Blog do Corredor Redação 26 de setembro de 2017 (0) (1556)

Maratona de Mendoza: um passeio pelos Andes

por André Boccato

A cidade de Mendoza abriga as melhores “bodegas” da Argentina. Ou seja, vinícolas que plantam e colhem uvas extraordinárias, e que fazem do vinho argentino um dos melhores do mundo. Visitar essas vinícolas e saborear as degustações de vinho é um prazer à parte. Mas vamos falar de outro grande prazer, que é o da corrida. E essa é bem especial.

A 18ª edição da Maratona de Mendoza aconteceu no dia 30 de abril e reuniu cerca de 5 mil participantes em todo o evento, que oferece ainda uma meia-maratona, uma prova de 10 km e uma caminhada de 4 km, o que acaba sendo bom para quem quer ir em turma ou programar uma viagem em família.

Organizamos um grupo de cerca de 30 corredores da Run&Fun. A grande maioria correu os 21 km, alguns se aventuraram nos 10 km e apenas quatro, incluindo eu, encararam os 42 km do percurso, que tem largadas em pontos diferenciados na montanha, para cada uma das distâncias, mas que chegam no mesmo local.

Para o brasileiro, as condições de estadia e viagem são bem convenientes, já que a cidade de Mendoza tem uma excelente relação custo x benefício. Como não há muitos voos diretos do Brasil para a cidade, o que poderia tornar a viagem um pouco longa demais por conta de escalas em Buenos Aires ou Santiago (Aerolineas ou Latam), a melhor opção é pegar o único voo direto oferecido pela Gol, que sai e volta no domingo ou às quintas-feiras, e estender a viagem para uma semana. Afinal, lá há muito o que fazer.

Quando você chegar à cidade, já se programe bem para os passeios, pois bater perna antes da prova, com aconteceu comigo, pode ser bem cansativo.

EM DESCIDA, MAS… Falando agora da prova, diria que nós, brasileiros, estamos demorando muito a descobri-la, pois tem um formato bem bacana, um trajeto bonito, é bem organizada e possui a vantagem de ser uma maratona muito próxima da natureza, pois sua linda largada é nas montanhas da pré-cordilheira, descendo pelas zonas de vinhedos de Lujan de Cuyo e Godoy Cruz até a cidade, finalizando nos majestosos portões do Parque General Martin.

A prova tem uma altimetria negativa, mas o melhor é não se empolgar muito com essa característica ladeira abaixo. Quem pensa que vai conseguir baixar tempo está enganado. Apesar de grande parte do percurso ser em declive, você vai perceber que há também muitas subidas, pelo menos umas três grandes. No entanto, pela temperatura amena, a prova não é das mais difíceis, podendo até ser boa para debutantes.

Como a largada é nas montanhas, às 8h da manhã, você tem de estar às 5h no ponto de transporte que reúnem os ônibus especiais para levar os corredores ao local de início da prova. O ideal é ir bem agasalhado – luvas e manguitos são bem-vindos – e até levar roupas para descartar nos primeiros quilômetros de prova, como acontece na Maratona de Nova York, já que o frio na montanha pode atrapalhar.
A hidratação é de 5 em 5 km. Por conta do abastecimento da meia-maratona, houve um ponto de hidratação que não havia água. Como estou acostumado a levar meu squeeze, não tive problemas. Mas, de forma geral, a hidratação é satisfatória.

BELA PAISAGEM. O primeiro trecho da prova é, de longe, o mais lindo. Fiquei encantado. São montanhas nevadas, paisagens rurais e vinhedos. Como são poucos os corredores na maratona (cerca de 1 mil), não há muita muvuca e dá para curtir bem o visual e até conhecer gente ao longo do percurso.

Acredito que consegui fazer a corrida de meus sonhos, pois em nenhum momento olhei o relógio, que ficou o tempo todo coberto pelo manguito. Corri sentindo minha respiração e o corpo, curtindo a linda paisagem. Até os 30 km, corri junto com a brasileira Marta Brescia, que depois me passou e terminou a maratona em 4h06 e em 2º lugar na categoria 56-60 anos. Eu terminei em 4h10, na 4ª colocação da categoria 61-65 anos.

Vale aqui fazer um aparte sobre minha condição especial. Corri a maratona após uma dieta vegetariana de 6 meses. Ou seja, só vegetais mesmo, sem nada derivado do mundo animal, sem leite, ovos, queijos etc. Hoje sou um vegano com muito orgulho e essa corrida era um teste para mim. Posso dizer que saí aprovado, pois meus exames clínicos pré-prova ficaram melhores do que nunca. Acertei finalmente minha taxa de colesterol. E minha performance foi ótima. Consegui baixar bem meu tempo em relação ao ano passado, quando corri a Maratona de Jerusalém para 4h26. E, em Mendoza, corri quase o tempo todo sem olhar o relógio.

TEMPO-LIMITE DE 5 HORAS. Foi muito divertido pelo menos até o km 35, quando começou a ficar mais difícil, pois a paisagem passa a ser uma estrada e a beleza da parte inicial do trajeto se transforma numa monotonia urbana, com estradas pelo caminho. Aliado a isso, o calor começa a aparecer. Afinal, a maioria dos que encara a maratona ainda está correndo quando bate às 11h da manhã. Vale informar que o tempo-limite para o término dos 42 km é de 5h30, marca bem abaixo das maratonas que vemos aqui na América do Sul. O tempo-limite da meia-maratona segue os padrões normais, ou seja, 3h de prova para os 21 km.

Para fechar, posso dizer que essa é uma viagem que une esporte e turismo em uma das melhores combinações. Forme um grupo legal de amigos, já que o evento oferece distâncias variadas. E, para quem não corre, a cidade tem programação de atrações bem interessante, como passeios de bike por bodegas, vinhedos e montanha, além de restaurantes excelentes e baratos para nosso padrão.

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