Sem categoria admin 29 de março de 2016 (0) (216)

CORREDORAS QUE FIZERAM HISTÓRIA

A participação feminina nas corridas de rua só cresce, e em alguns casos (EUA) elas já são maioria, sendo muitas as corridas exclusivas só para elas. Mas nem sempre foi assim. As conquistas de hoje muito se devem a grandes personagens que, apaixonadas pelo esporte, abriram caminho para a situação atual.
Em sua tese de doutorado apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, em 2009, intitulada "Corrida de rua: um fenômeno sociocultural contemporâneo", a treinadora Martha Dallari relata que a participação de mulheres em corridas acompanhou o processo de emancipação feminina na sociedade. "No início do século 20, acreditava-se que mulheres não eram fisicamente adaptadas para a excitação e o esforço proporcionados pelas competições. Atendendo a apelos da Federação Esportiva Feminina Internacional, fundada em 1921, incluiu-se nos Jogos Olímpicos daquele ano a disputa de 800 metros, ao final dos quais cinco competidoras desmaiaram. A partir de 1960 essa modalidade voltou a fazer parte das competições olímpicas femininas e despertou o interesse das mulheres pelas corridas de longa distância. Apenas em 1972 a Amateur Athletics Union, órgão regulamentador do atletismo nos Estados Unidos, autorizou a participação feminina em maratonas. No mesmo ano mulheres foram admitidas oficialmente na Maratona de Boston. Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, foi disputada pela primeira vez a maratona feminina.
Apresentamos a seguir 3 grandes nomes femininos nas corridas de rua.

Kathrine Switzer – a pioneira em Boston
Em seu livro Marathon Woman e em seu site (kathrineswitzer.com), Kathrine – hoje uma bonita senhora de 69 anos -, conta como aconteceu o fato que marcou a história das corridas de rua no mundo: a participação oficial da primeira mulher na mais tradicional das maratonas, Boston, em 1967.
"Tudo começou em dezembro de 1966, eu com 19 anos, estudante de jornalismo da Universidade de Syracuse. Como não havia uma equipe feminina de corrida, perguntei ao treinador do time de cross-country masculino se poderia treinar com eles. Foi quando conheci Arnie Briggs, o carteiro da faculdade que havia se tornado uma espécie de diretor do time. Aos 50 anos, ele já havia participado de 15 edições da Maratona de Boston. Passei a treinar extra-oficialmente com Arnie, que me ensinou o que era correr."
A Maratona de Boston era um dos assuntos favoritos nos treinos. O que despertou a vontade de Kathrine em participar. "Nenhuma mulher pode correr a Maratona de Boston", disse Arnie à sua pupila. "Por que não? Estou correndo 10 milhas por noite!", rebateu ela. Mas a moça precisou mostrar para o treinador que era capaz de correr a mítica distância de 42 quilômetros. E assim o fez. No dia seguinte, Arnie incentivava Kathrine a se inscrever na prova.
"Achei engraçado não ter nenhuma especificação de sexo na inscrição. Acabei me inscrevendo com o nome de K.V. Switzer, não por medo de ser pega, mas porque sempre assinei assim", conta. Ao contrário de hoje, naquela época não eram exigidos tempos de qualificação.
Quando o namorado de Kathrine, Tom Miller, jogador de futebol americano, ficou sabendo dos planos dela decidiu se inscrever também e disse que não precisava treinar porque se uma menina poderia correr uma maratona, ele também seria capaz.
Ventava, nevava e fazia muito frio no dia da prova. Os corredores demonstravam apoio ao vê-la participar e até diziam que gostariam que suas mulheres também praticassem o esporte. "Eu não estava tentando me esconder de maneira nenhuma, pelo contrário, estava tão orgulhosa de mim mesma que usava até batom – mesmo meu namorado tendo pedido para eu tirar, para não chamar atenção".
Ao longo da prova, quando os fotógrafos viram Kathrine, começaram a gritar "tem uma garota na corrida!" Foi aí que Jock Semple, um dos diretores da maratona, conhecido por seu temperamento violento, veio correndo atrás da atleta gritando: "saia da minha prova e me dê esse número de peito!" Ela gelou. "Para minha sorte, meu namorado conseguiu empurrá-lo. O resto é história. Terminei em torno de 4h20".

