km 40, tive cólicas infernais que não passaram nem com o remédio que me deram durante o percurso. Tinha horas em que a dor era tão forte que embrulhava o estômago. Caminhei em diversos trechos e tive muito apoio dos colegas brasileiros", explica Zilma.
"Quando faltavam 12 km, a sensação era de que teria de correr mais 40 km! Nesse momento, pensei em desisitir, mas Simoni, uma amiga de Belo Horizonte, me incentivou a seguir em frente. Apesar da dor, eu tentava sorrir e agradecer por estar mais uma vez naquele percurso. As pessoas falavam: ‘Falta pouco, logo você será Green Number'. Assim, segui até a linha de chegada."
Segundo Zilma, a busca pelas dez Comrades nunca foi um objetivo específico, uma meta. Voltava anualmente pela emoção de participar da ultramaratona sul-africana. "Somente após concluir a sétima edição é que o ‘burburinho' foi aumentando e, neste ano, muita gente só falava no Green Number. Realmente, é uma honra muito grande ser agraciada na ultramaratona mais humana do mundo."

NÚMEROS – De acordo com o site oficial, 17.031 corredores largaram nesta 92ª edição e 13.852 completaram a prova em menos de 12 horas (o tempo-limite), numa quebra acima da média. Os vencedores foram o sul-africano Bongmusa Mthembu (5:35:34) e a norte-americana Camille Herron (6:27:35). Em 2018, a ultramaratona será disputada no dia 10 de junho. Mais informações em www.comrades.com.

 

Em subida ou descida,dificuldade semelhante

A Comrades é disputada desde 1921, praticamente no mesmo percurso, que é invertido a cada ano. Nos pares, de Pietermaritzburg para Durban, 89 km em descida, e nos ímpares, 87 km em subida. Mas as dificuldades são semelhantes, tanto que os recordes "morro acima" e "morro abaixo" são bem parecidos. O editor da CR correu lá em 2007, para comemorar seus 60 anos, mas nesse ano foi em descida e ele fechou em 10h50. Em 2008 completou os 87 km em 10h12.
A duração máxima é de 12 horas e caso não se complete nesse tempo, nada de medalha nem tempo divulgado. Mas como há pontos de corte ao longo do trajeto, poucos que passam pelo último deixam de finalizar no limite. Aliás, o que vale é o resultado bruto, porém não se perde muitos minutos na largada até o pórtico, porque as baias são rigorosamente montadas por ritmo previsto, com base na maratona oficial que se indicou como referência, na inscrição.
A largada é sempre às 5h30, no escuro, e a temperatura costuma se bastante agradável, com um pouco de frio no começo, mas sem esquentar muito à tarde. Não há grande exigência para se inscrever, na medida em que basta ter um resultado recente sub 5h nos 42 km.

 

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