Notícias admin 29 de março de 2016 (0) (97)

Rumo a Paris: três meias nos EUA

Quem planeja correr uma maratona no primeiro semestre, como as consagradas Paris, Londres, Roterdã ou Boston, todas em abril, idealmente inclui uma meia-maratona durante a preparação, num intervalo que costuma variar de oito a quatro semanas antes do grande dia.
No Brasil, porém, a oferta de meias nos três primeiros meses do ano é muito limitada, sobretudo por causa do calor. Afinal, como se treinar no verão já não fosse uma dificuldade extra – que, no entanto, acaba sendo uma vantagem quando se vai correr a maratona em clima ameno ou frio -, fazer uma meia preparatória com o termômetro beirando, ou até passando, os 30 graus pode ser frustrante e pouco vantajoso.
Assim, inscrito para correr a Maratona de Paris, dia 3 de abril, decidi fazer um planejamento mais audacioso, em todos os sentidos: correr três meias rápidas e bem organizadas, com clima garantidamente ameno, num intervalo de sete semanas. Todas nos Estados Unidos, em viagens curtas, de no máximo cinco dias, para não atrapalhar os treinos e a rotina profissional.
Desta forma, teria como checar a evolução ao longo dos meses de treinamento, usando as provas como aprontos de 21 km em ritmo forte e, ao mesmo tempo, servindo como os longos de fim de semana (graças aos trotes pré e pós prova, perfazendo um total que variou de 27 a 32 km). A ousada ideia deu certo, os tempos foram progressivamente melhores, o que agora me dá confiança para correr Paris com a meta de um sub 3h10 (quando esta matéria for publicada na CR, já saberemos se a maratona saiu como planejado).

Miami – 24 de janeiro
Realizada junto com a Maratona de Miami, a meia largou ao mesmo tempo, às 6h, antes do sol raiar e temperatura na casa dos 18 graus, com muitas luzes e animação, quase uma festa rave. Com 14.492 concluintes este ano (só na meia – há também uma corrida de 5 km, realizada no sábado), esta prova já é bem conhecida dos brasileiros e dispensa maiores comentários.
O percurso é rápido e interessante, com largada ao lado da American Airlines arena, onde o Miami Heat faz seus jogos – e onde a cantora Madonna havia se apresentado na véspera. Depois de uma ponte (a única razoável subida do percurso, que também se encara na volta), acompanha-se o porto de Miami rumo à Miami Beach, onde se chega após cruzar uma segunda ponte, no km 5, esta bem mais baixa do que a primeira. Na volta, esta ponte marca a metade do percurso, com o sol já começando a despontar no horizonte.
Em Miami Beach a prova faz seu retorno, depois de passar pela famosa Ocean Drive, com seus bonitos e preservados hotéis Art Déco. A chegada é próximo à largada, o que logisticamente facilita as coisas. Medalha grande e muito colorida, no que chamam de "Miami Style", e a primeira etapa cumprida: 1:27:56 (4:10 por km de média e, por apenas 4 segundos do qualifying time na minha faixa etária (45-49/1:28:00) para a Maratona de NY 2017!).
Sim, pouco se divulga, mas NY também tem tempos classificatórios, como Boston, que dispensam o sorteio ou a compra de pacotes com as agências oficiais. As diferenças: também as meias são aceitas, os tempos são mais difíceis e o período levado em conta é de 1 de janeiro a 31 de dezembro do ano anterior. Mais informações em http://www.tcsnycmarathon.org/plan-your-race/getting-in/2016-time-qualifying-standards

Tampa – 21 de fevereiro
Um mês depois, voltei à Flórida, desta vez para correr a meia da Gasparilla Distance Classic, uma prova tradicional e impecavelmente organizada, na bonita e muito agradável cidade de Tampa. A 4 horas de carro de Miami e 1h30 de Orlando, Tampa oferece várias atrações e é um destino muito interessante. Destas três meias, é certamente a que mais recomendo para os brasileiros.
A Gasparilla reúne quatro distâncias: 5 e 15 km, no sábado, e a meia e 8 km, no domingo – como na Disney, existem combinações de desafios para quem pretende correr mais de uma prova, ou mesmo todas as quatro, que são realizadas em horários distintos.
A meia tem percurso plano e muito bonito, com largada também às 6h e no escuro, como em Miami, porém estava um pouco mais frio, em torno de 15 graus. Com 5.737 concluintes (na meia), é uma prova menos cheia, o que resulta numa melhor fluidez já logo na largada.
O visual dos dois terços finais, uma ida e volta no belíssimo Bayshore Boulevard, depois do primeiro terço, que percorre a vizinha Davis Island, é dos mais bonitos em que já corri – e olha que já fiz muitas provas, no Brasil e no mundo. A medalha também é muito bonita e os concluintes têm à disposição fartíssima oferta de comes e bebes – até paella de frutos do mar! Com 1:26:42 (ritmo de 4:06 por km), melhorei o tempo obtido em Miami em mais de um minuto.

Washington – 12 de março
Minha terceira e última meia foi em Washington, capital dos EUA e um destino turístico recheado de atrações, especialmente excelentes museus – quase todos gratuitos. A prova escolhida foi a terceira etapa americana do extenso circuito Rock'n Roll Marathon Series, iniciado em San Diego, Califórnia, e que hoje conta com 31 datas, em nove países.
A de Washington tem maratona e meia, que largam juntas, às 7h30, no Mall, a enorme esplanada que concentra os principais museus e monumentos, como os dos ex-presidentes Lincoln e Washington, além do Capitólio, sede do Congresso dos EUA e símbolo maior da cidade, no alto de uma colina.
Plano nos primeiros km, o percurso, no entanto, reserva algumas surpresas, como uma subida curta e travada na altura do km 10, quando deixa de margear o leito do Rock Creek, trecho mais bucólico e agradável da prova. Depois há outras subidas, porém mais suaves, e algumas poucas descidas – a chegada é num ponto mais alto do que a largada, junto ao antigo Armory (Arsenal), local onde acontece a feira e retirada dos kits, na véspera.
A segunda metade da prova percorre bairros residenciais por ruas mal asfaltadas – uma surpresa, em se tratando de EUA, e tremendo contraste com o asfalto impecável que encontrei em Miami e Tampa -, o que faz do percurso, no geral, o menos interessante e bonito destas três meias.
Apesar de ter muitos participantes (14.470 concluintes apenas na meia), a prova flui muito bem e o nível médio dos corredores é alto, com muita gente correndo forte, inclusive mulheres. O frio de 10 a 12 graus compensou as subidas. Resultado: 1:26:21 (ritmo de 4:05 por km e 21 segundos mais rápido do que em Tampa). Três meias, todas sub 1h28 e cada uma mais rápida do que a anterior. Missão cumprida, que venha Paris!
Marcio Carrilho é jornalista do Rio de Janeiro, tem 47 anos e já completou 28 maratonas, sendo 23 sub 3h40 e cinco sub 3h00. Seu melhor tempo é 2:45:12.

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