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Quem tem doença respiratória pode praticar atividade física?

Fisioterapia – EvElisE Zaidan e Priscila Frias – evelise.priscila@gmail.com – Fevereiro de 2009

 

Muitas pessoas que desejam praticar atividade física tem dúvidas em relação às doenças respiratórias. Será que um indivíduo portador de bronquite ou asma pode realizar algum tipo de exercício físico? A atividade física pode melhorar o quadro da doença ou acaba prejudicando?

Primeiramente é importante entender o funcionamento do sistema respiratório. Quando inspiramos, o ar chega até os pulmões através de uma passagem de formato tubular chamada traquéia, que se divide e se ramifica formando os brônquios, que por sua vez terminam nos alvéolos. O ar que entra, através da inspiração, possui, entre outros elementos, o oxigênio, e nos alvélos, acontece a troca gasosa, isto é, o oxigênio (02)entra na corrente sanguínea e o alvéolo recebe o gás carbônico (CO2), que será eliminado pelo trajeto inverso.

A bronquite crônica é uma doença alérgica das vias respiratórias. Quando o indivíduo portador desta doença é exposto a algum fator desencadeante, os brônquios inflamam, se estreitam (broncoespasmo) e aumentam a produção de muco (catarro), obstruindo temporariamente esta passagem de ar e dificultando sua saída. O ar cheio de gás carbônico fica estagnado dentro dos pulmões, impedindo a entrada de ar com oxigênio, dificultando a respiração. Dependendo do caso, a bronquite pode se manifestar de forma branda até a forma mais grave caracterizando a asma. Estas doenças, por obstruírem a passagem de ar, mais precisamente, a saída de oxigênio, são classificadas como Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (DPOC).

As crises de asma, por exemplo,  podem ser desencadeadas por diversos fatores, entre eles infecções virais, poeira domiciliar, mofos, cheiros fortes, umidade, emoções e mudanças de temperatura. A respiração difícil, tosse persistente e intensa, dor no peito, febre, chiado no peito e sensação de angústia por falta de ar são as principais características. A crise pode piorar com a ansiedade; então durante esta situação, é importante manter a calma.

Geralmente o inverno é a estação do ano mais propícia para o desenvolvimento da doença, embora ela possa se manifestar também no verão, especialmente em dias quentes e secos.

A asma tem um caráter hereditário, não tem cura, mas pode ser perfeitamente controlada com o tratamento correto, proporcionando ao indivíduo uma vida normal, até mesmo a prática de atividade física, inclusive competitiva. Sendo assim, indivíduos que praticam atividade física orientada regularmente não curam a doença, mas ficam mais resistentes às crises, podendo levar uma vida normal.

Exercícios fisioterapêuticos

Entre os diversos tipos de tratamento destas doenças respiratórias estão os exercícios fisioterapêuticos, que tem como objetivo  facilitar a expectoração do muco e melhorar a condição e padrão respiratórios. Esses exercícios promovem uma respiração mais eficiente, e assim um melhor aproveitamento da capacidade respiratória dando ênfase na expiração, pois a saída de ar é comprometida com a obstrução dos brônquios.

Durante as crises, a angústia respiratória do indivíduo faz com que ele recrute a musculatura do pescoço e peitorais para auxiliar na respiração, causando também alterações posturais. O uso desta musculatura, conhecida como musculatura acessória da respiração, também pode ser observado em indivíduos portadores de DPOC há longo tempo sem tratamento adecuado.

A prática de atividade física é vista com uma certa cautela por alguns profissionais da saúde, porém quando bem orientada é benéfica aos portadores da doença, uma vez que esses exercícios ajudam a correção postural, a melhora da mecânica respiratória e a eficácia da ventilação pulmonar, facilitando a passagem do ar, mantendo todo o aparelho respiratório em bom estado e fazendo com que o indivíduo crie melhor resitência, fonecendo-lhe reservas para suportar as crises.

Além destes benefícios, existem outras vantagens da prática de atividade física regular pelo indivíduo portador de asma:

  1. Melhora da condição física e da própria tolerância ao exercício;
  2. Redução da freqüência e gravidade das crises de broncoespasmo, causadas pelo esforço;
  3. As crises asmáticas se tornam menos freqüentes;
  4. Auxilia na diminuição do nervosismo causado pelas crises.

Mas existem “casos e casos”, e portanto deve-se levar em consideração a gravidade da doença, a freqüência das crises, tipo de atividade física, e o mais importante, o tratamento médico adequado.

