Os brasileiros mais uma vez brilharam na Maratona da Disney, que aconteceu neste domingo (09/01) e encerrou os eventos da Disney Marathon Weekend.
Na sua terceira participação, Vanilson Neves, que já tinha sido duas vezes vice-campeão (em 2017 e 2018) e campeão da Star Wars Half Marathon em 2018, dominou a corrida do começo ao fim e se sagrou pela primeira vez campeão. O brasileiro fechou os 42 km em 2:30:37.
O segundo colocado foi o norte-americano David Gramlich, com 2:40:31, seguido do canadense Mathieu Frechette, com 2:42:24.
Apesar de ser sua primeira vitória nos 42 km em Orlando, Vanilson já tinha tido o gostinho do primeiro lugar no pódio na Disney quando fez o Desafio do Dunga em 2017 e foi campeão dos 5 km e dos 10 km. Na ocasião a meia-maratona foi cancelada por falta de condições climáticas. Depois de repetir a segunda colocação na maratona em 2018, o brasileiro retornou à prova em 2019, mas teve uma infecção alimentar que o tirou da competição.
“Naquela ano, cheguei em Orlando um pouco antes e uma semana antes da prova fui ‘bater’ no hospital. Fui internado e fiquei muito mal. Foram 4 dias bem intensos, no primeiro fiquei na UTI. Depois que saí, não tinha cabeça mais para nada. Voltei ao Brasil antes mesmo de acontecer a corrida”, conta Vanilson.
Com a pandemia, o atleta focou numa maratona no segundo semestre em 2021. “Fiz a de Barcelona e fui o 24º no geral, com 2:22:54, o que me deu a condição de ficar no top 10 do Brasil. Fiquei em 9º no ranking nacional. Daí decidi meio que de última hora retornar à Maratona da Disney. Emendei um ciclo de maratona no outro. Estava bem preparado e na minha melhor fase atlética. Para dar continuidade à preparação, abdiquei de muitas coisas da minha vida pessoal porque o objetivo era tentar me manter dentro do pódio.”
Mesmo com o excelente tempo em Barcelona, que dava condições de brigar pelo título inédito na Disney, Vanilson preferiu não pensar nisso. “Pensar em favoritismo exige muita responsabilidade e não queria levantar essa bandeira. Mas, quando deu a largada, fiz minha corrida. Isso me ajudou a manter o foco”, explica o atleta, que liderou a prova do começo ao fim e até conseguiu administrar um pouco mais na segunda parte até cruzar a linha de chegada como campeão.
“O início da prova foi um pouquinho mais rápido, dentro do que havia treinado. Já a segunda metade foi mais difícil, porque esse novo percurso engana. Você vai muito para a rodovia, pega muitas alças de viaduto, sai e entra em parque. Essa ondulação e curvas acentuadas cansam muito. Então, na segunda metade, eu administrei a corrida porque o importante era a vitória. Já estava com uma vantagem de 1,5 milha ou mais à frente do segundo colocado.”
Para o brasileiro, a vitória este ano significou muito mais do que apenas um título. “Foi emocionante. Cada edição tem sua história e seu significado. E essa tem um significado diferente porque 2019 foi uma edição muito difícil para mim. Eu me vi numa situação bem complicada. Hospital não é uma coisa boa. Foi uma prova de superação”, comemora Vanilson, que, por conta dos protocolos de saúde, teve que se contentar em voltar para a casa sem o troféu do Mickey, uma vez que a Disney cancelou a premiação.
“Fui assistir à meia no sábado e percebi que não teve premiação. Ninguém estava sabendo de nada. Fui perguntar e confirmaram que não haveria este ano para não gerar aglomerações. Eles vão enviar o troféu para casa. Fiquei triste de não ter recebido na hora, mas não depende da gente. E o importante foi a vitória.”
GIOVANNA EM SEGUNDO. Na prova feminina, Giovanna Martins, que venceu a Disney em 2015, 2017, 2018, 2019 e 2020, ficou na segunda colocação, com o tempo de 2:48:16. A campeã foi a norte-americana Brittany Charboneau, com 2:45:15, que havia vencido a meia no dia anterior. Na terceira posição, ficou a também norte-americana Megan Curham, que chegou a dominar boa parte da prova, mas perdeu o ritmo e acabou sendo ultrapassada.
Giovanna assumiu a vice-liderança logo no início da prova, mas perdeu a posição na passagem da meia-maratona, caindo para terceiro. Ela ganhou de novo a segunda posição no km 38 e cruzou a linha de chegada em segundo lugar, conseguindo assim cumprir sua promessa de ganhar um Mickey para a amiga Cris Leonardo, que mora em Orlando e que tanto a ajudou nessa trajetória da Disney.
