Notícias admin 29 de fevereiro de 2016 (0) (172)

Nova York em dia abençoado

A 45ª edição Maratona de Nova York foi realizada no dia 1º de novembro e contou com a participação de quase 50 mil corredores, que largaram em Staten Island e percorreram os distritos do Brooklyn, Queens, Bronx e Manhattan, para cruzar a linha de chegada no Central Park.
Os corredores que desembarcaram este ano na cidade não tiveram do que reclamar. O domingo de prova amanheceu com um clima perfeito para correr. Ao longo da competição, a temperatura ficou em torno de 15 graus, sem muita variação.
Apesar da excelente temperatura, a prova da elite não foi tão rápida quanto se imaginava. O queniano Stanley Biwott foi o campeão com 2:10:34. Na 2ª colocação, ficou Geoffrey Kamworor, também do Quênia, que fechou os 42 km com 2:10:48, seguido do etíope Lelisa Desisa, em 3º, com 2:12:10. A queniana Mary Keitany faturou o bicampeonato na prova, com 2:24:25, seguida das etíopes Aselefech Mergia, em 2:25:32, e Tigist Tufa, em 3º, com 2:25:50. A portuguesa Sara Moreira foi a 4ª, no tempo de 2:25:43.
Nova York mais uma vez encerra o ciclo anual das Majors com números incríveis. Foram 49.617 corredores (20.070 mulheres) que cruzaram a linha de chegada no Central Park. Os números finais de concluintes não batem os de 2013 e 2014, quando a prova teve recorde de finishers, ultrapassando os 50 mil (50.266 em 2013 e 50.530 em 2014), mas isso com certeza não tira o brilho da prova, que continua reinando absoluta entre as maiores maratonas do mundo.

574 BRASILEIROS. Dos 125 países representados naquela que é considerada a mais internacional das maratonas, o Brasil mais uma vez mostra que Nova York é um sonho de consumo. Ao todo, 574 brasileiros cruzaram a linha de chegada.
A bancária mineira Raquel Amélia Garcia, de 36 anos, esperou 10 anos para realizar o grande sonho de correr a "Rainha das Maratonas. "Sempre que via imagens e vídeo de NY eu me emocionava e imaginava se um dia eu conseguiria chegar lá", conta Raquel, que prometeu a ela mesmo que quando completasse 10 anos de corrida colocaria enfim seu sonho em prática. E foi o que aconteceu.
Nova York não foi sua primeira maratona no currículo, mas com certeza teve gostinho especial. Ela partiu para a Big Apple e arrastando com ela seu noivo e vários amigos, que se mobilizaram para vê-la de perto conquistar algo tão almejado. Sua meta principal era conseguir completar abaixo de 4h30 para ver seu nome publicado no NY Times na segunda-feira pós-prova. Ela terminou em 4h28, bateu seu recorde pessoal na distância e levou muitas lembranças para casa, além da página do NY Times com seu nome estampado. "Quando penso na prova, lembro das pessoas na rua, da cidade toda querendo participar, dos cartazes de incentivo, de pessoas gritando Brasil quando eu passava."

ESTREIA NOS 42 KM. Também depois de dez anos de corrida e três meias maratonas na bagagem, a jornalista Anne Dias, de 42 anos, que mora na capital paulista, mas nasceu em Campo Grande (MS), escolheu Nova York para debutar nos 42 km, mesmo sabendo que a prova tinha uma altimetria que pode complicar principalmente na segunda parte, quando as subidas são constantes.
"Eu realmente achei que fosse me dar mal, mas meu objetivo era correr e ficar bem no dia seguinte, poder andar pela cidade sem dores. A meta foi alcançada com louvor", diz Anne, que finalizou a prova em 5h10, dentro do planejado. Ela ficou impressionada com a organização. "O regime é praticamente militar, com horário para tudo. É por isso que dá certo. Os voluntários têm todas as respostas para suas perguntas, a hidratação surge no momento exato em que você tem sede, não há buracos no asfalto. Para completar, a plateia te empurra para frente, seja aplaudindo seja com cartazes ou pedindo para bater a mão. É uma prova que faz você se sentir especial, não importa sua colocação", lembra a corredora, que destaca os lindos prédios do Brooklyn, a chegada emocionante, a voz de Sinatra cantando na largada, os médicos perguntando se você está bem e o volume gigante de gente correndo sem se esbarrar, como as principais lembranças que guarda da prova.
O procurador do trabalho Alberto Oliveira, de 40 anos, também diz ter ficado impressionado com a organização de um evento com cerca de 50 mil pessoas e o envolvimento de toda a cidade, que abraça a prova. "Fui parabenizando antes, durante e após a prova. Com medalha no peito nem precisei pagar o metrô." Corredor há seis anos, Alberto, que é de Curitiba, tinha a expectativa de uma sub 4h, mas a dificuldade do percurso fez com que terminasse a prova em 4h25. "Forcei um pouco no começo e quando cheguei em Manhattan vi que não ia ter perna", explica Alberto, que completou em Nova York sua terceira maratona.