A piora do condicionamento físico do indivíduo portador de doenças respiratórias não se deve à gravidade da doença, mas sim à inatividade, pois existem atletas de elite que são portadores de asma, como o judoca Aurélio Miguel e o meio fundista Joaquim Cruz. Vale salientar o número de portadores de asma que participaram dos Jogos Olímpicos. Em Seul, 1988, a delegação dos Estados Unidos levou 11,2% com asma, entre 597 atletas, para disputar os jogos. Em Atlanta, 1996, foram 699 atletas, dos quais 107 eram portadores de asma, ou seja, 15,3% do total. Esses dados indicam a real possibilidade da prática de atividades físicas por pessoas asmáticas. É importante ressaltar que vários atletas portadores da doença obtiveram medalhas, o que reforça cada vez mais a possibilidade da prática esportiva.

 

Broncoespasmo induzido 

Um dos agravantes, e fator preocupante para praticantes de atividade física e portadores de doenças respiratórias, é o Broncoespasmo Induzido pelo Exercício (BIE), caracterizado por tosse excessiva e chiado no peito intenso com dificuldade na respiração. O BIE normalmente se manifesta alguns minutos após o esforço, ou mesmo durante o exercício, dependendo da intensidade da atividade física. Geralmente desaparece espontaneamente após 20 a 40 minutos. Pode ser prevenido com o uso de medicamentos e aquecimento antes de iniciar a atividade física.

O BIE não torna a asma mais grave; este processo é conseqüência de um aumento da perda de calor e água pelas vias respiratórias, frio e baixa umidade do ar inspirado. Em pessoas sadias, o exercício físico estimula a dilatação dos brônquios. Por outro lado, em indivíduos asmáticos, principalmente por efeito irritativo do ar frio, os brônquios se estreitam, causando a obstrução da passagem de ar, apresentando um quadro de dificuldade respiratória.

A atividade física é responsável por mais de 60% das crises asmáticas em adultos. Em crianças, este índice aumenta para 80%. Esta situação é preocupante para atletas, principalmente em dias de competição, portanto toda a equipe deve protegê-lo de fatores desencadeantes da crise. Durante as crises, nenhuma atividade física deve ser praticada e como a passagem do ar torna-se difícil, deve-se primeiro sair desse estado.

Alguns medicamentos previnem a asma induzida por esforço, mas estes devem ser prescritos somente por médicos. As adaptações no programa de atividades físicas também evitam estas crises ou fazem com que elas aconteçam com menor gravidade.

 

Prevenções importantes

Quando a pessoa apresenta um bom nível de condicionamento cardiopulmonar tende a diminuir as crises de broncoespasmo durante os exercícios. Esta condição também pode ser prevenida com um adequado programa de exercício físico supervisionado:

  1. Praticar os exercícios em condições ambientais adequadas. A umidade do ambiente deve ser entre 60 e 70% e a temperatura entre 24 e 30ºC;
  2. Monitorar o meio ambiente, evitando agentes alérgicos, como a poeira ou a fumaça;
  3. Dê preferência a ambientes cobertos;
  4. Praticar o tipo adequado de atividade física, de acordo com o condicionamento físico;
  5. Controlar a duração dos exercícios;
  6. A intensidade do exercício deve ser apropriada à gravidade da doença respiratória;
  7. A respiração sempre que possível deverá ser nasal;
  8. Não iniciar atividades físicas quando estiver em crise;
  9. Usar os medicamentos prescritos pelo médico a fim de previnir broncoespasmo induzido por exercício;
  10.  Fazer aquecimento adequado e prolongado antes de iniciar as atividades físicas;
  11.  Interromper o exercício caso apareça chiado ou fadiga intensa;
  12.  Períodos de relaxamento e recuperação pós-exercício;
  13.  Realizar os exercícios respiratórios prescritos pelo fisioterapeuta e usar os remédio indicados pelo médico.

Quando uma pessoa sadia é iniciante na prática da atividade física, ela apresenta grande sensação de fadiga. Em indivíduos asmáticos iniciantes, esta sensação de fadiga é ainda mais intensa. Portanto, a adaptação de um portador de asma à atividade física deve ser lentamente progressiva, para que o indivíduo possa diferenciar a sensação normal de fadiga do esforço físico das crises de broncoespasmo causadas pela doença.

Tipos de exercício

De acordo com a Academia Americana de Alergia, Asma e Imunología (American Academy of Allergy, Asthma, and Immunology AAAAI), o esporte mais recomendado para pessoas portadoras de asma é a natação, devido ao ambiente úmido, tonificação dos músculos superiores e a posição horizontal do atleta que permite liberar o muco presente nas porções mais inferiores de pulmão. Um programa de condicionamento aeróbico em meio aquático climatizado pode ser considerado um fator importante na prevenção das crises de broncoespasmo induzidas pelo esforço. Podendo também ser uma alternativa para desenvolver um bom condicionamento físico do corredor portador de doença respiratória.

