Há algum tempo, um amigo australiano, surfista de prestigio, conhecendo minha ¨religião¨, sugeriu-me a Blackmores Sydney Running Festival. A sugestão se concretizou em 23 de setembro quando, por entre as belezas naturais de um "Brasil britânico", percorri a meia-maratona, desfrutando a cordialidade dos que adoram divertir-se, aproveitando todo o ócio em atividades de lazer, ou seja, os australianos.
A Blackmores Sydney Running Festival é muito bem organizada e convida a todos, das mais diversas idades e condicionamento fisico, a correr para divertir-se, como sugere o slogan "The run that's fun for everyone", a maratona, a meia, a corrida de "corpo e alma" Bridge Run de 7,4 km e a Family Fun Run, caminhada de 4 km. Todos podem participar. Os detalhes das provas, inscrição, percurso, estão no site do evento www.runthebridge.com.au.
A meia é a mais prestigiada e por isto larga com o sol nascente, as 6h20, da Sydney Harbour Bridge. Uma hora depois saem, de outros pontos, os maratonistas, demais corredores e caminhantes que se encontram na chegada. Enganam-se os que imaginam confusão e transtornos entre os corredores de diferentes categorias e estilos. Tudo corre bem. Até os grandes sacos plásticos, para guardar volumes, em que anotam o seu número com caneta ali na hora, e que são entregues em caminhões à sua escolha na largada, ficam organizados por número em local especifico na área da chegada. Tudo bastante descomplicado e com muita civilidade. Afinal, é a Austrália "no worries", sem preocupações, como se auto intitula. Nem de longe fez lembrar a última Meia de Buenos Aires, que participei também em setembro.
O deslocamento fácil por ruas da cidade às 5 da manhã, com trens e onibus públicos colocados à disposição pelos organizadores, permitiu a largada tranqüila, com a aurora da Sydney Harbour Bridge, em que só parei 1h47 depois de passar por um percurso de altimetria moderada, entre pontes e cenários deslumbrantes, num clima agradável de 13º C na largada e 20º C na chegada.
Da São Silvestre à Austrália. Uma grande coincidência com meu estilo de correr levou-me até lá. Sou corredora que até 1999 não tinha outro desejo que o de participar da São Silvestre e uma vez realizado o sonho, por opção de terapia física e mental, adotei a prática do esporte, participando de maratonas nacionais e internacionais, meias e inúmeras 10 km antes de chegar a Blackmores.
E não me enganei. Tudo convidou a vencer o desafio da famosa distância para alcançar a magnifica Sydney Opera House: desde a semelhança com a geografia e clima latino-americanos, à exuberância da natureza local, que brinda todo o trajeto da mega moderna cidade com cacatuas, ibis, periquitos, gaivotas e várias espécies que naturalmente habitam os parques, praças e a fabulosa costa marítima, um meio-ambiente muito bem protegido.
Entre outros que acontecem em terras australianas, o evento anual internacional em Sydney reúne aproximadamente 20 mil pessoas em sua maioria nativos, orientais – asiáticos, indianos, os constantes vencedores africanos, europeus, norte-americanos e canadenses. Nesta ediçao de 2007 o pódio da maratona foi pela terceira vez do queniano Julios Maritim (2:14:38) e da japonesa Naoko Tsuchiya (2:43:10). A meia ficou para os australianos Thomas Do Canto (1:07:29) e Jenny Wickham (1:18:20).
Há operadoras de viagem que levam você até lá, porém decidi em agosto inscrever-me no site do evento (http://www.sydneymarathon.org/), e tracei um plano de viagem, aproveitando dias de férias, chegando uma semana antes da prova.
O valor da inscrição, que varia de 70 a 350 reais, não inclui jantar de massas, porém oferece semana gratuita na academia Fitness First, e ao final, prêmios em dinheiro para geral e por categoría de idade, camiseta, boné, massagens, boa hidratação e assistência no percurso, kit com frutas e lanches, isotônicos. Durante uma semana podem ser retirados os kit, em um pavilhão especialmente preparado para a reunião dos corredores, onde há também venda de produtos esportivos a bom preço, música e interação com os atletas de elite participantes.
Muito o que fazer. A Austrália oferece muitas opções de turismo esportivo e ecológico no mar, no ar, em terra, variando de escaladas, trekking, biking, mergulhos, rafting, surf, canoagem, visitas guiadas a selva de crocodilos, paraquedismo, balonismo, em uma geografia semelhante ao sul da América Latina, incluindo desertos e lugares exóticos como a Tasmania, ilhas de areia. Por esta razão e porque os australianos praticam muitos esportes, atribui-se aos eventos de corrida a mesma importância que os inúmeros outros que ocorrem com regularidade.
Arrecadar fundos para associações de caridade é um objetivo desta prova, que estimula a correr por uma causa e compulsoriamente muitos participantes acabam revertendo o valor de sua inscrição a estas fundações e associações beneficentes de promoção de saúde e prevenção de doenças, as quais também convocam voluntários corredores para angariar fundos durante a corrida, seguindo assim o modelo dos maiores eventos de corrida do mundo que hoje incentivam a contribuição financeira a organizações não governamentais. Quem sabe, como bons contribuintes que somos, não serão também contemplados os brasileiros carentes destes beneficios, não é mesmo?
Enfim, vencido o maior desafio da maratona, a áerea, com intermináveis 17 horas (24 a 25 considerando as escalas), participar da corrida é legal, ¨cool¨ como dizem os australianos. Além de uma boa opção, quando o verão tropical já vem nos esquentando.
* Rosana Marques Paulon, assinante paulistana, é arquiteta, bacharel em direito, poetisa e auditora fiscal da Receita Federal.