ORGANIZAÇÃO IMPECÁVEL. A esteticista capixaba Maria José do Nascimento, de 48 anos, compartilha da mesma opinião quando o assunto é organização. Corredora há 13 anos, Maria José, que vive no Rio, escolheu voltar a Nova York depois da incrível experiência vivida em 2006. "O evento impressiona pelo padrão de organização inigualável e durante a prova a alegria do público é marcante. Essa maratona não é apenas uma corrida, é um evento. É uma festa do início ao fim, que podemos compartilhar alegria com pessoas do mundo todo. Além disso, a prova passa pelos cinco distritos da cidade, pelas pontes e finaliza no Central Park. É uma oportunidade de conhecer nova York correndo", conta ela, que finalizou a prova em 3h44.
O paulista e administrador de empresas Fábio Nuno Gomes Martins, de 37 anos, optou por Nova York para completar sua décima maratona. "Para quem gosta de correr, é um privilégio participar da maior maratona do mundo, com cerca de 50 mil corredores, mais de 1 milhão de pessoas e 130 bandas nas ruas", conta Fabio, que também destaca a excelente organização e a logística. "Transportar 50 mil corredores de madrugada para uma ilha por meio de ônibus e ferry boats a tempo de todos estarem em suas largadas no hora programada é, sem sombra de dúvidas, algo a ressaltar."
Para Fábio, que três semanas antes participou da Maratona de Chicago, uma das coisas que mais ficou marcada é a grande participação do público em todo o percurso. "Em cada esquina nós nos sentimos os astros principais de um grande evento, o que faz com que a corrida passe muito rápido e seja bem divertida."
Diversão à parte e mesmo vindo de uma outra maratona havia poucas semanas, o paulista não brincou em serviço e completou o difícil percurso pelos cinco distritos em 2h49, levando para casa não apenas a medalha e a lembrança de uma prova excepcional, mas também a recordação de um recorde pessoal.
"A prova é bem difícil e muito técnica devido principalmente à altimetria. A largada já começa numa subida sobre uma ponte com cerca de 3 km. Ainda tem mais uma subida pesada em outra ponte no km 25 com muito vento e do km 37 em diante (nas redondezas e dentro do Central Park), o sobe-e-desce é intenso e pesado até o fim", conta o corredor, que largou na prova com mais dois amigos, Octávio Cintra e Paulo Arruda, que tinham estratégias parecidas. Ou seja, tentar o recorde pessoal e finalizar a prova abaixo de 2h50.
"Do início até o km 25 perdi contato com eles por duas vezes, mas nunca fiquei mais do que 50 metros atrás. Tentei me manter um ritmo estável para não 'quebrar' antes da hora." Na Queensboro Bridge, ponte que liga o Queens a Manhattan e que dá acesso à Primeira Avenida, no km 25, Octávio (que fechou os 42 km em 2h58), perdeu o ritmo e ficou mais para trás. A partir daí, Fábio seguiu com Paulo até o final.
"Seguimos sempre juntos, um incentivando o outro. Junto com o incentivo do público, isso foi primordial, pois fomos o tempo todo nos ajudando, principalmente nos últimos 5 km, quando as subidas ficam intensas e o cansaço parece querer não te largar mais", lembra Fábio, que entrou na milha 26 já sabendo que a meta seria alcançada. Os dois cruzaram a linha de chegada juntos e de mãos dadas, comemorando muito o feito pessoal.

EM FAMÍLIA. Sempre haverá um motivo especial para correr Nova York. E se esse motivo puder ser uma celebração em família não há coisa melhor. E é por isso que essa maratona ficará para sempre na memória de Ilka e Fernanda Cordeiro, mãe e filha, de Aracaju.
Acostumada com distâncias até 21 km, a engenheira civil Fernanda Cordeiro, de 25 anos, não pensou duas vezes quando escolheu Nova York para estrear nos 42 km, ainda que muitos diziam não ser uma prova tão fácil para a primeira maratona.
Seguindo os passos da mãe, Ilka, que é maratonista, ela desembarcou na Big Apple com a esperança de viver uma experiência indescritível. "Se depois de correr 42 km eu nunca mais quisesse saber de maratonas, pelo menos já teria feito Nova York." Mas Fernanda confessa que não poderia ter feito escolha melhor e diz ainda hoje escutar o barulho da multidão gritando, a emoção de correr no Central Park cheio e aquele corredor de pessoas ovacionando os participantes.
Mãe e filha largaram juntas, mas cada uma seguiu seu caminho a partir do tiro de canhão. "Cada uma foi no seu ritmo. Ela nunca me espera", brinca Fernanda. "Sou fã incondicional dela. Desde pequena a vejo participando de provas. Poder estar ali com ela foi uma experiência incrível, curtimos tudo juntas, desde os treinos até a prova em si. Desde que me entendo por gente vejo ela levantando às 3h30 da manhã para treinar, sozinha, faça chuva ou faça sol. Quando eu saía para treinar às 5h da manhã e olhava pela janela, ela já estava na rua correndo. Toda vez que eu pensava em desistir, eu lembrava que minha mãe já devia ter corrido pelos menos uns 10 km e eu ainda estava em casa."
Ilka Cordeiro, mãe de Fernanda, tem 46 anos, corre há 32 e participa de provas de triatlo há 20 anos. São nada menos do que 10 ironman no currículo e nove maratonas, sendo quatro só em Nova York. Para completar as seis Majors, só falta Tóquio. E com certeza a volta a Nova York este ano teve um propósito mais do que especial: o de realizar o sonho de estreia da filha nos 42 km exatamente onde começou anos atrás.
"Correr uma maratona é sempre marcante. É um momento muito especial. Cada prova é única e tem um sentido pessoal, diferente em minha vida. Há lições de vida pelo caminho, quando você passa por pessoas com necessidades especiais lutando pra completar a maratona, sendo acompanhadas por voluntários", lembra Ilka, que destaca que uma das coisas que ficará para sempre na sua memória nesta edição é encontrar ao final a filha.
"Existia toda uma expectativa para saber de que forma ela iria encarar a prova e todas as suas dificuldades. Quando ela chegou feliz e me disse que queria correr uma maratona de novo, foi absolutamente maravilhoso. Foi muito bom dividir toda a ansiedade que envolve a preparação, tudo que aprendi durante estes anos de esporte. Dada a largada, foi cada uma por si. Esse espírito competitivo me acompanha. Não tem jeito", brinca Ilka, que terminou a prova com 4h04. Ao final, as duas combinaram de se encontrar na área de reunião familiar, na letra B, de Brasil. Fernanda finalizou a prova meia hora depois.