A duração do exercíco deve ser acima de 12 minutos, pois esforços curtos e intensos provocam broncoespasmo. Por outro lado, exercícios de intensidade gradual e acima de 12 minutos causam a broncodilatação (aumento do diâmetro dos brônquios). A maioria das crises asmáticas ocorre depois dos primeiros minutos de exercício; portanto, o aquecimento deve ser suave, progressivo, aeróbico, mas não cansativo, e deve ter maior duração que o aquecimento habitual. Os exercícios devem ser aeróbicos e de media ou baixa intensidade; os exercícios anaeróbicos de alta intensidade devem ser evitados.

Salvo algumas exceções, o indivíduo portador de asma pode praticar qualquer tipo de atividade física, mas sabe-se que correr de forma intensa e continuada provoca um maior broncoespasmo quando comparado a exercícios realizados de forma intermitente.  Por outro lado, esportes como a natação, caminhada, bicicleta em terrenos planos são menos causadores de broncoespasmo. Esportes no alto de montanhas, como alpinismo e esqui tem como característica a presença de ar frio e seco, induzindo desta forma as crises.

Exercícios mais suscetíveis a desencadear crise de asma Exercícios menos suscetíveis a desencadear crise de asma
Corrida de meio fundo (800 e 1500 m) Tenis
Corrida de fundo (maratonas) Esportes de luta (boxe, karatê)
Ciclismo Volei
Futebol Golfe
Basquete Natação
Rugby Beisebol

Lembre-se: é possível sim praticar corrida sendo portador de doença respiratória. As corridas de fundo e meio fundo não são contra-indicadas para portadores de donças pulmonares, mesmo sendo consideradas suscetíveis a desencadear as crises. Para praticá-las o alteta deve ser bem orientado e conhecer a doença e seus sintomas para que possa identificar as crises. Deve sempre informar o seu médico sobre a prática de atividade física, bem como suas características, como o tipo, o tempo, a intensidade, o ambiente em que ela é praticada, se há poeira, clima muito seco etc. Se você sentir algum desconforto, tosse excessiva, dor e chiado no peito intensos, deve interromper o exercício, avisar o treinador, manter a calma e seguir as orientações médicas. Dê ênfase à expiração, solte o ar lentamente e não force a inspiração!

Realizar um aquecimento adequado, aumentar a intensidade dos exercícios progressivamente, respeitar seus limites, sua condição física e gravidade da doença, realizar tratamento médico e fisioterapêutico adequados e seguir as orientações de um profissional de educação física são quesitos essenciais para que a corrida seja praticada de forma segura, o que só trará benefícios para a sua saúde!

 

EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS

Alongamento da musculatura acessória da respiração

Foto 1 – Sente-se corretamente em uma cadeira observando sua postura. Incline e rode levemente a cabeça levando a orelha em direção ao ombro, com o auxílio da mão apoiada na cabeça. Essa rotação é importante para evitar danos articulares nas vértebras cervicais. Mantenha-se nesta posição por 20 segundos e repita para o lado oposto.

Foto 2 – Sente-se corretamente em uma cadeira, rode lateralmente a cabeça com o cuidado de não olhar para baixo nem para cima; mantenha-se nesta posição por 20 segundos e repita para o lado oposto.

Foto 3 – Sente-se corretamente em uma cadeira, entrelace os dedos, coloque suas mão sobre a cabeça, acima da nuca, relaxe os braços e deixe seu peso levar a cabeça para baixo. Cuidado para não curvar as costas, mantendo a coluna ereta. Mantenha-se nesta posição por 20 segundos e retorne à posição inicial lentamente.

Foto 4 – Sente-se corretamente em uma cadeira, olhe para cima levando a cabeça para trás e mantendo a boca fechada. Mantenha-se nesta posição por 20 segundos e retorne à posição inicial lentamente.

 

Alongamento do músculo peitoral

Foto 5A – Em pé, eleve a mão acima da cabeça e apoie no batente da porta.

Foto 5B – Gire o tronco para o lado oposto do braço que está sendo alongado, para que intensifique o alongamento do peitoral. Respeite o seu limite! Mantenha-se nesta posição por 20 segundos e retorne à posição inicial lentamente.

 

Respiração diafragmática

Foto 6 – Deitado com a coluna bem apoiada no solo, pernas flexionadas e pés apoiados no solo. Coloque uma bolinha de papel na região do umbigo, ao inspirar expanda o abdomem fazendo a bolinha subir; ao expirar deprima o abdomem fazendo a bolinha descer. Desta forma os alvéolos presentes na base do pulmão são recrutados.

 

Exercício de freno labial

Foto 7 – Inspire pelo nariz normalmente e expire pela boca lentamente, fazendo bico. Expire no dobro do tempo que você inspirou.

Foto 8 – Sente-se corretamente em uma cadeira. Eleve os braços paralelos e abertos com os polegares virados para cima, durante a inspiração. Desça os braços lentamente, enquanto expira fazendo o freno labial. Lembre-se que o tempo da expiração deve ser o dobro do tempo da inspiração.

 

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