Sem categoria contrarelogioadm 30 de julho de 2017 (0) (93)

Corridas na rua; treinos na areia, terra, grama….

Quando o tema é corrida, há gosto para tudo. Talvez seja raro encontrar um corredor que sinta prazer e sinta-se à vontade em qualquer sessão de treino. Seja ele um longão, treino de ritmo ou intervalado. Uma das saídas para sair da rotina e encarar aquele treino que você menos gosta – ou mesmo sinta aversão por ele – pode ser a realização em outro tipo de terreno. Aí pode até ser que, além de tirar da rotina, ele lhe traga algum benefício.
O treino intervalado, por exemplo. Não é comum que ele seja feito na areia, principalmente se a prova-alvo for de asfalto. Mas é uma boa opção para dar aquela quebrada na rotina. E nem é preciso ser um corredor experiente. Raphael Gonçalves, treinador da Speed Corridas, do Rio de Janeiro, recomenda apenas que antes de partir para um treino um pouco mais intenso, que o corredor faça um reconhecimento do terreno.
"Normalmente, os estudos sobre este tipo de treino são feitos com atletas mais experientes. Mas isso não sugere necessariamente que atletas novatos ou menos rodados devam evitar intervalados na areia. Deve-se sempre levar em conta o princípio da adaptação. Então, caso um iniciante queira realizar esse tipo de trabalho, o ideal é primeiro conhecer o terreno, realizando caminhadas, depois pequenos estímulos de corrida e com menor intensidade".
Não é novidade que para alcançar seu objetivo numa determinada prova, o corredor deve levar sempre em conta o princípio da especificidade. Ou seja, deve priorizar os treinos no terreno em que será realizada a prova. Mas então de que forma um intervalado na areia pode ser útil para um corredor que se prepara para uma prova no asfalto? O treinador da Speed explica que as respostas fisiológicas ao treinamento na areia são superiores e mais rápidas em relação aos feitos em terrenos planos.
"O estímulo na areia acarreta uma gama maior de movimentos. Além disso, o maior tempo de contato com o solo gera diferentes trabalhos nos músculos envolvidos na corrida. Mas levando-se em conta o princípio da especificidade, não se deve substituir totalmente os intervalados no asfalto pelas sessões na areia. Se a prova-alvo é no asfalto ou em terreno plano, a maior parte da preparação deve ser neste tipo de terreno. As sessões na areia devem ser utilizadas como trabalho complementar. E não importa se o objetivo são provas longas ou curtas e rápidas".
Por conta dessa diferença e variação de estímulos, ao optar por um intervalado na areia, o corredor deve preocupar-se também com o pós-treino, especialmente se estiver numa fase importante da planilha. Certamente o nível de intensidade do treino vai requerer um tempo maior de recuperação, especialmente nas primeiras sessões. O treinador Raphael Gonçalves aconselha o corredor a não experimentar este tipo de treino na reta final da preparação.
"O estresse metabólico e mecânico é maior na areia. Assim, normalmente, as dores musculares, principalmente na panturrilha, são mais intensas depois de treinos na areia. Mas nada que um bom descanso não resolva. Contudo, é bom o corredor ficar atento, porque o período de recuperação pós treino intervalado na areia deve ser maior do que o mesmo treino realizado no asfalto, principalmente nas primeiras sessões".

TAMBÉM LONGOS. Optar por fazer uma sessão de intervalado na areia é apenas uma das muitas possibilidades de variar o terreno, sair da rotina e também da zona de conforto, o que é sempre bom para condicionamento físico e mental. Mas, se a mudança de terreno e piso ocorrer durante um treino longo? Emílio Sant'Ana, da Ômega Assessoria Esportiva, de Vila Velha, explica que a diferença na aplicação da força por conta da aderência de cada piso pode estimular os tendões.
"Como cada terreno proporciona uma área de aderência com o solo e também um grip peculiares, há uma diferença de aplicação da força na pisada, em relação ao asfalto e também em relação à resposta da força utilizada. E correr em pisos diferentes num mesmo longão ajuda a modular a aplicação da força. Uma forma grosseira, mas imediata, de sentir isso é alternar terra e asfalto. A cada passada na terra o corredor sente mais facilidade no asfalto. Cientificamente pode-se dizer que o corredor ganha velocidade pelo aumento do controle da força por variar o piso, reduzindo desperdícios de energia, em função do refinamento sensorial no movimento envolvido, no caso, a passada", explica Emílio.
O treinador lembra que, com a economia obtida, sobrará energia para prolongar os treinos. Segundo ele, o determinante continua sendo a progressão tempo/distância, mas o fator economia influencia e pode ser um detalhe importante na estratégia de treinamento. Além disso, "o refinamento sensorial promove mais autoconhecimento ao corredor sobre fatores como fadiga, limite articular, dor, desgaste e capacidade de esforço. E quanto maior a consciência corporal, menor o risco de lesão", completa Emílio.

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