NY em três décadas diferentes
Psicóloga e coach no esporte, a mineira Vanessa Figueiredo Potrásio, que vive no Rio de Janeiro, de 62 anos, completou sua terceira participação em Nova York. E o mais interessante: em décadas diferentes. Vanessa foi atleta e conquistou vários títulos na carreira, como a Maratona Atlântica Boavista e a Corrida Ponte Rio-Niterói em 1982. Foi a vitória na Maratona Atlântica Boa Vista, no Rio de Janeiro, que a levou pela primeira vez à disputa da Maratona de Nova York, em 1982.
Naquela época, Vanessa lembra que a prova já primava pela excelente organização. "Eram 16 mil corredores. O percurso era o mesmo, percorrendo os cinco bairros de Nova York. A largada era única. A organização era nota mil para os recursos da época. O atendimento e a assistência médica ao atleta durante a prova davam ao corredor a segurança necessária para enfrentar qualquer dificuldade. O público já era enorme, mas se concentrava muito mais na chegada. Já se viam muitos voluntários e familiares participando da torcida", lembra Vanessa, que terminou a prova em 3:00:29.
Anos depois, em 1998, ela voltou a Nova York para sua segunda participação e viu a mesma prova que prima pela organização, mas muito maior, já batendo quase a marca dos 30 mil participantes. "Em 1998, era notório que a tecnologia havia chegado para contribuir e abrir portas para melhores resultados. Os corredores na largada já eram organizados em grupos (por baias). A multidão se dispersava aos poucos. Chamou atenção a passagem pelos bairros ao som das bandas americanas e as crianças presentes na participação, apoiando os maratonistas."
Depois de 33 anos de sua primeira participação, Vanessa, que é competitiva na faixa etária, marcou pela terceira vez presença na prova. A vaga foi conseguida por índice técnico, diretamente com o NYRR. Para ela, mesmo depois de anos, a prova continua tendo uma magia especial. "A cidade é fantástica e este evento traduz a recepção e o cuidado e respeito ao corredor. Caminhar com a medalha após a prova representa o reconhecimento de sua conquista. O espírito americano em relação ao esporte é um diferencial. Parei várias vezes diante de um café ou em um restaurante com a medalha no peito e o gerente me ofereceu um café para conversarmos sobre corrida. É a corrida abrindo as portas da comunicação", conta Vanessa, que não finalizou a prova no tempo previsto, em 3h34, mas com certeza leva para casa uma lembrança muito especial.
"Tive uma queda 12 dias antes da maratona durante o treinamento. Sofri uma distensão muscular na área peitoral e intercostal. Montei uma estratégia de prova considerando esta interferência. Da largada até o km 24 mantive o tempo médio, entre 5 e 5:15 por km. A partir daí, quando tentei aumentar a velocidade, começou a doer a região peitoral. Claro que desistir não estava nos meus planos. Então diminuí a passada e tentei dali para a frente alternar com uma caminhada. O esforço respiratório ficou reduzido e consegui manter o controle até a linha de chegada."
Vanessa terminou a prova em 4h49, mas com a sensação de dever cumprido. "Fui acompanhando pessoas que estavam em dificuldades, incentivei uns, apoiei outros e torci para muitos. A Maratona de Nova York é uma prova múltipla, que dá a chance de você se sentir herói por um dia, porque proporciona chegar ao fim de várias formas. Você sempre vai ter uma chance. A organização se prepara para todas as chegadas, não importa o tempo de finalização."

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