A organização divulgou o encerramento das inscrições em prazo recorde, com mais de dois meses de antecedência. Citou o número oficial de 30 mil participantes. Contudo, o total de concluintes ficou aquém desses dados e, inclusive, a 91ª Corrida Internacional de São Silvestre "encolheu", com 1.118 corredores a menos na comparação com 2014. Foram 23.268 pessoas completando oficialmente os 15 km na 91ª edição (16.623 homens e 6.645 mulheres), contra 24.386 na prova de 2014 (18.134 homens e 6.252 mulheres).
Há quem retire o kit e não corra, mas é uma minoria, até porque não existe pouco atrativo nesse quesito (apenas a camiserta). Outras pessoas que se machucam ou, não estando bem preparadas, desistem ou acabam correndo apenas parte dos 15 km. Junte-se ainda os com problema no chip e sem o resultado final divulgado. Mesmo assim, entre os números divulgados previamente e os oficiais, a diferença foi muito grande – dos 30 mil alardeados para os 23.268. Como a São Silvestre vinha em crescimento anual (veja os números no quadro), a expectativa era de que superasse, ao menos, os 25 mil concluintes.
Também não se pode deixar de destacar o enorme número de "pipocas" (corredores sem número) sempre presentes, sendo possível estimar algo entre 15 e 30% dos participantes, com base nas muitas fotos avaliadas. Como a prova é mais festa do que competição, para muitos não tem qualquer importância ter o resultado registrado ou não. A opção é também em parte motivada pelo alto custo de inscrição (R$ 140).
A prova continua sendo a mais famosa, tradicional, falada e charmosa do atletismo brasileiro. Não há como negar. Basta conversar com a maioria dos participantes. Atrai gente do Brasil inteiro, com representantes de todos os Estados. Há até estrangeiros e não são apenas os da elite! A festa é enorme, com as tradicionais placas de mensagens, os fantasiados, muita gente aplaudindo e incentivando em alguns pontos do percurso.
ELITE – Nas primeiras colocações, nenhuma surpresa. Os favoritos venceram. No masculino, o queniano Stanley Biwott, campeão de Maratona de Nova York em 2015, completou os 15 km com o tempo de 44:31 e espera estar no Rio de Janeiro, em agosto, para a maratona olímpica. Giovani dos Santos, em quinto lugar, com 44:58, foi novamente o melhor brasileiro (o único entre os dez primeiros).
Biwott destacou a dificuldade da prova paulistana e a segunda vitória dele na Capital paulista: foi primeiro colocado na Maratona de São Paulo em 2012. O queniano espera que essa tenha sido uma passagem, tendo como meta principal a participação nos 42 km nos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto. "A seletiva de maratona no Quênia é muito difícil, mas vou tentar, mas não sei se vou conseguir. Ficaria honrado de representar o Quênia (na Olimpíada)", afirmou.
á Giovani promete seguir na luta por uma vitória na São Silvestre. "Não vou desistir até subir ao lugar mais alto do pódio. Estou muito feliz com meu resultado, com minha colocação", disse. Ele também pretende se classificar para a Rio-2016. "Meu grande foco é a Olimpíada. O importante agora é conseguir o índice, seja na maratona ou nos 10.000 m."
Nos 42 km, para ter chance, Giovani precisa correr abaixo dos 2:11:02 já obtidos por Paulo Roberto de Almeida Paula (Solonei Rocha da Silva já está classificado pelos critérios da CBAt e o líder do ranking nacional, Marilson Gomes dos Santos, tem 2:11:00). Já nos 10.000 m, o índice é de 28:00 e anda não há nenhum brasileiro classificado.
FEMININO – Entre as mulheres na São Silvestre, em uma disputa acirrada, a etíope Ymer Ayalew garantiu o tricampeonato (2008/2014/2015) com a marca de 54:01. O Brasil garantiu dois lugares no pódio: Sueli Pereira da Silva na quarta posição (54:15) e Joziane Cardoso em quinto lugar (54:22).
"Não é fácil correr com as africanas, mas consegui o quarto lugar. Sempre estou correndo com elas e é normalmente no final que elas fazem a diferença." (Sueli chegou a liderar no trecho final da subida da Brigadeiro)
"Eu e a Joziane estamos sempre tentando melhorar a cada ano. Agora, vou descansar e, depois, viajarei para a Itália, na cidade de Pádova, para tentar o índice olímpico na maratona", destacou. A prova italiana será realizada no dia 17 de abril (http://maratonasantantonio.it/). Com 2:39:36 obtidos em Santiago-2015, Sueli ocupa a quarta posição no ranking brasileiro e, hoje, estaria fora da Olimpíada (são três vagas por país). A terceira colocada é Rosângela Faria, com 2:38:40 de Buenos Aires-2015. As líderes são Adriana Aparecida da Silva (2:35:28) e Marily dos Santos (2:37:25).
Joziane também festejou o resultado na coletiva de imprensa. Ela buscará a classificação olímpica nos 5.000 m e nos 10.000 m. Atualmente, o Brasil não tem nenhuma atleta com índice nas duas distâncias. Os tempos mínimos exigidos pela CBAt são de 15:24 e 32:15, respectivamente. O atletismo na Rio-2016 será disputado de 12 a 21 de agosto.
Confira os resultados completos da 91ª Corrida Internacional de São Silvestre no site oficial, o www.saosilvestre.com.br.
DEPOIMENTOS
As lágrimas da estreia
"Quando comecei a correr no final de 2014, coloquei algumas metas pessoais: fazer novos amigos, ter uma vida saudável e participar da São Silvestre! Para mim, a prova sempre foi sinônimo de fortes emoções: acompanhando pela televisão, me sentia tocada por ver as pessoas correndo, pelos casos de superação.