Joan Benoit – a primeira campeã olímpica
Ela começou a correr longas distâncias como forma de recuperar-se de um acidente de esqui, quando fraturou a perna. Na adolescência, passou a correr no ginásio em sua cidade natal Cape Elizabeth, Estados Unidos. Logo foi destaque regional e quando entrou no Bowdoin College, em Boston, sua carreira decolou, tornando-se atleta premiada em competições nacionais de cross-country. Tornou-se mundialmente conhecida em 1979 quando disputou pela primeira vez a Maratona de Boston – e venceu! E em 1983, quebrou o recorde mundial dos 42 km com o tempo de 2:22:43.
Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, a maratona feminina foi incorporada ao programa pela primeira vez. Durante a prova, Benoit surpreendeu quando se desgarrou do primeiro pelotão desde o início, impondo um forte ritmo que muitos acreditaram parecer suicida, devido ao forte calor e umidade. Porém, ela superou as adversidades e foi a primeira campeã e primeira recordista da maratona olímpica feminina, seguida da norueguesa Grete Waitz e da portuguesa Rosa Mota, ganhadora da São Silvestre por 6 vezes consecutivas (a partir de 1981), igualmente motivadora de maior participação feminina na nossa principal prova.
Foi em Los Angeles 1984 que a suíça Gabriel Andersen chegou cambaleante, uma imagem associada a certo heroísmo, mas que também jogou contra toda a campanha para mostrar que as mulheres eram capazes de correr os 42 km. Aliás, a única brasileira presente, Eleonora Mendonça, chegou 2 minutos atrás dela.

Carmem de Oliveira – muitos recordes e vitórias
Nascida em Sobradinho (DF), Carmen entrou para a história em 1995, aos 30 anos, ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americano de Mar del Plata, na prova dos 10 mil metros, e ao ser a primeira brasileira a ganhar a Corrida Internacional de São Silvestre. Antes, já tinha sido vice-campeã da prova por quatro vezes (1985, 1990, 1992 e 1993).
Em sua vitoriosa trajetória, a atleta ainda foi a primeira fundista brasileira a participar de um Campeonato Mundial de Atletismo e de uma Olimpíada (Barcelona, 1992). Carmem também esteve presente na maratona dos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996).
Considerada ainda hoje a maior corredora brasileira de todos os tempos, continua sendo a detentora de vários recordes sul-americanos, como o da maratona. Ativa no esporte mesmo fora das pistas, também já dirigiu a Federação de Atletismo do DF, batalhando pela a evolução de nossos corredores de elite.

BRASILEIRAS RÁPIDAS
Diversas corredoras se sobressaíram nas principais provas brasileiras durante os últimos 25 anos, sendo que até 10 anos atrás as africanas não faziam temporadas por aqui, mas, mesmo que aparecessem, provavelmente seriam superadas por elas, porque corriam muito bem.
Sob pena de não lembrarmos de todas as mais importantes, vamos pelo menos citar algumas nesta homenagem, tendo como referência o ranking da CBAt de melhores tempos da história:

As 10 melhores até hoje nos 10 km
32:06 Carmem Souza Oliveira
32:30 Roseli Aparecida Machado
32:32 Simone Alves da Silva
32:37 Cruz Nonata da Silva
32:43 Viviany Anderson Oliveira
33:06 Ednalva Lauriano da Silva
33:20 Silvana Pereira
33:23 Márcia Narloch
33:24 Lucélia de Oliveira Peres
33:26 Cleuza Maria Irineu

As 10 melhores até hoje nos 21,1 km
1:11:15 Silvana Pereira
1:11:42 Rosângela Raimunda Faria
1:11:50 Cruz Nonata da Silva
1:12:15 Ednalva Lauriano da Silva
1:12:19 Marizete de Paula Rezende
1:12:21 Solange Cordeiro de Souza
1:12:45 Maria Zeferina Baldaia
1:12:47 Rizoneide Wanderley
1:13:05 Nadir Sabino Siqueira
1:13:14 Selma Cândida dos Reis

As 10 melhores até hoje nos 42,2 km
2:27:41 Carmem Souza Oliveira
2:29:17 Adriana Aparecida da Silva
2:29:59 Márcia Narloch
2:31:27 Janeth Mayal
2:31:39 Viviany Anderson Oliveira
2:31:55 Marily dos Santos
2:32:46 Cruz Nonata da Silva
2:33:35 Marlene Teixeira Fortunato
2:34:51 Solange Cordeiro de Souza
2:35:09 Michele Cristina das Chagas

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