Toronto é uma cidade cosmopolita e multicultural, capital econômica do Canadá e ponto de encontro de pessoas de todo mundo, em especial os chineses que compõem pelo menos 20% da população local. A existência de diversos bairros temáticos, como Chinatown (são quatro na cidade), Greektown, Corso Italia e Little Italy (onde existem mais portugueses do que italianos) dão a devida dimensão dessa mistura de pessoas de todo o mundo. Apesar disso, a prova, por não ser muito conhecida, conta com poucos participantes de outras partes do mundo. E mesmo entre os canadenses não havia muita divulgação. Só vi alguns cartazes anunciando a prova no metrô.
A retirada do kit foi realizada em uma feirinha de esportes que se resumia a alguns expositores, denotando as pequenas dimensões do evento, que contou com 4.192 concluintes na meia e apenas 1.618 na maratona. Como esperado, poucas filas e muita organização.
O maior desafio para um brasileiro acostumado com o calor dos trópicos era mesmo o frio de outono do Canadá, muito pior do que o mais rigoroso inverno paulistano. Para piorar, o outubro deste ano foi um dos mais frios da história, tendo nevado em Toronto alguns dias antes da prova. Não por acaso, quando cheguei na largada havia pouca gente lá. Ao mesmo tempo, via várias pessoas se deslocando para outro local. Acabei descobrindo que todos estavam entrando em um pequeno shopping center próximo à largada, onde, no quentinho da calefação, se dedicavam a seus últimos preparativos.
Solzinho e 4 graus. Curiosamente, a largada da meia ocorreu 30 minutos antes da maratona. Além disso, os maratonistas partiriam em sentido contrário, para dar uma volta de uns 15 km em um megaquarteirão, para só então adentrarem no mesmo sentido percorrido pelos meio-maratonistas. Dessa forma, os maratonistas mais rápidos só encontraram os últimos meio-maratonistas na chegada, não existindo problemas de superlotação da prova. Partindo do norte de Toronto, descemos até chegarmos no centro da cidade, em um percurso em boa parte plano, com algumas poucas subidas (a mais destacada no km 3 da meia ou 18 da maratona) e várias descidas, muito agradável para se correr e que contou com a ajuda providencial de um solzinho para amenizar a temperatura de 4ºC.
Bem organizada, a prova teve farta distribuição de água e Gatorade a cada 2,5 km, além de gel de carboidrato em alguns dos postos e o apoio popular, que se atreveu a sair às ruas em uma manhã de domingo gelada para dar o seu incentivo aos corredores. Após entrar em uma avenida que corta um parque, passei a imprimir um ritmo mais forte, já que me sentia bem, após uns 11 km. Para mim foi a melhor parte da prova, inclusive porque lá encontramos a primeira banda – eram duas, além de um carro de som; um grande prazer correr ouvindo Beatles, sem dúvida. Em compensação, por volta do km 17 enfrentei a pior parte da corrida: um trecho que passava debaixo de uma grande avenida expressa, onde o sol fora trocado pela sombra do monstro de concreto e onde se formou uma forte corrente de vento a me congelar por inteiro. Nessa altura do campeonato, o cansaço acumulado da viagem e da corrida da semana anterior também começou a aparecer, fazendo com que eu me arrastasse penosamente.
A chegada no Queen's Park, uma praça enorme, defronte à Universidade de Toronto e ladeada por enormes e belas construções revezando-se com belos edifícios comerciais de alto padrão, ajudou um pouco a amenizar o sofrimento. Havia bastante nesse trecho final e, quando vi em uma faixa escrito "almost there" (quase lá), reuni as últimas forças que me restavam e completei a prova sprintando e fazendo pose, com um tempo surpreendente – para mim – de 1:55:22, minha segunda melhor marca na distância.
A bela medalha recebida, os diversos serviços pós-prova (que não aproveitei por estar procurando a minha namorada na chegada) e o ótimo clima de amizade entre os atletas durante a corrida – conversei mais do que nas provas no Brasil! – aliados à já descrita excelente organização, à tranqüilidade do percurso, e ao fato de não ser uma prova muito cheia, dando condições para corrermos em nosso próprio ritmo, sem atropelos, fizeram-me ter a certeza de que essa foi, sem dúvida, a melhor corrida de que participei.