Em 2015, chegou a minha vez. Foi uma mistura de sensações. A cada dia da contagem regressiva para a prova, aumentava a ansiedade. No dia 31 de dezembro, enquanto aguardava a largada, demorou para acreditar que realmente estava na Avenida Paulista. Ao sinal sonoro, fiquei arrepiada de emoção e confesso que meus olhos se encheram de lágrimas, pois passou um rápido filme na minha cabeça, do dia em que comecei a correr, do sonho de estar lá, do ano de preparação e de todas as dificuldades superadas.
Nunca vivenciei, em uma corrida, tamanha emoção como na São Silvestre."
Eneida de Lucca – Campinas
Pronto para a 15ª
"Participo ininterruptamente da São Silvestre há 14 anos. A cada prova, mesmo com mudanças de horário, de percurso e com o aumento mais do que significativo de participantes e pipocas, existe ainda aquele calafrio, como se fosse a primeira vez.
Ao soar da buzina da largada até o pórtico de chegada, mesmo passando pelas mesmas ruas, prédios e monumentos, a sensação é única, magistral. Flui pela mente todas outras provas completadas, um clima nostálgico.
A São Silvestre tem charme e carisma. Todo corredor, pelo menos uma vez em sua trajetória, tem de se arriscar, participar desta que é o berço das corridas no Brasil. A confraternização com amigos e aquela amizade feita ali, de momento, não têm preço. Pessoas de todos os cantos do Brasil, alguns estrangeiros. Não vejo experiência melhor.
Estava tudo perfeito no meu ponto de vista, com boa distribuição de água e de isotônico. O meu único senão: faltou aquela fruta no final."
Richard Messias Medina, Hortolândia
Melhor organizada
"Essa foi a minha quinta participação na São Silvestre e, diferentemente de outros relatos que acompanhei, foi a edição mais organizada que corri. Vale lembrar que pipocas e ‘espertinhos' que ludibriam o percurso sempre irão existir nas corridas nacionais, infelizmente.
A feira foi organizada e com preços bons para compras, tanto que pela primeira vez fiz aquisições no complexo do Ibirapuera, local da retirada do kit oficial. A prova é a mesma de sempre: cheia, percurso puxado etc. Sinceramente, vejo muitos reclamando que a São Silvestre é congestionada e tal. É mesmo. Sendo assim, o corredor tem duas opções: não ir e buscar outra corrida afora ou chegar mais cedo para a largada. Optei pela segunda opção e me dei bem, pois não tive problemas com o tumulto."
Anderson Rios – Goiânia
Virada do ano em São Paulo
"A Corrida de São Silvestre para mim é o marco final, o encerramento do ciclo anual de treinos e provas, a última do ano. Em 2015 foi a minha terceira participação, a junção ‘corrida-viagem' faz um ótimo combo, pois também ficamos para a virada de ano em São Paulo.
Notei nessa edição, comparado com anteriores, uma melhor organização, a feira estava excelente, muitos estandes variados oferecendo bons descontos e oportunidade para compras de tênis com preços bem camaradas. Eu aproveitei em tênis, géis, gomas de carboidratos e cosméticos específicos de corrida.
Vejo um único problema, a falha no registro dos atletas. Muitos ficam sem a divulgação do tempo no site oficial. Já aconteceu comigo na primeira vez em que corri em 2012. Mesmo passando por todos os tapetes, o tempo acaba não computado. Este ano não foi diferente para vários participantes."
Talita Nunes – Goiânia
A primeira aos 68 anos
"Durante anos assistindo à tradicional São Silvestre pela televisão, eis que no dia 31 lá estava eu, no meio daquela grande multidão, aguardando o início da largada da 91ª edição, sentindo grande temor e ansiedade.
Nunca poderia imaginar em participar desta tradicional prova visto que há seis meses iniciava uma nova etapa de minha vida, ao começar a correr, fato este que iria mudar radicalmente o meu modo de pensar, de viver e de me relacionar.
Dada a ordem de partida da corrida, logo pude sentir uma intensa vibração dos participantes e do público que assistia, gritava e incentivava a todos, logo na entrada do túnel da Avenida Paulista. Para mim, essa energia positiva foi algo inédito, surpreendente e extremamente agradável, o que me trouxe até arrepios. Já quase no final, na subida da Brigadeiro e nos últimos metros finais, esse apoio acabou sendo decisivo para completar a prova ainda com vigor.
Durante o percurso, a cada placa de identificação do quilômetro, era um fator motivador de superação das dificuldades de calor, de cansaço e de dores. Essa inédita experiência foi algo extremamente gratificante e lembrei-me dos difíceis e desgastantes treinos realizados.
Não há como negar que, ao receber a medalha de participação da prova, a nossa mente se volta para a São Silvestre de 2016 e aquela sensação de quero mais."
Akira Sakakura – Campinas
CONCLUINTES NA SS
2010 – 18.042
2011 – 19.157
2012 – 20.526
2014 – 24.339
2015 – 23.268
RESULTADOS DE 2015
1 Stanley Biwott (Quênia) 44:31
2 Leul Aleme (Etiópia) 44:34
3 Feyssa Lilesa (Etiópia) 44:38
4 Edwin Rotich (Quênia) 44:41
5 Giovani dos Santos (Brasil) 44:58
1 Ymer Ayalew (Etiópia) 54:01
2 Delvine Meringor (Quênia) 54:03
3 Failuna Matanga (Tanzânia) 54:11
4 Sueli Pereira da Silva (Brasil) 54:15
5 Joziane Cardoso (Brasil) 54:22