Quem já entrou em uma redação de jornal, saberá do que estou escrevendo. Cheia de gente, de inúmeras mulheres falando ao mesmo tempo, de homens falando bobagem e discutindo futebol, de televisões sintonizadas em canais diferentes, de rádios ligados, de telefones e celulares “esguelando”. Uma delícia. Mas como trabalhar e produzir nesse ambiente? Concentrando-se. “Desligando-se” do mundo, quando necessário. Entenda: em 90% do tempo. Um exercício aprimorado ano a ano.
Levei isso para a corrida. A cada dia, trabalho mais dessa forma. Na vida e no esporte. Tem horas (muitas vezes) que desligo tanto que levo xingo de todos os lados. De gente que veio falar comigo e dez minutos depois, faço uma pergunta referente ao assunto. E lá vem “pancada”. “Não presta atenção”, “acabei de falar isso”. E com razão. Estava tão concentrado, que realmente não ouvi. Em outro mundo.
Na Golden Four Asics do Rio de Janeiro ano passado, corri uns três quilômetros com o Solonei Rocha da Silva, que estava fazendo uma “presença”, sem se preocupar com tempo. No bate-papo, ele afirmou: “Hoje, nesse ritmo, consigo ver esse visual maravilhoso. Porque, normalmente, a gente só vê o chão e mais nada. Nem sabemos por onde passamos”.
Em velocidades totalmente diferentes da elite, é claro, mas hoje posso dizer que sei exatamente o que o Solonei falou. Me preocupo nas corridas com a minha respiração, com as passadas, com a postura, com o controle do ritmo. Em uma concentração absoluta. Não “enxergo” praticamente nada.
Na etapa de Porto Alegre da Golden Four, no último dia 30, quando bati o recorde pessoal em 1:23:19, foi uma experiência bem interessante. O mesmo que ocorreu no período de treinos, mas em uma competição, nunca tinha corrido tão sabendo o ritmo que faria e sabendo que iria cansar, mas que seria totalmente possível manter um desempenho muito próximo, km a km. Tinha uma só preocupação, correr… o tempo todo. E no dia 28, na Golden São Paulo, será o mesmo.