“Ela e todo mundo que me apoiou mereciam um Mickey de primeiro lugar, mas cada prova é uma prova e eu vivi muitos problemas na véspera, como problemas de saúde com familiares, meu cachorro quase morreu e depois, na entrada aqui nos EUA, o Marcão (marido e técnico) foi chamado na salinha. Deu um susto porque nunca tinha passado por isso. Foi muita coisa. Só quero agradecer por ter força e cabeça para correr, porque todo mundo sabe a dor que é correr uma maratona”, conta Giovanna, que ainda precisou administrar os efeitos de uma terceira dose da vacina contra o COVID tomada às vésperas da prova.
“Meu braço ficou inchado e estava com uma dor de cabeça já havia dias e que não passava. Larguei na prova com uma leve dor de cabeça e não foi fácil. Quando fazia um pouco mais de força, a dor vinha mais forte. Resolvi segurar um pouco no ritmo”, explica Giovanna, que gostou do resultado, até porque está migrando para ultramaratona e provas de trilhas.
“Essa preparação para a Disney foi uma das mais curtas que fiz. Foram menos de 3 meses para chegar até aqui. Estou numa transição para ultramaratona e já não tenho tanta velocidade, mas essa prova de hoje mostrou que a preparação que venho fazendo para as longas está boa. É difícil uma ultramaratonista fazer uma maratona abaixo de 2h50. Fiquei feliz com o resultado.”
A atleta lembra ainda que a primeira e a segunda colocadas têm marcas melhores que ela. “A menina que ganhou fez 1h15 na Disney Wine & Dine (meia-maratona). Sabia que as duas eram muito fortes. Quando a terceira colocada saiu liderando a prova eu imaginei que pelo clima e pelo ritmo que ela saiu poderia quebrar depois dos 30 km. No km 21, a menina que foi a primeira colocada, e que estava em terceiro naquele momento, encostou em mim. Fui junto, mas ela aumentou mais o ritmo. Eu me mantive ali. Depois dos 30 km meu corpo começo a fluir e foi quando resolvi buscar novamente a segunda colocação. Fui tirando a diferença em cada milha e no km 38 já estava em segundo”, comemora a atleta, que destaca a comemoração no final, com os brasileiros que ali estavam, inclusive seu esposo, torcendo e gritando. “Eles achavam que eu estava em terceiro. Na hora que eu apareci, eles comemoraram muito.”
MENOS BRASILEIROS NA DISNEY
Depois de um ano sem ser realizada por causa da pandemia, a Disney Marathon Weekend, que sempre reuniu grande número de estrangeiros, principalmente canadenses e brasileiros, retornou este ano com bom número de participantes, porém mais reduzido de corredores internacionais.
A maratona teve 11.317 concluintes (6.034 mulheres e 5.283 homens), com 74 brasileiros na prova (fora os que moram nos EUA, número que não é possível computar porque na classificação consta apenas o endereço atual).
Já a meia-maratona, realizada no sábado, teve 12.699 concluintes (7.344 homens e 5.355 mulheres) e 80 brasileiros. Nos 10 km (na sexta), foram mais 10.513 concluintes (com 6.217 mulheres e 4.296 homens), com 78 brasileiros. A organização não divulgou o resultado dos 5 km.
A brasileira Camila Spinelli mora em Windermere, na Flórida, e, mesmo saindo de uma lesão (ela foi a Boston e não terminou a prova), aproveitou a proximidade para correr a Maratona da Disney. “Não sabia se ia correr até a hora do despertador tocar. Estava super indecisa, fora a insegurança que eu estava por não ter terminado a Maratona de Boston. No final, decidi ir sem ter noção de qual seria meu pace, até porque meu maior longo foram 10 milhas devagar”, conta Camila, que, mesmo correndo bem acima do seu melhor, conseguiu de quebra ainda beliscar mais um índice para Boston, com 3:48:03. “O resultado foi uma surpresa para mim. Estou muito feliz.”
A corredora notou a presença de menos estrangeiros na edição e uma feira um pouco mais esvaziada. “A expo estava mais vazia e com menos estandes de produtos. Havia menos estrangeiros este ano”, comenta Camila, que destaca ainda algumas mudanças em relação aos anos anteriores. “A entrada dos participantes estava em outra localização esse ano e tinha menos fila. O percurso teve algumas alterações.
Mas tudo foi super organizado, com muitos voluntários, tendas de ajuda etc. E, no percurso, além gel de carboidrato, Gatorade, bananas, havia os personagens da Disney, música e tudo o que a prova sempre oferece.”
O melhor brasileiro entre os amadores foi o corredor Farnese da Silva (foto acima, com Giovanna e Vanilson), que mora em New Jersey. Ele correu boa parte do percurso com a Giovanna e cruzou a linha de chegada com 2:48:54, resultado que lhe garantiu a primeira colocação na categoria 50-54 anos.
Fotos: Cris Leonardo
Confira os resultados no link https://www.rundisney.com/results/disneyworld-marathon-weekend/2022/